O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Tempo e amor — Autores diversos — F. C. Xavier/Clóvis Tavares


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Por aqui, também se procura e se espera…

(Mensagem do Prof. Oswaldo Martins)

1 Ruth, parece que me sinto menos irritadiço. Começo com os hábitos que o seu convívio me proporcionou, ensinando-me o valor da oração e peço ao Senhor nos proteja sempre.

2 Os dias são telas para a fixação dos acontecimentos. E tantos dias transcorreram sobre aquele nosso adeus apressado, n que não seria possível voltar a você, numa noite destas, em que tanta fraternidade se irradia do coração de todos os amigos, n esnobando nervosismo e destacando inquietação ou pressa.

3 Não sei se terei escrito a você, em outras ocasiões com a serenidade que me preside os pensamentos, n você dirá que sempre fui um campeão de gentileza, mas ambos sabemos que você foi e continua sendo a minha professora de relacionamento. Podemos desempenhar a função de professores sendo alunos. Muitas vezes, um homem leciona cultura da inteligência nas turmas de aprendizes que lhe bebem os conceitos, voltando ao lar a fim de se engajar no aprendizado da paciência. É isso aí, sem a possibilidade de contraditas formais.

4 Felizmente, querida companheira, o seu Oswaldo está melhorando… “Água mole em pedra dura…” Agradeço a sua dedicação por todas as suas concessões feitas à memória do esposo que lhe deve tanto, em amor e abnegação.

5 Mais do que minha pobre palavra, fala o tempo. Sou feliz, expondo o que sinto. Compreendo que você nada me cobra. Pelo contrário, o seu culto de carinho a resguardar-me em segurança, neste meu longo período de readaptação à Vida Espiritual, constitui para mim um débito crescente. 6 Sabe o Senhor de Nossas Vidas do meu propósito sincero e constante de me fazer digno de sua dedicação e por isso trabalho, no que não faço qualquer vantagem, a meu favor, porque o trabalho é de lei, nas Leis Divinas. 7 Creia que a sua coragem muitas vezes me ergueu o ânimo abatido, na travessia destes tempos difíceis em que a desencarnação me compeliu a viver e a conviver aqui sem a sua companhia direta. A lembrança de suas resoluções e de seus gestos para mim são inspirações incessantes. Nessa ou naquela dificuldade, penso no modo através do qual você agiria e tudo vem certo à minha consciência e ao meu coração.

8 As nossas meninas junto de mim cresceram e estudam com valor, honrando-nos as esperanças. 9 Duas pérolas enfeitando as minhas saudades de sua presença e de nossa casa. n São as irmãs de Luciana e Analice e do nosso valente André Luiz que desfrutam a felicidade de sua companhia.

10 Por aqui, também se procura e se espera. Ninguém adquire conhecimento superior por osmose. Se quisermos saber é indispensável aprender e buscar o objeto de nossas pesquisas. Isso, porém, não nos impede de prosseguir cultivando a ligação e o carinho a que nos reconhecemos vinculados na experiência terrestre. Apenas desejo confirmar a sua convicção de que todos necessitamos de abrir o caminho que se nos faça próprio. A picareta nas mãos do esforço pessoal é o primeiro passo de quem se proponha a construir uma vereda nova a benefício da própria experiência.

11 Muito importante para mim considerar que o meu primeiro passo foi aquele no chão entre Casimiro de Abreu e Macaé. Quando acordei na estrada nova, n perguntei a mim pela motivação daquela prova que nos aturdiu os sentimentos e nos tumultuou a existência. A indagação emoldurada de sofrimento penetrou fundo em meus sentimentos e me iniciei na compreensão das vidas múltiplas. 12 Incomodei a tantos amigos e recorri a tantos mentores para conhecer a causa do acidente que parecia vir até nós, através de nada, que um orientador, embora conhecendo a minha incapacidade para suportar mergulhos prolongados nos domínios das recordações mais recônditas, relativamente a mim mesmo, conduziu-me a certo instituto em que a hipnose n é examinada e praticada nos alicerces de profunda veneração pelos valores humanos e, em minutos, mostrou-me um quadro que ele mesmo desarquivara de passado recente, no qual me vi tutelado por ama generosa, na qual reconheci nossa estimada Eliceia. n 13 Em exposição rápida vi-me, ao lado dela combinando a precipitação de um adversário num pântano, desalojando-o da carruagem na qual processaria viagem longa. n Não posso dizer o que se passou em mim. Pedi o adiamento para qualquer nova revelação, que me pudesse advir, ante a qual, se surgisse, não me sentiria preparado e continuo a esperar por mim mesmo, no sentido de retomar a experiência.

14 Pelo que vi, entretanto, compreendi por que tomei a minha picareta de autorrenovação naquele trecho de terra que nos ficou retratado na lembrança. Perdoe-me se me refiro a isso. Você sabe que todos temos algo no pretérito a redescobrir e a minha digressão não vem a ser ociosa para a comunidade dos nossos amigos, já que arquivo por arquivo cada um de nós possui o que lhe pertence. Mas desejava dizer a você que não tenho estado no palanque. Estou trabalhando e trago ao seu critério de esposa e mentora os meus exercícios.

15 Agradeço quanto faz você pela mamãe Do Carmo n que é a sua outra mamãe pelo coração, a nossa querida mamãe Do Carmo, a quem o nosso querido Adamastor n presta serviço constante. Observo que meu pai se religou à nossa mãezinha com mais força depois da permanência aqui por tempo mais dilatado. É a estrada evolutiva na qual temos determinado trecho por atravessar a cada novo dia.

16 Lenora e Analaura beijam-lhe as mãos. Somos aqui muitos amigos. O Carlinhos n disse à nossa irmã Hilda algo do que lhe vai no coração de filho. Acompanhamos toda a turma com atenção e carinho.

17 Peço licença para comunicar à nossa irmã Dinda n que muitos protetores estão velando por ela e pelos familiares queridos.

18 Concluo esta carta, na ideia de que somos aqui uma parcela de uma das nossas reuniões de professores dialogando em derredor de nossos problemas. Queira Deus que eu possa haver trazido algum reconforto ao seu coração.

19 Querida Ruth, esposa e amiga, com você a vida e o amor, a gratidão e o apreço constante do seu

Oswaldo

Oswaldo Peixoto Martins


ANOTAÇÕES


1 - Referência ao acidente automobilístico ocorrido em 7 de julho de 1974, entre Macaé e Casimiro de Abreu, no qual faleceram Oswaldo Peixoto Martins e a ama das crianças, Eliceia de Souza Batista, escapando com vida a Professora Ruth Maria Chaves Martins e os três filhos do casal.

2 - Referência aos companheiros de viagem a Uberaba, obreiros da Doutrina na Escola Jesus-Cristo, de Campos: Profª. Hilda Mussa Tavares Profª. Gilda Duncan Tavares, Profª. Sílvia Navega Dias, Profª. Ana Maria Assad, Profª. Marilda Vieira de Azevedo e André Luiz Chaves Martins, de apenas 12 anos, filho do Prof. Oswaldo e da Profa. Ruth Maria.

3 - Antes desta mensagem, recebida em 4 de setembro de 1982, portanto oito anos após a desencarnação, o Prof. Oswaldo já havia escrito um pequeno bilhete, através da psicografia de Chico Xavier, em 1976.

4 - Referência às duas filhinhas do casal já desencarnadas: Analaura (11/03/1964 — 03/05/1964) e Lenora (25/11/1966 — 05/04/1967).

5 - A expressão estrada nova, no texto, tem duplo sentido. Trata-se primeiramente de uma metáfora, como é evidente, para indicar o ingresso do mensageiro na vida espiritual. Secundariamente, refere-se ao trecho recém-inaugurado da estrada Campos — Rio (BR-101) por onde o Prof. Oswaldo e sua família iriam passar, pela primeira vez, na viagem de férias que estavam iniciando.

6 - O querido e sábio Espírito André Luiz, em suas magníficas obras psicografadas por Francisco C. Xavier, refere-se, várias vezes, a esse tipo específico de institutos do Plano Espiritual.

7 - Eliceia — Eliceia de Souza Batista, a ama das crianças, desencarnada no acidente, aos vinte anos.

8 - Confirmando, de modo impressionante, a Lei do Carma, o Prof. Oswaldo, ao ser lançado do carro, que tombou numa perambeira, foi encontrado por sua esposa caído numa região de brejo, com água que teria sido suficiente para matá-lo por afogamento, caso não houvesse sido retirado por ela para um lugar mais seco.

9 - Do Carmo — Maria do Carmo Peixoto Martins, mãe do Prof. Oswaldo.

10 - Adamastor — Adamastor Martins da Silva, pai de Oswaldo e desencarnado um ano e meio antes do filho (31/01/1973).

11 - Carlinhos — Carlos Vítor Mussa Tavares, filho da Profa. Hilda Mussa Tavares e do Prof. Clovis Tavares (Campos, RJ, 03/03/1956 — Atafona, RJ, 10/02/1973). Carlinhos dera, momentos antes, uma página em versos — “Declaração” — à sua mãezinha, presente à reunião.

12 - Dinda — Recado enviado à Profª. Marilda Vieira de Azevedo, integrante da caravana da Escola Jesus Cristo, e que é chamada familiarmente pelos irmãos menores de Dinda.


Clovis Tavares


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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