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EADE — Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita — Religião à luz do Espiritismo

TOMO II — ENSINOS E PARÁBOLAS DE JESUS — PARTE II
Módulo IV — Aprendendo com as curas

Roteiro 5


Cura de hanseníase


Objetivos: Explicar, à luz do Espiritismo, a cura dos enfermos que possuíam hanseníase.Identificar as lições transmitidas por esta cura.



IDEIAS PRINCIPAIS

  • A cura de leprosos, ou portadores de hanseníase, e de tantas outras doenças, realizadas por Jesus, teve como base a fé do enfermo. O poder da fé se demonstra, de modo direto e especial, na ação magnética; por seu intermédio o homem atua sobre o fluido, agente universal, modifica-lhe as qualidades e lhe dá impulsão por assim dizer irresistível. Daí decorre que aquele que a um grande poder fluídico normal junta ardente fé, pode, só pela força da sua vontade dirigida para o bem, operar esses singulares fenômenos de cura e outros, tidos antigamente por prodígios, mas que não passam de efeito de uma lei natural. Allan Kardec: O Evangelho segundo o Espiritismo, Capítulo 19, item 5.

  • Curando indistintamente os judeus e os samaritanos, dava Jesus, ao mesmo tempo, uma lição e um exemplo de tolerância. A gênese, Capítulo 15, item 17.



 

SUBSÍDIOS


1. Texto evangélico

  • E aproximou-se dele um leproso, que, rogando-lhe e pondo-se de joelhos diante dele, lhe dizia: Se queres, bem podes limpar-me. E Jesus, movido de grande compaixão, estendeu a mão, e tocou-o, e disse-lhe: Quero, sê limpo! E, tendo ele dito isso, logo a lepra desapareceu, e ficou limpo. Marcos, 1.40-42.

    E aconteceu que, indo ele a Jerusalém, passou pelo meio de Samaria e da Galileia; e, entrando numa certa aldeia, saíram-lhe ao encontro dez homens leprosos, os quais pararam de longe. E levantaram a voz, dizendo: Jesus, Mestre, tem misericórdia de nós! E ele, vendo-os, disse-lhes: Ide e mostrai-vos aos sacerdotes. E aconteceu que, indo eles, ficaram limpos. E um deles, vendo que estava são, voltou glorificando a Jesus em alta voz. E caiu aos seus pés, com o rosto em terra, dando-lhe graças; e este era samaritano. E, respondendo Jesus, disse: Não foram dez os limpos? E onde estão os nove? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, senão este estrangeiro? E disse-lhe: Levanta-te e vai; a tua fé te salvou. Lucas, 17.11-19.

Ao concluir o estudo de algumas curas realizadas por Jesus, trazemos à análise uma das doenças mais antigas existentes no mundo: Hanseníase ou mal de Hansen, também denominada lepra, no passado.


A enfermidade tsar’at, traduzida por lepra, é descrita com detalhes em Lv 13, mas a descrição podia, e provavelmente incluía mesmo, outras doenças de pele. […] O próprio termo também é aplicado às vestes e às casas (Lv 14.55) e parece ter sido geralmente empregado para escrever algo que era cerimonialmente impuro. Quando um leproso era “purificado” e assim pronunciado pelo sacerdote, é provável que a condição era autolimitadora, e não aquilo que atualmente chamaríamos de lepra, isto é, uma enfermidade causada por uma bactéria específica. (3)


Em 1873, o médico norueguês Gerhard Henrick Armauer Hansen (1841-1912), identificou a bactéria Mycobacterium leprae como o agente causador da lepra. Tempos depois, a palavra lepra passou a ser substituída por hanseníase ou mal de Hansen, em razão do caráter discriminatório, estigmatizante e preconceituoso que o nome lepra produzia. Nos últimos cem anos ocorreram significativos avanços científicos relativos ao diagnóstico, tratamento e controle da doença. Há, porém, um caminho a ser percorrido para a cura definitiva do tipo mais grave da enfermidade, a virchowiana, conhecido como forma “L”, de “lepromatosa”.

A hanseníase é enfermidade infecciosa crônica que pode ocorrer sob várias formas clínicas, sendo algumas benignas. As principais manifestações clínicas são a forma lepromatosa (HL) — possivelmente a que é citada nos textos evangélicos — e a forma tuberculóide (HT). O primeiro tipo (HL) é mais grave, produz lesões cutâneas e envolvimento dos nervos periféricos. É comum a presença de mutilações, sobretudo na pele e trato respiratório superior. Nesta forma de manifestação clínica, a imunidade é muito reduzida, e a bactéria se multiplica excessivamente, levando a um quadro mais grave, com anestesia dos pés e mãos que favorece os traumatismos e feridas que podem causar deformidades, atrofia muscular, inchaço das pernas e surgimento de lesões elevadas na pele (nódulos). Órgãos internos também são acometidos pela doença.

O segundo tipo (HT) é, usualmente, benigno. As lesões são poucas (ou única), de limites bem definidos e um pouco elevados e com ausência de sensibilidade (dormência). Ocorrem alterações nos nervos próximos à lesão, podendo causar dor, fraqueza e atrofia muscular.

Entre essas duas formas principais, existem: a) hanseníase limiar (HLim) — uma espécie de combinação das formas HL e HT — , também denominada de borderline ou dimorfa: o número de lesões é maior, formando manchas que podem atingir grandes áreas da pele, envolvendo partes da pele sadia. O acometimento dos nervos é mais extenso; b) hanseníase indeterminada, caracterizada pelo menor número de lesões. É a fase inicial da doença que, ou evolui espontaneamente para a cura, na maioria dos casos, ou para as outras formas da doença, em cerca de 25% dos casos. Geralmente, encontra-se apenas uma lesão, de cor mais clara que a pele normal, com diminuição da sensibilidade. É mais comum em crianças.

A hanseníase é doença expiatória que atinge mais de 11 milhões de pessoas em todo o mundo. Surgem, em cada ano, cerca de 700.000 casos novos da doença, no mundo. No entanto, em países desenvolvidos é quase inexistente, por exemplo, a França conta com apenas 250 casos declarados.


2. Interpretação do texto evangélico


2.1 Análise do texto de Marcos: a cura de um leproso (hanseniano)

  • E aproximou-se dele um leproso, que, rogando-lhe e pondo-se de joelhos diante dele, lhe dizia: Se queres, bem podes limpar-me. E Jesus, movido de grande compaixão, estendeu a mão, e tocou-o, e disse-lhe: Quero, sê limpo! E, tendo ele dito isso, logo a lepra desapareceu, e ficou limpo. (Mc 1.40-42).

A expressão “limpar-me” não sugere, exatamente, um processo de cura, ainda que o desaparecimento das lesões tenha sido imediato, após o toque magnético de Jesus.


A limpeza não é cura, mas é condição essencial para que ela se dê. No Plano físico, muitos casos, o médico exige primeiro a assepsia daquele envolvido no tratamento, para só depois iniciar o processo terapêutico propriamente dito. Jesus pôde limpar o leproso das chagas existentes em seu corpo físico, como forma auxiliá-lo na cura, cura essa que, em se tratando do Espírito, só ele mesmo, o enfermo, poderia fazer através do tempo pela vivência no bem. (4)


Neste sentido, informa o Espírito Amélia Rodrigues a origem da hanseníase, cuja história deste doente é relatada por Marcos, no texto que é objeto de estudo, mas também por Mateus, 8.1-4 e por Lucas, 5.12-16.


O leproso de hoje contaminou-se espiritualmente em pretérito próximo. Ontem, soberbo e egoísta, banhou-se nas lágrimas dos oprimidos, abusando do corpo como os ventos bravios nas tamareiras solitárias. Retornou aos caminhos de tormento em si mesmo atormentado, para ressarcir penosamente. O legado que hoje recebeu é de responsabilidade antes que de merecimento. O pai misericordioso não deseja a punição do filho rebelde e ingrato, mas a sua renovação… (5)


Amélia Rodrigues esclarece, também, que o enfermo não soube, efetivamente, aproveitar do benefício da cura, esclarecendo: “A cura mais importante não a experimentou: é aquela que não se restringe à forma, e sim, ao Espírito.” (5)


2.2 Análise do texto de Lucas: a cura de dez leprosos (hansenianos)

  • E aconteceu que, indo ele a Jerusalém, passou pelo meio de Samaria e da Galileia; e, entrando numa certa aldeia, saíram-lhe ao encontro dez homens leprosos, os quais pararam de longe. E levantaram a voz, dizendo: Jesus, Mestre, tem misericórdia de nós! E ele, vendo-os, disse-lhes: Ide e mostrai-vos aos sacerdotes. E aconteceu que, indo eles, ficaram limpos. E um deles, vendo que estava são, voltou glorificando a Jesus em alta voz. E caiu aos seus pés, com o rosto em terra, dando-lhe graças; e este era samaritano. E, respondendo Jesus, disse: Não foram dez os limpos? E onde estão os nove? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, senão este estrangeiro? E disse-lhe: Levanta-te e vai; a tua fé te salvou. (Lc 17.11-19).

Há três pontos diferentes entre este relato e o de Marcos, anteriormente estudado: a) o número de leprosos atendidos é maior, dez invés de um; b) a “limpeza” das lesões não foi por contato magnético direto, mas por irradiação natural das energias superiores do Cristo; c) Jesus deu a instrução de informar a cura aos sacerdotes, que é fato incomum.

Por que razão Jesus instrui os doentes para relatar o acontecimento aos sacerdotes?

A resposta a esta pergunta encontra-se nos versículos dezesseis e dezessete, indicando que um dos doentes era samaritano, por sinal o único que agradeceu a Jesus o benefício recebido: “E um deles, vendo que estava são, voltou glorificando a Deus em alta voz. E caiu aos seus pés, com o rosto em terra, dando-lhe graças; e este era samaritano”. Este, pela fé que possuía foi, efetivamente, o único curado. Os demais receberam a oportunidade de merecer a cura definitivamente.

Chama atenção de ser, justamente, o samaritano revelar gratidão e ser efetivamente curado em razão da fé que possuía, conforme se deduz destas palavras de Jesus: “Não foram dez os limpos? E onde estão os nove? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, senão este estrangeiro? E disse-lhe: Levanta-te e vai; a tua fé te salvou”.

Os judeus desprezavam os samaritanos, em razão das divergências políticas e religiosas, considerando-os hereges.


Após o cisma das dez tribos, Samaria se constituiu a capital do reino dissidente de Israel. Destruída e reconstruída várias vezes, tornou-se, sob os romanos, a cabeça da Samaria, uma das quatro divisões da Palestina. […] Os samaritanos estiveram quase constantemente em guerra com os reis de Judá. Aversão profunda, datando da época da separação, perpetuou-se entre os dois povos, que evitavam todas as relações recíprocas. Aqueles, para tornarem maior a cisão e não terem de vir a Jerusalém pela celebração das festas religiosas, construíram para si um templo particular e adotaram algumas reformas. Somente admitiam o Pentateuco, que continha a lei de Moisés, e rejeitavam todos os outros livros que a esse foram posteriormente anexados. Seus livros sagrados eram escritos em caracteres hebraicos da mais alta antiguidade. Para os judeus ortodoxos, eles eram heréticos e, portanto, desprezados, anatematizados e perseguidos. (1)


Fica demonstrado, assim, que a valorização das práticas exteriores afasta o homem dos propósitos superiores que toda religião ensina.


Como se explica o fato de a cura destes leprosos ter despertado precisamente no samaritano, tido como herege, um avivamento intimo que não se produziu nos demais? Por que não ficaram os nove judeus possuídos do mesmo entusiasmo, do mesmo ardor sagrado, que invadiu o coração do samaritano? Porque não vieram, como ele, transbordantes de júbilo, render graças ao seu benfeitor? Não receberam, acaso, o mesmo benefício? Por que não experimentaram, como era natural, necessidade de expandirem em demonstrações positivas de gratidão, sentimento este, tão nobre e tão belo? […] Encontramos a reposta na qualidade da fé alimentada pelos leprosos. A dos nove judeus era a fé falseada em sua natureza, adstrita aos dogmas e às ordenanças de uma igreja sectária. (6)


A cura realizada por Jesus atendeu, pois, a objetivos maiores, que chegam até nós, após a sucessão dos séculos, como lições inestimáveis.


Curando indistintamente os judeus e os samaritanos, dava Jesus, ao mesmo tempo, uma lição e um exemplo de tolerância; e fazendo ressaltar que só o samaritano voltara a glorificar a Deus, mostrava que havia nele maior soma de verdadeira fé e de reconhecimento, do que nos que se diziam ortodoxos. Acrescentando: “Tua fé te salvou”, fez ver que Deus considera o que há no âmago do coração e não a forma exterior da adoração. Entretanto, também os outros tinham sido curados. Fora mister que tal se verificasse, para que ele pudesse dar a lição que tinha em vista e tornar-lhes evidente a ingratidão. Quem sabe, porém, o que daí lhes haja resultado; quem sabe se eles terão se beneficiado da graça que lhes foi concedida? Dizendo ao samaritano: “Tua fé te salvou”, dá Jesus a entender que o mesmo não aconteceu aos outros. (2)


Devemos considerar que, independentemente dos benefícios que recebemos ao longo da jornada evolutiva, a gratidão é uma virtude que deve ser cultivada. Neste aspecto, o apóstolo Paulo, já destacava a necessidade de sermos agradecidos (Colossenses, 3.5).


Entre os discípulos sinceros, não se justifica o velho hábito de manifestar reconhecimento em frases bombásticas e laudatórias. Na comunidade dos trabalhadores fiéis a Jesus, agradecer significa aplicar proveitosamente as dádivas recebidas, tanto ao próximo, quanto a si mesmo. Para os pais amorosos, o melhor agradecimento dos filhos consiste na elevada compreensão do trabalho e da vida, de que oferecem testemunho. Manifestando gratidão ao Cristo, os apóstolos lhe foram leais até ao último sacrifício; Paulo de Tarso recebe o apelo do Mestre e, em sinal de alegria e de amor, serve à Causa Divina, através de sofrimentos inomináveis, por mais de trinta anos sucessivos. Agradecer não será tão somente problema de palavras brilhantes; é sentir a grandeza dos gestos, a luz dos benefícios, a generosidade da confiança e corresponder, espontaneamente, estendendo aos outros os tesouros da vida. (8)


A gratidão e a fé do samaritano doente são sentimentos admiráveis, que devem ser estimulados em todos os círculos do relacionamento humano.


Diante da lição eloquente deste soberbo episódio, cumpre imitarmos o leproso samaritano. Cultivemos, portanto, a fé, e não uma fé. Identifiquemo-nos com a religião, e não com uma religião. Pertençamos à igreja, e não a uma igreja. Seja o nosso culto, o da verdade, o da justiça, o do amor. É tal o que Jesus ensina e exemplifica em seu santo Evangelho. (7)



 

ANEXO


Citação de Marcos 1.40-42



ORIENTAÇÕES AO MONITOR: Dividir a turma em dois grandes grupos, cabendo, a cada um, o estudo de um dos textos evangélicos desenvolvido neste Roteiro, apoiando-se nas citações bibliográficas indicadas. Em seguida, cada grupo indica um relator que deverá se deslocar para o outro grupo, com a incumbência de apresentar: a) relato do assunto analisado; b) síntese das conclusões do estudo. Ao final, o monitor indaga os participantes a respeito de ideias-chave relacionadas às citações evangélicas, de Marcos e de Lucas, conferindo se ocorreu bom entendimento do assunto.



Referências:

1. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 127. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Introdução, item: Samaritanos, p. 41.

2. Idem - A gênese. Tradução de Guillon Ribeiro. 52. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Capítulo 15, item 17, p. 364.

3. DOUGLAS, J. D. O novo dicionário da Bíblia. Tradução de João Bentes. 3. ed. São Paulo: Vida Nova, 2006, p. 360.

4. FAJARDO, Cláudio. Jesus terapeuta. Vol. 1. Belo Horizonte: AME-BH, 2003. Capítulo 1 (O leproso purificado), p. 33.

5. FRANCO, Divaldo Pereira. Primícias do reino. Pelo Espírito Amélia Rodrigues. 4. ed. Salvador: LEAL, 1987. Capítulo 13 (Sê limpo), p. 149.

6. VINICIUS (Pedro Camargo). Nas pegadas do mestre. 11. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Item: O leproso samaritano, p. 49.

7.  Idem, ibidem - p. 51.

8. XAVIER, Francisco Cândido. Pão nosso. Pelo Espírito Emmanuel. 29. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Capítulo 163 (Agradecer), p. 342.


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