O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Mensagens de Inês de Castro — F. C. Xavier / Caio Ramacciotti / Inês de Castro


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Um pouco de História

A profunda dor que se abateu sobre Inês de Castro ( † ) e Pedro ( † ) e seus previsíveis desdobramentos definiram nova realidade para Portugal.

Assinada a paz em Canaveses, ( † ) formalizando-se a antecipação de poderes na importante área da justiça real, passou o infante a dividir as tarefas do reino com Afonso IV. ( † )

E vemos as dramáticas cores da tragédia esbaterem-se ao longo dos meses e também desfalecer parcialmente em Pedro o ímpeto de revindita.

Voltaremos a falar sobre a saga que tanto comoveu a Pátria, sendo objeto mesmo de estudos, biografias, poemas de autores respeitáveis e da admiração do povo, que incorporou Inês, ao lado da Rainha Santa, ( † ) qual símbolo do profundo amor, apanágio da gente portuguesa.

Amor que é cantado em verso por Júlio Dantas, ( † ) em sua belíssima peça, A Ceia dos Cardeais, no depoimento do Cardeal Gonzaga, respondendo ao colega Rufo:

— Em que pensa, cardeal?

— Em como é diferente o amor em Portugal!
Nem a frase subtil, nem o duelo sangrento…
É o amor coração, é o amor sentimento.
Uma lágrima… Um beijo… Uns sinos a tocar…
Um parzinho que ajoelha e que se vai casar.
Tão simples tudo! Amor, que de rosas se enflora:
Em sendo triste canta, em sendo alegre chora!
O amor simplicidade, o amor delicadeza…
Ai, como sabe amar a gente portuguesa!

Nesse comenos, recordemos um pouco de história, o que nos servirá de moldura para a ênfase deste estudo, inspirado na triste sina do amor de Inês dos tempos finais da Idade Média.

Apresentaremos apenas um rápido escorço, pois não é nosso objetivo tratar da História de Portugal.

Para consulta mais detalhada, fazem parte da “Bibliografia” alguns livros esclarecedores sobre o período histórico de Portugal em que se desenrolou o episódio, descrito nas páginas iniciais desta obra com as tintas vivas da crua realidade.

Os textos mais antigos que falam da formação de Portugal datam do século VI antes de nossa era, mas os fatos são bem anteriores.

Indígenas autóctones habitavam a região havia cerca de cem mil anos.

Posteriormente, três mil anos antes de Cristo, já no fim do período neolítico, praticamente coincidindo com o início das civilizações históricas, chegavam os iberos, ( † ) que provavelmente vieram do Norte da África e deram o nome à Península. ( † )

Mais adiante, sem nos esquecermos da influência cartaginesa e grega, aportavam à Península, em torno de 600 a.C., os celtas, ( † ) povo asiático de grande estatura, pele clara e cabelos loiros, vindos através das Gálias. ( † )

Miscigenaram-se com os iberos, surgindo assim os celtiberos, ( † ) que alcançaram o início da era cristã já constituindo uma civilização mais desenvolvida na Península Ibérica, com universalização da comunicação, dado que os celtas falavam língua indo-europeia.

Nascia a Lusitânia, ( † ) palco posterior de invasões que deságuam no jugo romano, sob Augusto, pouco antes do nascimento de Jesus.

Com a queda de Roma, as invasões bárbaras, ainda incipientes, se acentuaram, e os visigodos ( † ) passaram a dominar a Península até a chegada dos sarracenos ( † ) em 709 de nossa era.

A dominação árabe, subjugando os visigodos, rechaçou-os para o norte da Lusitânia e gerou o início da chamada Reconquista, ( † ) que viria a ser essencialmente alcançada a 30 de outubro de 1340, às margens do Rio Salado. ( † )

Já afastados de toda a Península devido a sucessivas derrotas e então acantonados apenas em Granada, ( † ) os árabes foram praticamente expulsos para o norte da África.

A expulsão ocorreu, apesar da importante ajuda do rei do Marrocos ( † ) ao soberano sarraceno de Granada, graças, sobretudo, à heroica participação de Afonso IV de Portugal.

Ainda que derrotados na Batalha do Salado, ( † ) os árabes mantiveram o poder sobre o reino de Granada, que passou a ser governado por monarquias militarmente fracas e mais flexíveis aos interesses de Castela.

A Reconquista se concluiu definitivamente mais tarde, em 1492, com a intervenção dos reis católicos, Fernando e Isabel, que destituíram o monarca árabe de Granada, incorporando-a aos reinos de Aragão ( † ) e Castela. ( † )

Pouco adiante, no início do século XVI, delineou-se, com a conquista de Navarra, ( † ) o reino de Espanha, reunindo todos os reinos da Península Ibérica à exceção de Portugal. Voltando ao período da dominação sarracena, vemos o tempo passar com acentuadas mudanças na região da Lusitânia, desde a invasão de 709 até o início do século XII.

O reino de Leão, ( † ) que surgira durante a Reconquista, no século IX, estendia-se, no final do século XI, do noroeste da Península Ibérica até a região habitada pelos lusitanos, por meio de sua província, a Galiza, ( † ) que ocupava extensa área, englobando o Condado Portucalense ( † ) (situado entre o Minho e o Tejo).

Por essa época, cerca de 1095, chegam à região dois primos franceses de linhagem respeitável, os condes Raimundo ( † ) e Henrique, ( † ) nobres da família de Borgonha, ligados à Igreja por meio da importante Ordem de Cluny. ( † )

Casam-se com as filhas de Afonso VI, ( † ) rei de Leão: Raimundo com a filha legítima Hurraca, e Henrique com a bastarda Tereza.

Com o enlace das filhas, o rei divide a Província da Galiza em duas:
— ao norte o Condado da Galiza e
— ao sul o Condado Portucalense, entregando-os como dote respectivamente a Raimundo e Henrique.

O Conde D. Henrique lutou incansavelmente pela manutenção da autonomia do Condado Portucalense até seu falecimento, logo no início do século XII.

O filho, Afonso Henriques, ( † ) completou-lhe a tarefa, enfrentando duros embates nos confrontos regionais com Leão e Galiza e também com o invasor árabe.

Herói das batalhas de São Mamede ( † ) e de Ourique, ( † ) finalmente, em 1139, declara a independência de Portugal, inaugurando a dinastia afonsina.

Com a conquista do Algarve  ( † ) aos mouros, em meados do século XIII, por Afonso III, ( † ) quinto rei da dinastia afonsina, Portugal passa a apresentar configuração geográfica continental próxima à que observamos nos dias atuais.


Nota — A Galiza fazia parte do reino de Leão, como frisamos. Citamo-la com destaque, neste capítulo, por suas fronteiras com o norte do Condado Portucalense e pela rica e intensa história em comum que apresentam.




À época em que se desenvolvem os fatos ligados à história de Inês de Castro, cerca de 1350, vemos a Península Ibérica ( † ) assim constituída:
— ao sudoeste: Portugal, ( † ) abrindo-se para o Atlântico;
— ao noroeste e centro: com avantajada extensão geográfica rumo do nordeste e sul da Península, o reino de Castela ( † ) (ao qual desde 1230 achava-se incorporado o reino de Leão ( † ) com a Galiza); ( † )
— ao norte: Navarra; ( † )
— ao norte e nordeste: Aragão, ( † ) associado ao condado da Catalunha, ( † ) banhado pelas águas do Mediterrâneo;
— ao sul: separado do norte da África pelo Mediterrâneo, próximo ao Estreito de Gibraltar, ( † ) vigiado pelas Colunas de Hércules,( † ) o reino de Granada, ( † ) na região hoje ocupada pela Andaluzia. ( † )

Em resumo, a Península Ibérica era dividida entre portugueses e espanhóis, estes agrupados nos reinos supracitados, conforme observamos no Mapa de Burns, na página seguinte.


Caio Ramacciotti


Texto extraído da 35ª edição desse livro, revisto e ampliado pelo autor.

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