O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Os mensageiros — André Luiz


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Rumo ao campo

(Sumário)

1. Quase todos os servidores espirituais puseram-se a caminho de tarefas variadas. Somente alguns amigos permaneceriam na residência de Dona Isabel, em missão de auxílio e vigilância.

2 Notei que Aniceto continuava distribuindo instruções diversas, dirigindo-se, em caráter confidencial, a determinados companheiros, a respeito da missão que lhe confiara Telésforo.

3 Antes do meio-dia, porém, convidou-nos a acompanhá-lo.

— Na oficina, — disse-nos, bondoso, — encontramos revigoramento imprescindível ao trabalho. Recebemos reforços de energia, alimentamo-nos convenientemente para prosseguir no esforço, mas convenhamos que, para muitos de nós, a noite representou uma série de atividades longas e exaustivas. Necessitamos de algum descanso. Voltaremos ao crepúsculo.

4 Aonde iríamos? Ignorava. Recordei que, de fato, se alguns haviam repousado no santuário doméstico, durante a noite, a maioria havia trabalhado intensamente, e concluí que, se muitos pela manhã haviam tomado rumo às obrigações, outros teriam buscado o repouso indispensável.

5 — Aonde ides? — Perguntou um companheiro da vigilância, que se fizera nosso amigo.

Antes que respondêssemos, Aniceto esclareceu:

— Vamos ao campo.

6 E, dirigindo-se especialmente a Vicente e a mim, considerou:

— Utilizemos a volição, mesmo porque não temos objetivos imediatos no centro urbano. Notei que movimentava agora minhas faculdades volitivas com facilidade crescente. 7 A excursão educativa, com escala pelo Posto de Socorro de Campo da Paz, fizera-me grande bem. Melhorara em adestramento, sentia-me fortalecido ante as vibrações de ordem inferior, mobilizava os recursos próprios sem dificuldade. 8 Reparei, igualmente, que minhas possibilidades visuais cresciam sensivelmente. Volitando em pleno, não observara, até então, o que agora verificava, extremamente surpreendido. 9 Dantes, via somente os homens, os animais, veículos e edifícios chumbados ao solo. Agora, a visão dilatava-se. Reconhecia, de longe, o peso considerável do ar que se agarrava à superfície. 10 Tive a impressão de que nadávamos em alta zona do mar de oxigênio, vendo em baixo, em águas turvas, enorme quantidade de irmãos nossos a se arrastarem pesadamente, metidos em escafandros muito densos, no fundo lodoso do oceano.


2. — Estão vendo aquelas manchas escuras na via pública? — Indagava nosso orientador, percebendo-nos a estranheza e o desejo de aprender cada vez mais.

2 Como não soubéssemos definir com exatidão, prosseguia explicando:

— São as nuvens de bactérias variadas. Flutuam, quase sempre também, em grupos compactos, obedecendo ao princípio das afinidades. Reparem aqueles arabescos de sombra…

3 E indicava-nos certos edifícios e certas regiões citadinas.

— Observem os grandes núcleos pardacentos ou completamente obscuros!… São zonas de matéria mental inferior, matéria que é expelida incessantemente por certa classe de pessoas. 4 Se demorarmos em nossas investigações, veremos igualmente os monstros que se arrastam nos passos das criaturas, atraídos por elas mesmas…

5 Imprimindo grave inflexão às palavras, considerou:

— Tanto assalta o homem a nuvem de bactérias destruidoras da vida física, quanto as formas caprichosas das sombras que ameaçam o equilíbrio mental. 6 Como veem, o “orai e vigiai” do Evangelho ( † ) tem profunda importância em qualquer situação e a qualquer tempo. 7 Somente os homens de mentalidade positiva, na Esfera da espiritualidade superior, conseguem sobrepor-se às influências múltiplas de natureza menos digna.

8 Interessado, contudo, em maior esclarecimento, perguntei:

— Mas a matéria mental emitida pelo homem inferior tem vida própria como o núcleo de corpúsculos microscópicos de que se originam as enfermidades corporais?

9 O mentor generoso sorriu singularmente e acentuou:

— Como não? Vocês, presentemente, não desconhecem que o homem terreno vive num aparelho psicofísico. Não podemos considerar somente, no capítulo das moléstias, a situação fisiológica propriamente dita, mas também o quadro psíquico da personalidade encarnada. 10 Ora, se temos a nuvem de bactérias produzidas pelo corpo doente, temos a nuvem de larvas mentais produzidas pela mente enferma, em identidade de circunstâncias. 11 Desse modo, na esfera das criaturas desprevenidas de recursos espirituais, tanto adoecem corpos, como almas. No futuro, por esse mesmo motivo, a medicina da alma absorverá a medicina do corpo. 12 Poderemos, na atualidade da Terra, fornecer tratamento ao organismo de carne. Semelhante tarefa dignifica a missão do consolo, da instrução e do alívio. Mas, no que concerne à cura real, somos forçados a reconhecer que esta pertence exclusivamente ao homem-espírito.


3. — Deus meu! — Exclamou Vicente, espantado, — a que perigos está submetido o homem comum!

2 — Por isso, — tornou Aniceto, cuidadoso, — a existência terrestre é uma gloriosa oportunidade para os que se interessam pelo conhecimento e elevação de si mesmos. 3 E, por esta mesma razão, ensinamos a necessidade da fé religiosa entre as criaturas humanas. 4 Desenvolvendo essa campanha, não pretendemos intensificar as paixões nefastas do sectarismo, mas criar um estado positivo de confiança, otimismo e ânimo sadio na mente de cada companheiro encarnado. Até agora, apenas a fé pode proporcionar essa realização. 5 As ciências e as filosofias preparam o campo; entretanto, a fé que vence a morte, é a semente vital. Possuindo-lhe o valor eterno, encontra o homem bastante dinamismo espiritual para combater até à vitória plena em si mesmo.

6 Compreendendo que precisaria completar o esclarecimento, exclamou, depois de pausa mais longa:

— Todos precisamos saber emitir e saber receber. Para alcançarem a posição de equilíbrio, nesse mister, empenham-se os homens encarnados e nós outros, em luta incessante. 7 E já que conhecemos alguma coisa da eternidade, é preciso não esquecer que toda queda prejudica a realização, e todo esforço nobre ajuda sempre.


4. As explicações recebidas não poderiam ser mais claras. Aquela visão, porém, de ruas repletas de pontos sombrios a se deslocarem vagarosos, atingindo homens e máquinas, nas vias públicas, assombrava-me.

2 Sequioso de ensinamentos, tornei ao assunto:

— A lição para mim tem valores incalculáveis. E quando penso no alto poder reprodutivo da flora microbiana…

Aniceto, contudo, não me deixou terminar. Conhecendo, de antemão, minha pergunta natural, cortou-me a frase, exclamando:

3 — Sim, André, se não fosse o poder muito maior da luz solar, casada ao magnetismo terrestre, poder esse que destrói intensivamente para selecionar as manifestações da vida, na Esfera da Crosta, a flora microbiana de ordem inferior não teria permitido a existência dum só homem na superfície do globo. 4 Por esta razão, o solo e as plantas estão cheios de princípios curativos e transformadores.

5 E, abanando significativamente a cabeça, concluiu:

Nada obstante esse poder imenso, recurso divino, enquanto os homens, herdeiros de Deus, cultivarem o campo inferior da vida, haverá também criações inferiores, em número bastante para a batalha sem tréguas em que devem ganhar os valores legítimos da evolução.


André Luiz


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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