O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão | Estudos Espíritas

Índice | Página inicial | Continuar

ESDE — Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita — Programa Complementar

Módulo V — Da Prática Mediúnica

Roteiro 4


Animismo


Objetivo Geral: Dar condições de entendimento da prática mediúnica.

Objetivos Específicos: Conceituar animismo. — Explicar o mecanismo básico do animismo. — Estabelecer a diferença entre o animismo e mistificação dentro do contexto Espírita.



CONTEÚDO BÁSICO


  • As comunicações escritas ou verbais também podem emanar do próprio Espírito encarnado no médium?

    A alma do médium pode comunicar se, como a de qualquer outro. Se goza de certo grau de liberdade, recobra suas qualidades de Espírito. Allan Kardec: O Livro dos Médiuns. Capítulo XIX, item 223, segunda pergunta.

  • Não parece que esta explicação confirma a opinião dos que entendem que todas as comunicações provêm do Espírito do médium e não de Espírito estranho?

    Os que assim pensam só erram em darem caráter absoluto à opinião que sustentam […]. Isso, porém, não é razão para que outros não atuem igualmente, por seu intermédio. Allan Kardec: O Livro dos Médiuns. Capítulo XIX, item 223, segunda pergunta, letra a.

  • Como distinguir se o Espírito que responde é o do médium, ou outro?

    Pela natureza das comunicações […]. No estado de sonambulismo, ou de êxtase, é que, principalmente, o Espírito do médium se manifesta, porque então se encontra mais livre. No estado [de transe] normal é mais difícil. Allan Kardec: O Livro dos Médiuns. Capítulo XIX, item 223, terceira pergunta.

  • Muitos companheiros matriculados no serviço de implantação da Nova Era, sob a égide do Espiritismo, vêm convertendo a teoria animista num travão injustificável a lhes congelarem preciosas oportunidades de realização do bem; portanto, não nos cabe adotar como justas as palavras “mistificação inconsciente ou subconsciente” para batizar o fenômeno. André Luiz: Nos Domínios da Mediunidade. Capítulo 22, p. 247.




SUGESTÕES DIDÁTICAS


Introdução:

  • Apresentar o tema e os objetivos da aula.

  • A seguir, escrever no alto do quadro — uma ao lado da outra — as palavras ANIMISMO E MISTIFICAÇÃO.

  • Pedir, então, aos alunos que externem o que sabem, ou o que já ouviram falar a respeito de animismo e de mistificação dentro do contexto espírita.

  • Registrar no quadro as respostas, à medida que forem sendo emitidas.

  • Tecer comentários breves sobre o assunto, tendo como ponto de partida as mais importantes ideias registradas.


Desenvolvimento:

  • Pedir aos participantes que, individual e silenciosamente, leiam os Subsídios, destacando os pontos considerados relevantes.

  • Dividir a turma em três grupos orientando-os na realização das seguintes tarefas:

    a) Grupo 1 — leitura, troca de ideias e resumo do item 1 dos Subsídios (Conceito de animismo);

    b) Grupo 2 — leitura, troca de ideias e resumo do item 2 dos Subsídios (Mecanismo básico do animismo);

    c) Grupo 3 — leitura, troca de ideias e resumo do item 3 dos Subsídios (Animismo e mistificação).

  • Concluídas as tarefas, solicitar aos grupos que indiquem um relator para apresentar, em plenária, as conclusões do trabalho.

  • Ouvir os relatos, realizando comentários pertinentes.


Conclusão:


Avaliação:

  • O estudo será considerado satisfatório, se os participantes elaborarem corretamente os resumos solicitados no trabalho em grupo.


Técnica(s):

  • Explosão de ideias; leitura; trabalho em grupo; exposição.


Recurso(s):

  • Subsídios deste roteiro; quadro-de-giz / branco.



 

SUBSÍDIOS


1. Conceito de animismo

Animismo é o […] conjunto dos fenômenos psíquicos produzidos com a cooperação consciente ou inconsciente dos médiuns em ação. (7)

Allan Kardec observa que há comunicações escritas ou verbais que podem emanar do próprio Espírito encarnado, uma vez que a […] alma do médium pode comunicar se, como a de qualquer outro. Se goza de certo grau de liberdade, recobra suas qualidades de Espírito. (1) Neste aspecto, se o médium traz consigo uma bagagem de conhecimentos, adquirida em existências pretéritas, poderá retirar das profundezas da sua memória integral ideias que estão fora do alcance da sua atual instrução. Isso acontece — pondera um Espírito Superior a Kardec — frequentemente, no estado de crise sonambúlica, ou extática, porém, ainda uma vez repito, há circunstâncias que não permitem dúvida. Estuda longamente e medita. (2)

É importante considerar que toda comunicação mediúnica tem o seu componente anímico, uma vez que o médium age, necessariamente, como um intérprete das mensagens dos Espíritos, ainda que não se dê conta desse fato. (3) A influência dos médiuns nas comunicações é observada, sobretudo, quando transmitem ideias de Espíritos com os quais não guardam afinidade (fluídica, moral, intelectual), podendo […] alterar-lhes as respostas e assimilá-las às suas próprias ideias e a seus pendores; não influencia, porém, os próprios Espíritos, autores das respostas; constitui-se apenas em mau intérprete. (4) Essa é a causa da preferência dos Espíritos por certos médiuns: Os Espíritos procuram o intérprete que mais simpatize com eles e que lhes exprima com mais exatidão os pensamentos. Não havendo entre eles simpatia, o Espírita do médium é um antagonista que oferece certa resistência e se torna um intérprete de má qualidade e muitas vezes infiel. É o que se dá entre vós, quando a opinião de um sábio é transmitida por intermédio de um estonteado, ou de uma pessoa de má-fé. (5)

Reconhece-se, então, que o animismo é algo perfeitamente normal, pois o médium ao interpretar as ideias de um Espírito comunicante, imprime características próprias, mesmo em se tratando dos chamados médiuns mecânicos. Dessa forma, é passivo, quando não mistura suas próprias ideias com as do Espírito que se comunica, mas nunca é inteiramente nulo. Seu concurso é sempre indispensável, como o de um intermediário […]. (6)


2. Mecanismo básico do animismo

O animismo produz […] muitas ocorrências que podem repontar-nos fenômenos mediúnicos de efeitos físicos ou de efeitos intelectuais, com a própria inteligência encamada comandando manifestações ou delas participando com diligência, numa demonstração que o corpo espiritual pode efetivamente desdobrar se e atuar com os seus recursos e implementos característicos, como consciência pensante e organizadora, fora do carro físico. A verificação de semelhantes acontecimentos criou entre os opositores da Doutrina Espírita as teorias da negação, porquanto, admitida a possibilidade de o próprio Espírito encamado poder atuar fora do traje fisiológico, apressaram-se os cépticos inveterados a afirmar que todos os sucessos medianímicos se reduzem à influência de uma força nervosa que efetua, fora do corpo carnal, determinadas ações mecânicas e plásticas, configurando, ainda, alucinações de variada espécie. Todavia, os estardalhaços e pavores levantados por esses argumentos indébitos, arredando para longe o otimismo e a esperança de tantas criaturas que começam confiantemente a iniciação nos serviços da mediunidade, não apresentam qualquer significado substancial, porque é forçoso ponderar que os Espíritos desencarnados e encarnados não se filiam a raças antagônicas que se devam reencontrar em condições miraculosas. (7)

Acreditamos que o mecanismo básico do animismo pode ser entendido com a explicação que o Espírito André Luiz dá sobre mediunidade de psicofonia, usualmente conhecida como “incorporação”. O relato que se segue traz elucidações sobre a psicofonia e a influência anímica da médium Otávia, de Dionísio, Espírito desencarnado, recolhido numa das organizações socorristas do plano espiritual. André Luiz assim se expressa: Otávia foi cuidadosamente afastada do veículo físico, em sentido parcial, aproximando-se Dionísio, que também parcialmente começou a utilizar se das possibilidades dela. Otávia mantinha-se a reduzida distância, mas com poderes para retomar o corpo a qualquer momento num impulso próprio, guardando relativa consciência do que estava ocorrendo, enquanto que Dionísio conseguia falar, de si mesmo, mobilizando, no entanto, potências que lhe não pertenciam e que deveria usar, cuidadosamente, sob o controle direto da proprietária legítima e com a vigilância afetuosa de amigos e benfeitores, que lhe fiscalizavam a expressão com o olhar, de modo a mantê-lo em boa posição de equilíbrio emotivo. Reconheci que o processo de incorporação comum era mais ou menos idêntico ao da enxertia da árvore frutífera. A planta estranha revela suas características e oferece seus frutos particulares, mas a árvore enxertada não perde sua personalidade e prossegue operando em sua vitalidade própria. Ali também, Dionísio era um elemento que aderia às faculdades de Otávia, utilizando-as na produção de valores espirituais que lhe eram característicos, mas naturalmente subordinado à médium, sem cujo crescimento mental, fortaleza e receptividade, não poderia o comunicante revelar os caracteres de si mesmo, perante os assistentes. Por isso mesmo, logicamente, não era possível isolar, por completo, a influenciação de Otávia, vigilante. A casa física era seu templo, que urgia defender contra qualquer expressão desequilibrante, e nenhum de nós, os desencarnados presentes, tinha o direito de exigir-lhe maior afastamento, porquanto lhe competia guardar as suas potências fisiológicas e preservá-las contra o mal, perto de nós outros, ou à distância de nossa assistência afetiva. (9)


3. Animismo e mistificação

Alguns estudiosos do Espiritismo, devotados e honestos, reconhecendo os escolhos do campo do mediunismo, criaram a hipótese do fantasma anímico do próprio medianeiro, o qual agiria em lugar das entidades desencarnadas. (12) Desconhecendo o mecanismo básico das comunicações mediúnicas e a ação anímica exercida pelos médiuns, muitos […] companheiros matriculados no serviço de implantação da Nova Era, sob a égide do Espiritismo, vêm convertendo a teoria animista num travão injustificável a lhes congelarem preciosas oportunidades de realização do bem; portanto, não nos cabe adotar como justas as palavras “mistificação inconsciente ou subconsciente” para batizar o fenômeno. (11)

Na verdade, precisamos adquirir maior cabedal de conhecimento sobre o animismo e agir com prudência em relação ao assunto, evitando rotular as naturais manifestações anímicas, comuns e necessárias, de mistificação. É impróprio e antifraterno este rótulo, uma vez que “mistificação” caracteriza o ato de alguém mentir, enganar, ludibriar. A propósito, o instrutor Calderaro, citado por André Luiz no livro No Mundo Maior, nos transmite oportunas elucidações: A tese animista é respeitável. Partiu de investigadores conscienciosos e sinceros, e nasceu para coibir os prováveis abusos da imaginação; entretanto, vem sendo usada cruelmente pela maioria dos nossos colaboradores encamados, que fazem dela um órgão inquisitorial, quando deveriam aproveitá-la como elemento educativo, na ação fraterna. Milhares de companheiros fogem ao trabalho, amedrontados, recuam ante os percalços da iniciação mediúnica, porque o animismo se converteu em Cérbero [segundo a mitologia grega cão guardião das portas do inferno, que impedia a saída dos Espíritos]. Afirmações sérias e edificantes, tornadas em opressivo sistema, impedem a passagem dos candidatos ao serviço pela gradação natural do aprendizado e da aplicação. Reclama-se deles precisão absoluta, olvidando-se lições elementares da natureza. Recolhidos ao castelo teórico, inúmeros amigos nossos, em se reunindo para o elevado serviço de intercâmbio com a nossa esfera, não aceitam comumente os servidores, que hão de crescer e de aperfeiçoar se com o tempo e com o esforço. Exigem meros aparelhos de comunicação, como se a luz espiritual se transmitisse da mesma sorte que a luz elétrica por uma lâmpada vulgar. Nenhuma árvore nasce produzindo, e qualquer faculdade nobre requer burilamento. (13)

Prosseguindo em seus arrazoados, Calderaro pondera: Ninguém receberá as bênçãos da colheita, sem o suor da sementeira. Lamentavelmente, porém, a maior parte de nossos amigos parece desconhecerem tais imposições de trabalho e de cooperação: exigem faculdades completas. O instrumento mediúnico é automaticamente desclassificado se não tem a felicidade de exibir absoluta harmonia com os desencarnados, no campo tríplice das forças mentais, perispirituais e fisiológicas. (14)

Em se tratando de animismo nunca é demais recordar que, […] em matéria de mediunismo, há tipos idênticos de faculdades, mas enorme desigualdade nos graus de capacidade receptiva, os quais variam infinitamente, como as pessoas. (15)


4. Animismo e perturbação espiritual

Um ponto que merece ser considerado, em relação às manifestações anímicas, diz respeito às vinculações com processos de perturbação espiritual, alguns de difícil solução. Muitas vezes, conforme as circunstâncias, […] pode cair a mente nos estados anômalos de sentido inferior, dominada por forças retrógradas que a imobilizam, temporariamente, em atitudes estranhas ou indesejáveis. Neste aspecto, surpreendemos multiformes processos de obsessão, nos quais Inteligências desencarnadas de grande poder senhoreiam vítimas inabilitadas à defensiva, detendo-as, por tempo indeterminado, em certos tipo de recordação, segundo as dívidas cármicas a que se acham presas. Frequentemente, pessoas encamadas, nessa modalidade de provação regeneradora, são encontráveis nas reuniões mediúnicas, mergulhadas nos mais complexos estados emotivos, quais se personificassem entidades outras, quando, na realidade, exprimem a si mesmas, a emergirem da subconsciência nos trajes mentais em que se externavam noutras épocas, sob o fascínio constante dos desencarnados que as subjugam. (8)

Nesta situação, o animismo se manifesta descontrolado. O assunto está muito bem estudado no livro Nos Domínios da Mediunidade, de autoria do Espírito André Luiz, capítulo 22 (Emersão do Passado). Diz respeito à história de uma senhora enferma, que busca os serviços de auxílio espiritual numa instituição espírita. Em determinado momento, essa pessoa fala e age como se estivesse sob efeito de transe mediúnico, veiculando a comunicação de um perseguidor espiritual. Entretanto, não há, efetivamente, Espírito comunicante. Não existe, também, o menor vestígio de mistificação, consciente ou inconsciente. Trata-se de alguém, carente de auxílio, que […] imobilizou grande coeficiente de forças do seu mundo emotivo [em torno de uma experiência malsucedida, vivida em reencarnação anterior] […], a ponto de semelhante cristalização mental haver superado o choque biológico do renascimento no corpo físico, prosseguindo quase que intacta. Fixando-se nessa lembrança, quando instada de mais perto pelo companheiro que lhe foi irrefletido algoz, passa a comportar se qual se estivesse ainda no passado que teima em ressuscitar. É então que se dá a conhecer como personalidade diferente, a referir se à vida anterior. […] Sem dúvida, em tais momentos, é alguém que volta do pretérito a comunicar se com o presente, porque ao influxo das recordações penosas de que se vê assaltada, centraliza todos os seus recursos mnemônicos tão somente no ponto nevrálgico em que viciou o pensamento. Para o psiquiatra comum é apenas uma candidata à insulinoterapia ou ao eletrochoque, entretanto, […] é uma enferma espiritual, uma consciência torturada, exigindo amparo moral e cultural para a renovação íntima, única base sólida que lhe assegurará o reajustamento definitivo. (10)



Referências Bibliográficas:

1. KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Tradução de Guillon Ribeiro. 74 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Capítulo XIX, item 223, 2ª pergunta, p. 268-269.

2. Idem - 4ª pergunta, p. 269.

3. Id. - 6ª pergunta, p. 270.

4. Id. - 7ª pergunta, p. 270.

5. Id. - 8ª pergunta, p. 270.

6. Id. - 10ª pergunta, p. 271.

7. XAVIER, Francisco Cândido e VIEIRA, Waldo. Mecanismos da Mediunidade. Pelo Espírito André Luiz. 24. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Capítulo 23 (Animismo), item: Mediunidade e animismo p. 179-180.

8. Idem - Item: Obsessão e animismo, p. 181-182.

9. XAVIER, Francisco Cândido. Missionários da Luz. Pelo Espírito André Luiz. 39. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Capítulo 16 (Incorporação), p. 344-345.

10. Idem - Nos Domínios da Mediunidade. Pelo Espírito André Luiz. 31. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Capítulo 22 (Emersão do Passado), p. 246.

11. Idem, ibidem - p. 247.

12. Idem - No Mundo Maior. Pelo Espírito André Luiz. 24. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Capítulo 9 (Mediunidade), p. 149.

13. Idem, ibidem - p. 150.

14. Idem, ibidem - p. 152.

15. Idem, ibidem - p. 160.


Abrir