O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Registros imortais — F. C. Xavier e outros médiuns do Grupo Meimei — Autores diversos


Anexo A


História do Grupo Meimei

A história do Centro Espírita Meimei é muito bem contada por Arnaldo Rocha no livro Instruções psicofônicas, de onde transcrevo o que segue (XAVIER, 1955, p. 12-15):

“O Chico, por várias vezes, falou-nos do desejo expresso pelos mentores espirituais no sentido de se criar um grupo de irmãos conscientes e responsáveis para a assistência especializada aos problemas difíceis. Em meados de 1952, aderimos, finalmente. Convidamos alguns irmãos conscientes da gravidade que o assunto envolve em si e na noite de 31 de julho do ano mencionado realizamos nossa primeira reunião. (…) A princípio, reuníamo-nos na antiga dependência que o Centro Espírita Luiz Gonzaga ocupou de 1927 a 1950, mas em 1954 (…) transferimo-nos para nossa sede própria e definitiva que, embora singela, se levanta acolhedora à Rua Benedito Valadares, nesta cidade.(…) É preciso dizer que o médium Chico Xavier sempre as recebeu (mensagens contidas no citado livro) psicofonicamente, no último quarto de hora das nossas reuniões, muita vez depois de exaustivo labor na recepção de entidades perturbadas, em socorro de obsessos e doentes, serviço esse no qual coopera, igualmente, junto aos demais médiuns de nossa agremiação.”

A seguir, transcrevo a história do Meimei constante de O voo da garça — Chico Xavier em Pedro Leopoldo | 1910-1959 (HARLEY, (2010, p. 193-200):


(…) Curiosamente, ao reunir informações sobre o Grupo Meimei, sob a forma de documentos, recursos iconográficos e depoimentos dos que participaram das primeiras e memoráveis reuniões, nos deparamos com a escassez de dados e observamos que o próprio movimento espírita nacional, em se tratando de Pedro Leopoldo, pouco se refere ao Grupo Meimei. n

Podemos entender que em razão do número limitado de pessoas que participavam dessas reuniões e do seu caráter privativo, o Grupo Meimei permaneceu quase que tão somente na memória daqueles participantes que puderam colaborar na assistência aos desencarnados e desfrutar da presença de benfeitores espirituais por meio da psicofonia de Chico Xavier e de outros companheiros de ideal.

Segundo Arnaldo Rocha, no prefácio do livro Instruções psicofônicas,

“Corria o ano de 1951 e frequentes se faziam nossas excursões de Belo Horizonte, onde residimos, a Pedro Leopoldo, hoje região suburbana da capital mineira. Em conversações fraternas e amigas com o nosso companheiro de ideal Francisco Cândido Xavier, muitas vezes observávamos o volume crescente dos casos de obsessão que procuravam incessantemente as reuniões públicas do Centro Espírita Luiz Gonzaga, nas noites de segundas e sextas-feiras” (XAVIER, 1955, p. 12). n

Em um depoimento dado à Dra. Marlene Nobre em 1977, o companheiro José de Paulo Virgílio, um dos fundadores do Centro Espírita Beneficente Bezerra de Menezes em Pedro Leopoldo, descreve como chegou a participar do início da construção do Grupo Meimei. Segundo ele, depois de ter acidentado o pé, e correndo o risco de amputá-lo, Chico Xavier, orientado pelo médico espiritual Dr. Bezerra de Menezes, realizou um tratamento com sucesso. Chico o procurou dias depois em sua residência e falou claramente:

“— Escute aqui, meu filho, nós estamos construindo o Centro Espírita Meimei, no que é que você pode nos ajudar?

Eu sou bombeiro eletricista e pensei comigo: “Estou doente e esse homem vem falar de serviço!”

Ele leu meu pensamento:

— Olha, meu filho, você só vai explicar como se faz o serviço, não precisa fazer nada. Fiquei impressionado com a resposta, eu não tinha dito nada. Aí resolvi:

— Eu vou amanhã.

E no dia seguinte peguei a muleta e fui. Eles estavam fazendo um salão grande, um banheiro e um alpendre, instruí o serviço. Mas o servente de pedreiro não entendia nada de eletricidade e eu fui fazendo devagarzinho, conforme minhas forças.

Nos intervalos, bebia da água que ficava sobre a mesa, sem saber que era água fluida. Acabava de almoçar depressa para voltar à tarefa.

Chico passava por lá e dizia:

— Que beleza! Já esta ficando quase tudo pronto!

Faltavam quatro dias para a inauguração quando o serviço já estava quase pronto” (FOLHA ESPÍRITA, 1977, p. 34).

Em 31 de julho de 1952, foi fundada por Chico Xavier e alguns amigos a segunda instituição espírita da cidade: o Grupo Meimei (portanto, a terceira instituição espírita de Pedro Leopoldo). Quem era o responsável por conduzir as reuniões de assistência aos desencarnados no Centro Espírita Luiz Gonzaga era o irmão de Chico Xavier, José Cândido Xavier. A partir de 1939, com a sua desencarnação, as atividades foram interrompidas e somente treze anos depois recomeçaria o trabalho de desobsessão ou assistência aos desencarnados com a fundação desse novo grupo.

Vale aqui destacar a importância de José Cândido Xavier na vida pessoal e mediúnica de Chico, pois além de permanecer ao seu lado desde o início da sua tarefa assumiu papéis de pai, amigo, orientador e conselheiro. n

Em “Chico Xavier — O primeiro livro”, encontramos, à página 37, um poema escrito por José Xavier em 14 de março de 1929, portanto, quando ele tinha apenas 23 anos:

Rabiscos

Neste vale de lágrimas e dores,

Onde há o crime; o remorso e pecado,

Existe alguém que leva vida de horrores,

É criminoso ignorante e celerado.


É imperfeito, vil, degenerado,

Indigno até mesmo de viver;

E vive só, no mundo abandonado,

Cumprindo provas para depois morrer.


Pergunta, às vezes, ao nosso Criador

Qual a razão de tanto sofrimento:

– Estás na Terra, por isso és sofredor!

É o que responde a voz do pensamento.


E agradece aquilo que ele passa.

Bendiz a dor sagrada que sofreu.

E esse alguém na Terra tem sua raça,

Pois esse alguém, meu amigo, sou eu.


José C. Xavier n


O nome Grupo Meimei, segundo Arnaldo Rocha, foi sugerido pelo Chico com a concordância de um grupo de amigos que trabalhou na organização dessa instituição em seus primeiros passos, como forma de homenagear sua primeira esposa, a companheira Irma de Castro Rocha, mais conhecida como Meimei, desencarnada em 1946.

Segundo depoimento de Arnaldo Rocha a Geraldo Lemos Neto, a instituição deveria se chamar “Casa dos Espíritos”, nome aprovado também por Clóvis Tavares, da cidade de Campos, RJ, o que não teria sido aceito pelo Chico, pois tal denominação poderia criar algum problema com a comunidade católica pedroleopoldense. Arnaldo também sugeriu outro nome: Centro Espírita Allan Kardec, que também não foi aprovado pelos companheiros.

Inicialmente, as reuniões mediúnicas do Grupo Meimei aconteceram na Rua de São Sebastião, na residência da viúva de José Cândido Xavier, Geni Pena Xavier, a quinta sede do Centro Espírita Luiz Gonzaga. Dois anos depois as atividades foram transferidas para a sua sede definitiva, à Rua Benedito Valadares, nº 61 - A.

Em depoimento de Chico Xavier na década de 1980, a construção da sede ficou projetada para o fundo do lote intencionalmente adquirido como estratégia para não chamar as atenções dos moradores com as comunicações dos Espíritos sofredores. Na época, as crendices e superstições em relação às práticas mediúnicas espíritas na pequena Pedro Leopoldo eram muito maiores do que hoje.

Como as reuniões do Centro Espírita Luiz Gonzaga aconteciam às segundas e sextas-feiras, o trabalho de desobsessão do Grupo Meimei passou a acontecer todas as quintas, permanecendo até hoje no mesmo dia e horário estabelecidos pelos primeiros trabalhadores.

Ainda segundo Arnaldo Rocha, na noite de 11 de março de 1954, através da generosidade de Carlos Torres Pastorino, da cidade do Rio de Janeiro, o Grupo Meimei foi presenteado com um gravador de fita de rolo, utilizado desde então para registrar os momentos inesquecíveis com Francisco Cândido Xavier, como consta nos livros Instruções psicofônicas e Vozes do Grande Além, ambos publicados pela Federação Espírita Brasileira.

Até 1988, segundo Eugênio Eustáquio dos Santos, atual presidente do Grupo Meimei, hoje Centro Espírita Meimei, não havia nenhum registro oficial do grupo. n Esse fato foi observado quando ele e um grupo de amigos resolveram fundar e registrar o Grupo Espírita Chiquinho Carvalho, outra instituição que também utiliza as mesmas dependências físicas do Meimei. n

Para regularizar o Grupo Espírita Chiquinho Carvalho, foi necessário regularizar o Grupo Meimei, por meio de uma convocação da Assembleia Geral, ocorrida no dia 28 de março de 1988. Foi nessa mesma reunião que o nome passou de Grupo Meimei para Centro Espírita Meimei e na qual foi prestada uma homenagem a todos os companheiros fundadores da instituição.

Entre os antigos trabalhadores do então Grupo Meimei, gostaria de destacar duas pessoas que tive o privilégio de conhecer: a irmã de Chico Xavier, Cidália Xavier de Carvalho, que permanece, até hoje, colaborando no grupo como médium psicofônica, com exemplos diários de fé em Deus e vontade de viver sempre com esperança e alegria, e a companheira Josefa Soares dos Santos, há aproximadamente 52 anos exercendo com amor e humildade a função de “guardiã” e zeladora da instituição.

Vale também ressaltar que o Meimei também ofereceu as suas dependências para o funcionamento do Grupo Espírita Scheilla, fundado por José Flaviano Machado (Zeca Machado) em 3 de agosto de 1954, no qual funcionou (e ainda funciona, mesmo com sede própria) todas as terças-feiras. Tal fato nos leva a concluir que o movimento espírita de Pedro Leopoldo também tem uma gratidão histórica para com a instituição, pois num mesmo espaço existiram e ainda existem três casas espíritas ocupando as mesmas dependências físicas, o que representa um ideal de fraternidade e união das casas espíritas em nossa cidade. (…)”


PRESIDENTES DO CENTRO ESPÍRITA MEIMEI

Arnaldo Rocha

Francisco Teixeira de Carvalho

Geraldo Benício Rocha

Decanor Gonçalves

Eugênio Eustáquio dos Santos


Eugênio Eustáquio dos Santos



NOTAS DO ORGANIZADOR

[1] Além do Centro Espírita Luiz Gonzaga e do Centro Espírita Meimei, o movimento espírita de Pedro Leopoldo conta com o Grupo Espírita Scheilla, o Centro Espírita Beneficente Bezerra de Menezes, o Templo Espírita Leopoldo Cirne, o Grupo Espírita Chiquinho Carvalho, o Centro Espírita Casa do Caminho e o Grupo Espírita A Caminho da Luz. Além dessas instituições espíritas, existem duas na cidade de Matozinhos vinculadas a Pedro Leopoldo: o Centro Espírita Amor e Luz e o Centro Espírita Albino Teixeira. Atualmente, são dez instituições espíritas filiadas à Aliança Municipal Espírita (AME), órgão de caráter unificador.


[2] XAVIER, Francisco Cândido; ROCHA, Arnaldo (Org.). Instruções psicofônicas. Ditado por Espíritos diversos. Rio de Janeiro: FEB, 1955. p. 12.


[3] José Cândido Xavier nasceu em 30 de maio de 1905, portanto, era cinco anos mais velho que Chico Xavier e desencarnou em 19 de fevereiro de 1939, antes de completar 34 anos.


[4] XAVIER, Francisco Cândido; NETO, Geraldo Lemos; GONÇALVES, Sérgio Luiz Ferreira (Orgs.) Chico Xavier - O primeiro livro. Belo Horizonte: Vinha de Luz, 2010. p. 37.


[5] O companheiro de ideal Oceano Vieira de Melo, da Versátil Vídeo Spirite, da cidade de São Paulo, vem desenvolvendo um excelente trabalho na recuperação da memória histórica do movimento espírita brasileiro. Destaco o resgate de grande parte dessas gravações da psicofonia de Chico Xavier no antigo Grupo Meimei.


[6] Francisco Teixeira de Carvalho (Chiquinho Carvalho), marido de Cidália Xavier de Carvalho, trabalhou por muitos anos no Centro Espírita Luiz Gonzaga e no Grupo Meimei, se transformando em uma das maiores referências do movimento espírita de Pedro Leopoldo.


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