O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Na era do Espírito — Autores diversos — F. C. Xavier / J. Herculano Pires


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Opiniões sobre a juventude

Chico Xavier


“Em nossa reunião pública O Evangelho Segundo o Espiritismo ( † ) nos ofereceu para estudo o item 9 do capítulo XIV, referente ao problema da indiferença dos filhos para com os pais terrestres. O Livro dos Espíritos ( † ) nos deu a questão n.º 264 sobre a escolha de provas e rumos feita pelo Espírito antes da sua reencarnação.

Estabeleceu-se o diálogo entre vários pais e mães presentes à reunião, de permeio com as dissertações evangélicas pelos irmãos que se incumbem dessa tarefa. A troca de pontos de vista foi pacífica, mas muito ardente.

As opiniões sobre a juventude foram as mais diversas. Como de hábito, Emmanuel escreveu ao término do nosso encontro a página a que deu o título de “Jovens difíceis” que não só por mim, mas por instância de muitos dos amigos visitantes, envio-lhe para os seus comentários em favor de nossos estudos.”


JOVENS DIFÍCEIS


Emmanuel


1 Terás talvez contigo jovens difíceis para instalar convenientemente na vida.

2 Inquestionavelmente é preciso apoiá-los quanto se nos faça possível. Capacitemo-nos, porém, de que ampará-los não será traçar-lhes a obrigação de copiar-nos os tipos de felicidade ou vivência.

3 Claro que não nos compete o direito de abandoná-los a si próprios quando ainda inexperientes. Entretanto, isso não significa devamos destruir-lhes a vocação, furtando-lhes a autenticidade em que se lhes caracteriza a existência.

4 Sonharemos para nossos filhos, no Mundo, invejável destaque nas profissões liberais com primorosas titulações acadêmicas, mas é provável hajam renascido conosco para os serviços da gleba, aspirando a adquirir duros calos nas mãos a fim de se realizarem na elevação que demandam.

5 De outras vezes ideamos para eles a formação do lar em que nos premiem o anseio de possuir respeitáveis descendentes. No entanto, é possível estejam conosco para longas experiências em condições de celibato, carregando problemas e provas que lhes dizem respeito ao burilamento espiritual.

6 Às vezes gritamos revoltados contra eles, exigindo nos adotem o modo de ser. Frequentemente, porém, se isso acontece, acabamos por perdê-los em mãos que lhes deslustram os sentimentos ou lhes estragam a vida, quando não os empurramos, inconscientemente, para a furna dos tóxicos ou para os despenhadeiros do desequilíbrio mental com que se matriculam nos manicômios.

7 Compadece-te dos filhos que pareçam diferentes de ti. Aceita-os como são e auxilia a cada um deles na integração com o trabalho em que se façam dignos da vida que vieram viver.

8 Ampara-os sem imposição e sem violência. Antes de te surgirem à frente por filhos de teu amor, são filhos de Deus, cujo Amor Infinito vela em nós e por nós.

9 Ainda mesmo quando evidenciem características inquietantes, abençoa-os e orienta-os, quanto possível, a fim de que se mantenham por esteios vivos de rendimento do bem no Bem Comum.

10 E mesmo quando não te possam compartilhar do teto e se te afastem da companhia, a pretexto de independência, abençoa-os mesmo assim, compreendendo que todos nós, desde que nos vinculemos à ordem e ao trabalho no dever que nos compete, sem prejudicar a ninguém, desfrutamos por Lei Divina o privilégio de descobrir qual é para nós o melhor caminho de agir e servir, viver e sobreviver.


O AMPARO DOS PAIS


Irmão Saulo


Todos os jovens precisam do amparo dos pais, embora na adolescência, em geral, a rebeldia dos filhos seja inevitável. Uma tradição de severidade paterna, pautada pelo autoritarismo político e religioso, deu aos pais o conceito errôneo de que devem sujeitar os filhos — e particularmente os jovens — aos seus princípios e maneira de ser. Mas os jovens trazem a sua própria personalidade e o seu próprio roteiro de vida, e justamente nessa fase da adolescência estão firmando o seu eu diante do mundo.

É conhecido o problema da “crise da adolescência”, sobre a qual Maurice Debesse escreveu um dos seus livros mais belos e profundos. Mas é em René Hubert, no capítulo sobre a Psicologia da Juventude, de sua “Pedagogia Geral”, que encontramos maior sintonia com os princípios espíritas. Psicólogos e Pedagogos conhecem bem esse problema que responde pelo chamado “conflito de gerações”. Emmanuel nos dá a sua chave ao lembrar que cada espírito já traz para a Terra a sua prova e o seu roteiro de serviço, escolhidos livremente na vida espiritual segundo as suas necessidades de evolução e aprimoramento.

O amparo dos pais não pode ser dado por meio de imposição e autoritarismo, sob pena de deixar de ser amparo para se transformar em tirania. Se o “conflito de gerações” sempre existiu no mundo, agora se mostra mais violento porque o tempo da tirania está no fim e porque a era de transição em que vivemos acentua nos jovens os anseios do futuro. Os pais só poderão ampará-los se tiverem amor suficiente para compreendê-los e ajudá-los sem exigências. Esta é também uma hora de aprendizado para os pais. E só o amor verdadeiro pelos filhos pode socorrê-los.

O jovem de hoje é o homem de amanhã. Os tempos mudam e não podemos querer sujeitá-los ao nosso modelo. Qualquer coação paterna só poderá afastá-los de casa e da família, lançando-os a meios e companhias perigosos. A verdadeira educação é o equilíbrio entre o amor e a compreensão. A energia paterna e a disciplina filial brotam naturalmente entre essas duas margens, fluindo como as águas de uma fonte na paisagem da vida.


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