O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Jesus no lar — Neio Lúcio


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A escola das almas

1 Congregados, em torno do Cristo, os domésticos de Simão ouviram a voz suave e persuasiva do Mestre, comentando os sagrados textos.

2 Quando a palavra divina terminou a formosa preleção, a sogra de Pedro indagou, inquieta:

— Senhor, afinal de contas, que vem a ser a nossa vida no lar?

3 Contemplou-a ele, significativamente, demonstrando a expectativa de mais amplos esclarecimentos, e a matrona acrescentou:

— Iniciamos a tarefa entre flores para encontrarmos depois pesada colheita de espinhos. No começo, é a promessa de paz e compreensão; entretanto, logo após, surgem pedras e dissabores…

4 Reparando que a senhora galileia se sensibilizara até às lagrimas, deu-se pressa Jesus em responder:

— O lar é a escola das almas, o templo onde a sabedoria divina nos habilita, pouco a pouco, ao grande entendimento da Humanidade.

5 E, sorrindo, perguntou:

— Que fazes inicialmente às lentilhas, antes de servi-las à refeição?

6 A interpelada respondeu, titubeante:

— Naturalmente, Senhor, cabe-me levá-las ao fogo para que se façam suficientemente cozidas. Depois devo temperá-las, tornando-as agradáveis ao sabor.

— Pretenderias, também, porventura, servir pão cru à mesa?

— De modo algum, — tornou a velha humilde; — antes de entregá-lo ao consumo caseiro, compete-me guardá-lo no calor do forno. Sem essa medida…

7 O Divino Amigo então considerou:

— Há também um banquete festivo na vida celestial, onde nossos sentimentos devem servir à glória do Pai. O lar, na maioria das vezes, é o cadinho santo ou o forno preparador. O que nos parece aflição ou sofrimento dentro dele é recurso espiritual. 8 O coração acordado para a Vontade do Senhor retira as mais luminosas bênçãos de suas lutas renovadoras, porque, somente aí, de encontro uns com os outros, examinando aspirações e tendências que não são nossas, observando defeitos alheios e suportando-os, aprendemos a desfazer as próprias imperfeições. 9 Nunca notou a rapidez da existência de um homem? A vida carnal é idêntica à flor da erva. Pela manhã emite perfume, à noite, desaparece… 10 O lar é um curso ligeiro para a fraternidade que desfrutaremos na vida eterna. Sofrimentos e conflitos naturais, em seu círculo, são lições.

11 A sogra de Simão escutou, atenciosa, e ponderou:

— Senhor, há criaturas, porém, que lutam e sofrem; no entanto, jamais aprendem.

12 O Cristo pousou na interlocutora os olhos muito lúcidos e tornou a indagar:

— Que fazes das lentilhas endurecidas que não cedem à ação do fogo?

— Ah! sem dúvida, atiro-as ao monturo, porque feririam a boca do comensal descuidado e confiante.

13 — Ocorre o mesmo, — terminou o Mestre, — com a alma rebelde às sugestões edificantes do lar. A luta comum mantém a fervura benéfica; todavia, quando chega a morte, a grande selecionadora do alimento espiritual para os celeiros de Nosso Pai, os corações que não cederam ao calor santificante, mantendo-se na mesma dureza, dentro da qual foram conduzidos ao forno bendito da carne, serão lançados fora, a fim de permanecerem, por tempo indeterminado, na condição de adubo, entre os detritos da Natureza.


Neio Lúcio


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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