O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Os mensageiros — André Luiz


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No trabalho ativo

(Sumário)

1. A interpretação de Bentes, obedecendo à inspiração de um emissário de nobre posição, presente à assembleia, era recebida com respeito geral no Círculo das entidades desencarnadas.

2 Na Esfera dos encarnados, porém, não se notava o mesmo traço de harmonia. Observava-se apreciável instabilidade de pensamento. A expectativa ansiosa dos presentes perturbava a corrente vibratória. 3 De quando em quando, surpreendíamos determinados desequilíbrios, que afetavam, particularmente, a organização mediúnica de Dona Isabel e a posição receptiva do comentarista, que parecia perder “o fio das ideias”, tal qual se diria na linguagem comum. Colaboradores ativos restabeleciam o ritmo, quanto possível. 4 Reparamos que alguns irmãos encarnados se mantinham irrequietos, em demasia. Mormente os mais novos em conhecimentos doutrinários exibiam enorme irresponsabilidade. A mente lhes vagava muito longe dos comentários edificantes. Via-se-lhes, distintamente, as imagens mentais. Alguns se prendiam aos quefazeres domésticos, outros se impacientavam por não lograrem a realização imediata dos propósitos que os haviam levado até ali.


2. Aniceto, que não perdia ocasião de prestar-nos esclarecimentos novos, considerou, discreto:

— Muitos estudiosos do Espiritismo se preocupam com o problema da concentração, em trabalhos de natureza espiritual. 2 Não são poucos os que estabelecem padrão ao aspecto exterior da pessoa concentrada, os que exigem determinada atitude corporal e os que esperam resultados rápidos nas atividades dessa ordem. Entretanto, quem diz concentrar, forçosamente se refere ao ato de congregar alguma coisa. 3 Ora, se os amigos encarnados não tomam a sério as responsabilidades que lhes dizem respeito, fora dos recintos de prática espiritista, se, porventura, são cultores da leviandade, da indiferença, do erro deliberado e incessante, da teimosia, da inobservância interna dos conselhos de perfeição cedidos a outrem, que poderão concentrar nos momentos fugazes de serviço espiritual? 4 Boa concentração exige vida reta. Para que os nossos pensamentos se congreguem uns aos outros, fornecendo o potencial de nobre união para o bem, é indispensável o trabalho preparatório de atividades mentais na meditação de ordem superior. 5 A atitude íntima de relaxamento, ante as lições evangélicas recebidas, não pode conferir ao crente, ou ao cooperador, a concentração de forças espirituais no serviço de elevação, tão só porque estes se entreguem, apenas por alguns minutos na semana, a pensamentos compulsórios de amor cristão. Como veem, o assunto é complexo e demanda longas considerações e ensinamentos.


3. Reparei com mais atenção os circunstantes encarnados. Não fosse o devotamento dos colaboradores do nosso Plano, tornar-se-ia impossível qualquer proveito concreto.

2 Isidoro e outros amigos devotados trabalhavam com ardor, despertando alguns dorminhocos e reajustando o pensamento dos invigilantes, para neutralizar determinadas influências nocivas.

3 Eu reconhecia que os benefícios imediatos da doutrinação de Bentes eram muito mais visíveis entre os desencarnados. No grupo destes, não havia um só que não recebesse consolações diretas e sublime conforto.

4 Finda a interpretação, pouco antes de se entregar Dona Isabel ao trabalho do receituário, observei que uma senhora desencarnada se aproximara de Isidoro, pedindo, emocionada:

— Ser-lhe-á possível, meu irmão, entender-se por mim com os nossos orientadores quanto à possibilidade de me comunicar diretamente com a minha filha, presente à reunião? Estou certa de que, com a permissão devida, nossa Isabel me atenderá a angústia materna.

5 O interpelado mostrou sincero desejo de ser útil, mas, depois de trocar algumas palavras com o instrutor mais graduado da reunião, que se colocara entre a médium e o doutrinador, veio trazer a resposta, algo constrangido, com grande surpresa para mim:

— Minha irmã, — disse ele, — o nosso nobre Anselmo não julga viável o seu pedido. 6 Asseverou que sua filhinha ainda não está em condições de receber essa bênção. Ela tem necessidade de testemunhar, agora, o que aprendeu do seu exemplo, no mundo, e precisa permanecer no campo da oportunidade, sem repousar indevidamente nos seus braços.

7 E como a senhora denotasse tristeza, Isidoro continuou em tom fraternal:

— Não somente por isso, minha amiga, nosso instrutor se vê forçado a desatender. 8 A medida traria inconveniente grave para o seu sentimento maternal. No estado evolutivo em que se encontra, e considerando o velho hábito adquirido, a filhinha se agarraria excessivamente ao seu auxílio. Prender-se-ia à mãezinha afetuosa e sensível, e talvez a irmã se visse perturbada em sua nova carreira espiritual. 9 Ela precisa estar mais livre para testemunhar, enquanto o seu coração deve permanecer em liberdade, por nobre merecimento conquistado ao preço do seu suor e lágrimas, quando na Terra. 10 Considerando, embora, o caráter sagrado do amor em sua feição maternal, nossos orientadores não podem conceder à sua filha o direito de perturbá-la. Compreende? Não se atormente com esta impossibilidade transitória. Lembre-se de que todos somos filhos de Deus. O Senhor terá recursos para atender à jovem, em seu lugar. 11 Quanto ao mais, alegremo-nos em nossos serviços. Recorde que o auxílio não se verificará pelo processo direto, mas podemos recorrer ao método indireto. Quem sabe? Amanhã, possivelmente, poderá encontrar-se com sua filha, em sonho.

A interpelada sorriu, confortada, e obtemperou:

— É verdade. Devo compreender a nova situação.


4. Nesse instante, acercou-se de Isidoro uma entidade amiga, que solicitou:

— Meu caro, estimaria suas providências junto dos receitistas, para que forneçam novas indicações ao Amaro. Meu sobrinho necessita de amparo à saúde física.

2 O esposo espiritual de Isabel tomou uma expressão significativa e respondeu:

— Não posso, meu amigo, não posso. Se Amaro pedir e os receitistas cederem, tudo estará muito bem; mas você não ignora que o nosso doente é muito rebelde. 3 Já lhe providenciei a obtenção de conselhos médicos do nosso Plano, por cinco vezes, sem que ele correspondesse aos nossos esforços. Não se resolve a adquirir os remédios indicados, e quando os obtém, por obséquio de amigos, despreza os horários e julga-se superior ao método. Critica mordazmente as indicações obtidas e serve-se delas com desprezo. 4 Naturalmente não estou agastado com isso, como adulto que se não aborrece com as brincadeiras de uma criança; mas você compreende que estamos lidando com um material muito sagrado e não há tempo para conviver com os que estimam a brincadeira. Além disso, não será caridade o ato de dar aos que não querem receber.

5 Isidoro falava com uma inflexão de bondade fraternal, que afastava todos os característicos da franqueza contundente. Compreendi que, para atender a tanta gente e movimentar-se entre tantos propósitos heterogêneos, não seria possível tratar os assuntos de outro modo.

6 O serviço prosseguia com enorme demonstração educativa para Vicente e para mim. O esforço dos clínicos espirituais, aliado à abnegação da intermediária, comovia-me o coração. Era necessário, de fato, grande renúncia para atender ao trabalho compacto e numeroso, no setor de assistência aos encarnados, porque poucos frequentadores do grupo pareciam manter atitude correspondente à sublime dedicação fraternal em nome do Mestre.

7 Aniceto, porém, adivinhando meus pensamentos, falou com bondade:

— Um dia, André, você compreenderá, com Jesus, que melhor é servir que ser servido; mais belo é dar que receber. ( † )


André Luiz



[Os capítulos do n.º 43 ao 48, dizem respeito às observações e estudos efetuados por André Luiz em uma reunião de trabalhos espirituais na residência de Dona Isabel.]


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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