O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Vozes da Outra Margem — Familiares diversos


CAPÍTULO 4


Atividades de um psiquiatra no Além

Dr. Luiz Antônio Biazzio, natural da Capital paulista, desencarnou em 21 de agosto de 1982, aos 29 anos, em Ribeirão Preto, SP, onde terminava sua bolsa de estudos para Residente 3 no Departamento de Psiquiatria do Hospital das Clínicas dessa Cidade.

Gozando aparente saúde e trabalhando normalmente, seu desenlace inesperado abalou profundamente seus familiares, amigos e colegas.

Mas ele mesmo, um ano depois (24/9/1983), pela psicografia de Chico Xavier, regressaria para esclarecer e consolar seus entes queridos, expondo os abençoados pressentimentos e uma visão mediúnica que o prepararam para a Grande Viagem.

E, numa Segunda Carta, recebida a 2 de junho de 1984, também em reunião pública do GEP, em Uberaba, atendendo rogativas mentais de sua irmã, que ela nunca havia contado a ninguém, Dr. Luiz Antônio explica suas interessantes atividades médicas no Mundo Maior “nas áreas de uma psiquiatria nova”.

Eis as suas palavras:


PRIMEIRA CARTA


1 Querida mãezinha Leda, n abençoe-me.

2 Estamos juntos neste encontro que nos foi proporcionado por amigos espirituais, de que o nosso Toni está à frente, encorajando-me para as notícias que desejo transmitir, n embora a inexperiência que ainda me assinala nesta espécie de manifestação.

3 Sei que os companheiros presentes me perdoarão, se lhes tomo tempo, com a minha fala de saudade e carinho de filho que a desencarnação não aniquilou. Vejo a nossa Maria Clara n e a nossa querida amiga de sempre, Dª Didi, n e volto a memorizar os dias últimos que usufruí do corpo físico.

4 Querida mãezinha Leda, desde muito tempo sentia o cérebro como que esfogueado por pensamentos contraditórios. 5 Pressentia que os meus dias na experiência física estavam a esgotar-se; n entretanto, apesar de meus conflitos psicológicos, desejaria ter ficado mais tempo e fiz o possível para que isso acontecesse.

6 Dias antes do colapso de forças que me alcançou de imprevisto, tive um sonho-realidade com o nosso Toni Cardeal, que estava sempre em minha lembrança. Guardei a nítida impressão de vê-lo ao meu lado, no quarto, comunicando-me que nos encontraríamos em tempo breve. 7 Não consegui estender o diálogo que julguei estivesse nas intenções do querido amigo, porque o inesperado de tudo aquilo que me atingia os olhos apresentava qualquer cousa de fantástico nas fronteiras da alucinação. 8 Silenciei e o companheiro se despediu num aceno afetuoso, enquanto me conscientizava da própria situação, como quem estivesse dormindo e despertasse às súbitas; no entanto, em verdade, não me achava sob a inconsciência do sono.

9 O encontro era real e impressionou-me vivamente; entretanto, não quis comunicar-lhe o que vira, n abstendo-me de qualquer confidência para com a nossa Maria Clara, receando assustá-las, quando, em meu coração, a lembrança do que sucedera parecia um bálsamo sobre as minhas inquietações da vida mental. 10 Ainda assim, tentei um entendimento com a nossa Dª Didi, no sentido de avisá-la que o Toni me convidara para um passeio, cuja realização estava, de minha parte, esperando com alegria.

11 A ideia de liberação da vida física não me ocorreu em momento algum, porque se o companheiro me prometia um encontro, esse encontro, a meu ver, aconteceria em alguma excursão no sonho que fiquei aguardando…

12 Entretanto, a realidade era outra, e na noite em que me senti absolutamente esvaído de forças, repentinamente recordei a promessa do amigo… 13 Alguma ruptura de vasos me atingira, porque, por mais buscasse falar, não mais encontrei a possibilidade de qualquer expressão, dentro da noite alta.

14 Rememorei meus estudos de medicina, revisei os meus doentes e os meus apuros na psiquiatria para definir-lhes as emoções e, em seguida, querida mãezinha, as recordações da infância e do lar desfilaram diante da minha visão íntima.

15 De tudo me lembrei… n De seus sacrifícios e dos sacrifícios do papai Caetano para que eu pudesse cumprir o meu ideal num curso de ordem superior, revi a querida irmãzinha Maria Clara a perguntar-me sobre o que eu preferia para essa ou aquela merenda, e não me esqueci de nossas preces do tempo de criança…

16 O estudo, as exigências da vida e as lutas naturais de um rapaz que deseja atingir a própria maturação de um dia para outro, tudo, tudo estava ali comigo naqueles instantes, nos quais me sentia naufragar num mar de névoa…

17 Hoje sei que as Leis de Deus nos poupam os sofrimentos da chamada morte, que não é mais que transformação, sem ser mudança radical em nós mesmos, e naqueles momentos entreguei-me de todo ao torpor que me sedava todos os nervos…

18 Quando despertei, vi-me ao lado de almas queridas, as Marias, n minhas avós, e do Toni que sorria, ao meu lado… Aquilo era por demais eloquente para que eu fizesse indagações; no entanto, as lágrimas me vieram do coração para os olhos. 19 Pensava em seu amor, em meu pai e na irmã querida e nos amigos. Creia que a minha luta para harmonizar-me com a realidade não foi pequena. 20 Senti-me sob o peso de uma saudade gigantesca, mesmo porque não sei se existe algum médico preparado para morrer.

21 Tudo aquilo que me resumia os conhecimentos me chamava para a vida terrestre que eu deixara de modo quase imperceptível para mim. 22 Depois de alguns dias pude voltar à casa e rever os entes queridos. Misturamos as nossas lágrimas no mesmo prato de aflição, porque não me via habilitado para uma compreensão maior…

23 Agora, porém, posso pedir-lhe calma e agradecer a todos tudo o que realizaram a meu benefício. Peço ao papai Caetano coragem e serenidade.

24 Querida mãezinha Leda, perdoe-me se voltei assim tão cedo à vida espiritual. Hoje sei que toda criatura tem os dias contados nos computadores da Sabedoria Divina e entendo que preciso ser forte para dominar o meu próprio campo emotivo, e preparar-me para as tarefas novas que me aguardam.

25 Agradeço à nossa querida amiga Didi pelo bem que me fez e pelo companheiro que me deu. Peço à nossa Maria Clara substituir-me no carinho que devo aos pais inesquecíveis.

26 Se alguém estranhou o caráter de minha liberação inesperada do corpo físico, não se impressionem. Graças a Deus, nunca tive qualquer tendência para o suicídio e se minha resistência terminou naquela noite inolvidável, é que os desígnios do Pai Celeste não me permitiram seguir mais além…

27 Querida mãezinha Leda, desculpe-me por todas as preocupações que lhes impus e esteja certa de que tudo farei para continuar merecendo a sua abnegação.

28 Meus sentimentos de respeitoso afeto ao papai Caetano e à Maria Clara, agradecimentos para a nossa devotada mãezinha Didi, com lembranças a todos os nossos.

29 E receba, querida mãezinha Leda, neste reencontro de saudade e ternura, todo o coração de seu filho que lhe deve todas as alegrias que o mundo tenha proporcionado à minha vida e conserve a certeza de que sou e serei sempre o seu filho agradecido,


Luiz Antônio Biazzio


NOTAS E IDENTIFICAÇÕES


1 — mãezinha Leda e papai Caetano — Leda Lodovisi Biazzio e Caetano Alberto Biazzio, seus progenitores, residentes à rua Itapura, 279 — Tatuapé — São Paulo, SP.

2 — o nosso Toni está à frente, encorajando-me para as notícias que desejo transmitir — Antônio Cézar Nunes Cardeal, Toni na intimidade, desencarnado em 01/01/1973, foi amigo e companheiro inseparável do Dr. Luiz Antônio na época do CPOR/SP, turma 1972. Toni-Espírito já enviou duas cartas aos familiares, pelo médium Chico Xavier, em 24/3/73 e 23/3/75, sendo a primeira publicada no livro Entre Duas Vidas (F. C. Xavier, Elias Barbosa, Espíritos Diversos, cap. 37 e 38, CEC). Em ambas ele fez referências ao amigo nesses termos: “Procurei o nosso Luiz Antônio, o nosso Biazzio, que me falava em vida espiritual, diligenciando achar um caminho para reconfortá-los. Grande amigo. Fez prodígios para atender-me e espero que ele progrida constantemente para ser a coluna de Verdade que desejo venha ele a ser. (…) Mãezinha, venho fazendo quanto possível para me tornar entendido por nosso Biazzio e com o tempo as coisas melhorarão.” (Carta de 24/3/1973) Na segunda carta, diz: “Auxiliem nosso Biazzio. Digam a ele que a mediunidade é o caminho em que o prezado companheiro se realizará com mais segurança na própria profissão. Biazzio é um coração iluminado de amor em tarefas espirituais na Terra, acima de tudo. Deus o abençoe.” Na época do recebimento dessa carta de 1975, Biazzio cursava a Faculdade de Medicina de Uberlândia, MG, e frequentava a Mocidade Espírita local, como jovem atuante, inclusive dedicando-se à mediunidade psicográfica.

3 — Maria Clara — Maria Clara Biazzio, irmã.

4 — Dª Didi — Dona Maria Odila Nunes Cardeal, mãe de Toni, amiga da família.

5 — Pressentia que os meus dias na experiência física estavam a esgotar se; (…) Guardei a nítida impressão de vê-lo ao meu lado, no quarto, comunicando-me que nos encontraríamos em tempo breve. — “Muito frequentemente o homem tem pressentimento do seu fim (…). Esse pressentimento lhe vem dos seus Espíritos protetores que querem adverti-lo a estar pronto para partir, ou que levantam sua coragem nos momentos em que lhe é mais necessária.” (O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, IDE, questão 857.)

6 — não quis comunicar-lhe o que vira (…) Ainda assim tentei um entendimento com a nossa Dª Didi, no sentido de avisá-la que o Toni me convidara para um passeio — Escreveu-nos sua progenitora: “Uma semana antes da desencarnação, ele telefonou-me pedindo para avisar Dª Didi que tinha uma surpresa feliz para revelar a ela quando aqui chegasse, a 27 de agosto. Por mais que eu pedisse, ele nada me informou, alegando que se tratava de uma surpresa que ele mesmo queria transmitir-lhe.”

7 — e, em seguida, as recordações da infância e do lar desfilaram diante da minha visão íntima. De tudo me lembrei… — Esta visão rápida, retrospectiva, dos fatos mais marcantes da vida física é uma das etapas habituais do processo desencarnatório. (Ver O Céu e o Inferno, Allan Kardec, 2ª Parte, Cap. II, Mensagens de Sanson (item 7) e de Jobard; Evolução em Dois Mundos, Espírito André Luiz, F.C. Xavier e W. Vieira, 1ª Parte, Cap. 12, FEB; Eles Voltaram, Espíritos Diversos, F.C. Xavier, H.M.C. Arantes, Cap. 12, 16 e 18, IDE.)

8 — as Marias, minhas avós — Maria Moreira dos Santos, avó paterna, desencarnada na Capital paulista em 1970; Maria, bisavó materna, desencarnada na Itália, em 1923.


SEGUNDA CARTA


1 Querida mãezinha Leda, vejo-a com a nossa Maria Clara e nossas amizades, rejubilando-me por isso.

2 Continuo em minha peregrinação de trabalho, à procura do obreiro do bem que devo talhar em mim mesmo.

3 Agradeço a dedicação da senhora e do papai Caetano, nas atenções em meu benefício. Compreendo o nosso encontro pelo momento de saudades, que nos cabe aproveitar para afetuarmo-nos uns aos outros.

4 Resgate sempre. Resgate pelo que fizemos e por tudo de bom que ainda não conseguimos.

5 A nossa Maria Clara desejava receber alguma notícia do nosso trabalho na intimidade do cotidiano. 6 O assunto interessa a todos os que buscam observar as atividades do Plano Espiritual junto da vida humana, porque é assunto em torno da posse que anima tantas aspirações nobres e frustram numerosos planos nascentes no parque da caridade.

7 O estudioso de problemas psicológicos encontra aqui um campo aberto às mais valiosas investigações. 8 Se me fosse possível, aconselharia à família querida e a todos nossos irmãos da humanidade, aconselharia a cada um retirar alguns minutos de cada dia para indagar de si próprio o que está realmente fazendo para auxílio do próximo.

9 A luta em nossas paisagens espirituais ainda é grande pela necessidade de alijar, dos amigos desencarnados recentemente, a carga por vezes pesada das falsas impressões que trazem do Plano existencial de que procedem. 10 Sou aqui um pequeno estudioso da análise psicológica dos numerosos que afluem da Terra.

11 Muitos se sentem ainda na profissão que exerceram, desejando retornar aos recantos de trabalho em que se lhes desenvolviam as atividades da vida.

12 São proprietários de terras e sítios que estão longe de se sentirem desligados da posse dos bens que possuíam, gerando alucinações que é preciso curar pacientemente.

13 Muitos nos alcançam o gabinete de serviço, querendo apaixonadamente reassumir posições econômicas e afetivas que já não compadecem com a vida espiritual que começam a penetrar.

14 A senhora, mamãe Leda, bem sabe que escolhi a psiquiatria para me apoiar nos conhecimentos da alma e agir segundo os métodos de nossos instrutores no mundo e, nesse mister, felizmente, quase sempre tenho o tempo ocupado nos diálogos de pacificação e esclarecimento.

15 Amigos que supúnhamos orientados com clareza e segurança nos negócios a que se ajustavam no mundo vêm perguntar por devedores e credores, interesses e lucros em que se julgam prejudicados e a tarefa é muito grande no sentido de lhes prestar as informações necessárias. 16 Os medicamentos mais eficazes são a paciência e o amor com que lhes tentamos alcançar os corações para renovar-lhes os sentimentos.

17 A certeza de que todos somos de Deus em tudo o que possuímos, é o fator definitivo da cura espiritual de semelhantes companheiros dominados por interesses menos felizes.

18 Escolhemos o tema em estudo para dar-lhe, extensivamente à Maria Clara e ao meu pai Caetano, as notícias tão seguras quanto possível sobre os serviços de um médico iniciante na paisagem de ação em que me encontro, notícias que são igualmente dedicadas aos amigos do mundo, no sentido de auxiliá-los no despojamento gradual e construtivo das ideias errôneas que porventura mantenham sobre pessoas e situações, problemas e cousas, qual se fossem os senhores reais das circunstâncias, quando todos nós, aí no mundo, unicamente usufruímos os empréstimos da Providência Divina.

19 Aprender a desfrutar, sem possuir negativamente, é a fórmula ideal para o encontro com a paz.

20 Seja qual seja a provação, façamos a nossa parte na extinção desse ou daquele obstáculo, mas sem o propósito de que tudo nos é permitido fazer, quando esse fazer se conserva nos limites naturais da própria existência.

21 A maioria dos irmãos recém-desencarnados alcançam a Espiritualidade quase que na condição de alienados mentais, reclamando estágios de entendimento e revisão de tudo o que vivenciaram na Terra, de modo a se desprenderem das posses que unicamente lhes serviram segundo a certidão de identidade, de que dispunham na vida física.

22 Quem puder trabalhar e servir intensamente para o bem geral, sabendo que se encontra nos interesses da Divina Providência e não nos interesses próprios, estará em caminho certo, porquanto já nos atingirá o Plano de ação sem o fardo de enganos e ilusões que conturbam muita gente.

23 Creio que me fiz compreendido ao esclarecer as indagações de nossa querida Maria Clara, ao mesmo tempo que tornei extensivos os meus pobres argumentos a quantos me possam ler e ouvir.

24 Que na viagem terrestre cada pessoa conhecerá a fase terminal é mais do que sabido e, por isso mesmo, sem qualquer pretensão de ensinar, me referi a verdades simples da vida, acessíveis à mente de qualquer um.

25 Mãezinha Leda, muito grato por suas preces em meu favor. 26 A oração é um fio de luz que nos enriquece o novelo dos pensamentos, clareando as expressões e assegurando finalidades que efetivamente se coadunam com os nossos interesses na vida espiritual.

27 O meu avô Luiz n e o meu bisavô Biazzio n me trazem grandes contribuições de conhecimentos e, na posição do aluno desvalido de dotes especiais de inteligência, vou aproveitando.

28 O Toni Cardeal prossegue sustentando a nobre amizade que nos reunia os passos na Terra, conquanto presentemente estejamos em situações diferentes de serviço.

29 Desejamos informar à nossa irmã Dora Catalano n que somos vários amigos para colaborar em auxílio a ela e contamos com o amparo de Jesus, realmente o nosso Divino Mestre e Senhor.

30 Muito carinho ao papai Caetano, um abraço à querida Maria Clara, irmã do coração e a senhora, mãezinha Leda, receba a confirmação constante do imenso carinho e da gratidão imensa que lhe consagra incondicionalmente o filho devedor que deseja melhorar para ser o seu verdadeiro cooperador nas tarefas de sempre, sempre o seu filho reconhecido,


Luiz Antônio Biazzio


IDENTIFICAÇÕES


9 — avô Luiz — Luigi Lodovisi, avô materno, desencarnado dois meses antes de Luiz Antônio, aos 15/6/1982.

10 — bisavô Biazzio — Bisavô paterno.

11 — Dora Catalano — Amiga da família, foi quem levou Dª Leda e sua filha a Uberaba, nas vésperas do recebimento dessa Carta. Na viagem, Dª Dora confidenciou às amigas que, em suas preces, sempre solicitava auxílio do Dr. Biazzio e toda equipe do Plano Espiritual.


TERCEIRA CARTA n


1 Querida mãezinha Leda, a sua presença para mim significa uma bênção de Deus.

2 Sigo o papai Caetano e nossa Maria Clara em minha alegria ao abraçá-la. E sou muito agradecido à nossa irmã Dora Catalano, que lhe serviu de companhia na viagem até aqui.

3 Mãezinha Leda, fique tranquila a meu respeito. Os meus estudos médicos não se perderam. Já estou trabalhando numa equipe de amigos que se entregaram, com fé em Deus e coração aberto, à tarefa de reconfortar os doentes, especialmente aqueles que ainda se caracterizam por extensos distúrbios mentais. 4 Vejo-me nas áreas de uma psiquiatria nova, em que os enfermos são amparados, a começar pela compreensão acerca deles mesmos, para que nos auxiliem a fim de que nos habilitemos a liberá-los das perturbações a que ainda se mostram sujeitos.

5 As suas preces foram baluartes de consolo em meu benefício, nos dias em que mais me reconhecia necessitado de estímulo para erguer-me da prostração em que caíra e recomeçar a vida como terapeuta do trabalho. n

6 Querida mãezinha Leda, o avô Luigi Lodovisi me recomenda pedir-lhe não se impressione com ideias negativas, n com relação ao meu desprendimento do corpo físico, enquanto dormia. 7 Não faltaram amigos que me atribuíram injustamente a decisão de dopar-me com uma super-dose de anestésicos para favorecer a minha desencarnação. Isso não é verdade. 8 O trabalho sempre foi o meu processo de preparar o sono tranquilo da noite, e não supunha que a minha vida no campo cardíaco fosse tão frágil. O médico, muitas vezes, está interessado em exames laboratoriais dos clientes perante os quais mais se sentem vinculados e se esquecem de que eles também são gente humana igual aos outros.

9 De quando a quando a dor precordial me visitava; entretanto, isso para mim não era surpresa, porque o desequilíbrio sempre surgia depois que eu carregasse alguma criança forte. 10 O meu problema é que não tive tempo para recorrer à cardiologia, deixando sempre o assunto para outro dia mas esse “outro dia” na existência de quem trabalha, atendendo aos seus próprios compromissos, é muito difícil de chegar. 11 A parada cardíaca veio de surpresa e não mais acordei do sono a que me entregara.

12 Esta realidade, querida mãezinha Leda, é bem a nossa. Eu não teria coragem de me anular a comprimidos e nem tinha recebido formação para isso. Sob essa razão é que lhe confio quanto me aconteceu, para que a sua bondade esqueça qualquer comentário menos feliz da parte de criaturas que julgam turvar-nos a consciência, delirando a nosso respeito com impressões incompatíveis com a verdade.

13 Tudo vai bem quando a nossa consciência está bem e por isso apenas as saudades de seu filho é que ainda são muitas.

14 Quero dizer à nossa irmã Dora Catalano que em minhas andanças de serviço já me encontrei com o nosso irmão Gianocaro n e que ele prossegue trabalhando com amor em benefício dos necessitados.

15 Querida mãezinha Leda, com um beijo em sua face, sou o filho de sempre. Não posso esquecer-me de que o amigo Toni Cardeal está conosco e envia aos queridos pais um abraço de muita saudade e reconhecimento.

16 Querida santa, minha querida mãe, receba o coração de seu filho sempre reconhecido,


Luiz Antônio Biazzio.


NOTAS E IDENTIFICAÇÕES


12 — Carta também recebida pelo médium Chico Xavier em reunião pública do GEP, a 18/10/1985.

13 — recomeçar a vida como terapeuta do trabalho — Como psiquiatra do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto e do Hospital Psiquiátrico de Brodosqui, SP, aplicava em seus pacientes, com muito entusiasmo, a terapia ocupacional.

14 — não se impressione com ideias negativas com relação ao meu desprendimento do corpo físico, enquanto dormia. — Luiz Antônio reafirma aqui o que dissera na Primeira Carta: “Se alguém estranhou o caráter de minha libertação inesperada do corpo físico, não se impressionem. Graças a Deus, nunca tive qualquer tendência para o suicídio.” Essa sua preocupação com os familiares é fundamentada, pois a suspeita de suicídio, feita na época, foi divulgada, havendo, então, repercussão desagradável, e mesmo traumatizante, no meio familiar, que nunca poderia aceitar tal hipótese devido ao equilíbrio interior que Luiz Antônio sempre revelou aos entes queridos e à sua formação espiritualista. Assim, os reflexos dessa suspeita ainda se faziam sentir até a ocasião do recebimento dessa Carta.

No dia 22/8/1982, notada a ausência de Luiz Antônio pelos seus colegas, num encontro programado para essa data, manhã de domingo, e considerando a sua falta também na reunião clínica da noite do dia anterior, esses foram ao seu apartamento, onde ele residia sozinho. Na falta de resposta aos sons de campainha, providenciaram o arrombamento da porta, encontrando-o morto, em sua cama, como se estivesse dormindo. Não havia sinais de violência, nem de roubo.

Na autópsia, realizada no mesmo dia 22, pelos legistas da Delegacia Regional de Polícia de Ribeirão Preto (B.O. nº 07798/82), não foram encontrados sinais de lesões corporais e os órgãos internos já estavam em estado de decomposição, sem lesões macroscópicas aparentes. Exame microscópico (histológico) não foi realizado, mas no exame toxicológico do material colhido (sangue e vísceras), geralmente feito de rotina nestas circunstâncias, foi detectada a presença de um derivado do ácido barbitúrico, daí a suspeita precipitada de suicídio, divulgada entre seus colegas. O suicídio teria sido, então, provocado por uma ingestão excessiva de barbitúrico, caracterizando uma intoxicação exógena. Porém, o Laudo do Setor de Toxicologia, n.º 473/82, expedido em 17/9/1982, revela que se procedeu apenas o exame qualitativo, feito rotineiramente, que somente detecta a presença de substâncias; e não o exame quantitativo, que determina a quantidade de droga e permite, quando acima de certo valor, o diagnóstico de intoxicação exógena. Esse último exame só é realizado quando solicitado especificamente e com material adequadamente colhido. A Conclusão do referido Laudo foi a seguinte: “Pelos resultados obtidos nas análises procedidas, conclui-se que, no material enviado, foi detectada a presença de um derivado do Ácido Barbitúrico.”

O resultado desse exame qualitativo não surpreendeu a família de Luiz Antônio, pois o mesmo estava sob tratamento, há muitos anos, de uma disritmia cerebral, com um neurologista de São Paulo, tomando diariamente “Gardenal” — nome comercial do Fenobarbital, que é um derivado do ácido barbitúrico.

Lemos na carta mediúnica que a causa mortis real foi uma doença cardíaca (talvez impossível de ser comprovada na autópsia, mesmo com exame microscópico, pois os órgãos internos já estavam em estado de decomposição) que a sua irmã confirma com essas palavras, em carta datada de 14/6/1986: “Quanto ao problema do coração é verdade. Há tempos ele vinha se queixando de dor no peito. Ultimamente ele não podia carregar muito peso; até a bicicleta que ele havia comprado já não a usava mais, pois cansava-se logo após algumas pedaladas.”

Depreende-se do exposto que, do ponto de vista científico, nada se poderia afirmar quanto à causa da morte de Luiz Antônio e, portanto, sua Certidão de Óbito (Registro Civil do 1.º Subdistrito de Ribeirão Preto, n.º 9.927) está correta: “Causa da morte: Indeterminada”.

Só ele mesmo, Luiz Antônio, Espírito, poderia esclarecer a razão de sua passagem para o Mais Além e o fez de forma clara e convincente em suas cartas mediúnicas, desfazendo totalmente a nuvem de inquietação que envolvia seus entes queridos, provocada pela suspeita de suicídio.


15 — já me encontrei com o nosso irmão Gianocaro — Reynaldo Gianocaro, desencarnado em 12/5/1981, era amigo da Dra. Ângela, filha de Dá Dora Catalano. Esse recado de Luiz Antônio foi surpreendente, pois atendeu a um pedido mental de Dá Dora, presente à reunião pública.


Hércio Arantes


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