O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Intercâmbio do bem — Familiares diversos


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Otávio José Sanches

03 JUNHO 1957 — 22 ABRIL 1984

Nasceu na capital paulista e passou parte de sua adolescência em Curitiba (PR), onde, aproveitando seu dom musical, liderou um conjunto com ativa participação no meio estudantil da época.

Espírito criativo e líder nato, retornou a São Paulo, com a família, continuando seus estudos.

Ingressou no mundo do comércio, fazendo grande número de amigos e apesar de muito jovem, já liderava na Rua da Mooca os lojistas, vindo a presidir com grande sucesso, a Comissão Pró-Festejos Natalinos da Mooca, promovida pelo Clube dos Lojistas Amigos da Mooca, em 1983.

Desencarnou no dia 27 de Abril de 1984, deixando, aqui na Terra, seus pais Manoel Sanchez Filho e D. Yolanda Castiglione Sanchez; sua irmã Eneida, o cunhado Noery (Pássaro) e o sobrinho Fábio.

A família, de sólida formação espírita, encontrou na Doutrina, e em especial na mediunidade de Chico Xavier, a tão desejada paz.

“Agradecemos ao Pai Celestial ter consentido que Cristo, o Divino Mestre, enviasse à Terra o nosso amado Chico Xavier, com a incumbência de entregar mensagens de paz e amor aos mais necessitados, entre os quais nós nos encontramos.

“A mensagem que recebemos constituiu, constitui e constituirá sempre um bálsamo para a nossa alma, e um consolo para o nosso coração. Nossa gratidão ao querido irmão Chico Xavier.” — Família Sanchez.




MENSAGEM


1 Querida mãezinha.
Estou aqui, de pensamento voltado igualmente para meu pai Manoel, de vez que até hoje sinto a necessidade de reunir os pais queridos na mesma faixa de fé em Deus e de paz em nós mesmos.

2 O assunto do pobre Roberto n ainda é um tema para muitas de nossas conversações, em me referindo aos diálogos no lar.

3 Mãezinha Yolanda, tudo já foi arquivado nas prateleiras do tempo; entretanto, quero dizer-lhe que encontrei em meu avô Manoel e em minha avó Angelina n dois professores de amor e de perdão.

4 Confesso-lhe que, ao acordar, num corpo diferente, mas profundamente ferido, a revolta me tomou o sentimento, porque o Roberto não tinha razão para brincar comigo, a ponto de exercitar a chamada roleta russa, atirando sobre a janela do meu carro e alcançando-me as veias importantes da cabeça, e despojando-me do corpo físico num lago de sangue, que ainda pude ver aos borbulhões, no assombro da hora extrema.

5 Tudo me fazia crer que me recuperaria, se conduzido imediatamente ao médico, mas um torpor estranho me dominou o corpo, a enrijecer-se e procurei na oração algum alívio, mas esse alívio apareceu com a inconsciência.

6 Nada mais vi nem ouvi, desconhecendo até hoje quanto tempo desprendi naquela inércia que me paralisava o cérebro, de modo que eu não conseguia pensar. 7 Aliás, muito gradativamente comecei a imaginar-me vivo de novo e me lembrava das impressões desagradáveis que a vista sobre qualquer revólver me causava.

8 Dias antes do gesto infeliz do pobre companheiro, que me alvejou supondo-se numa brincadeira, havia conversado com a nossa Cláudia, n sobre os meus presságios de que um revólver ou qualquer outra arma daria fim à minha existência. 9 A querida companheira me dissuadiu de tais ideias; entretanto, em meu íntimo registrava, de modo permanente, aquele estranho vaticínio de que a permanência no mundo para mim seria curta.

10 Acordando, e tomando consciência de mim mesmo, meu primeiro impulso foi aquele de revide, atribuindo ao amigo as piores qualidades. Esses pontos de ressentimento como que dançavam por dentro de minha cabeça, conquanto, eu ainda não tivesse exato conhecimento da desencarnação.

11 Foi a vovó Angelina que se aproximou de mim e se encarregou de me lavar as ideias infelizes. Com extrema bondade, minha avó se me deu a reconhecê-la e pediu-me calma. Pediu-me para situar-me no lugar do companheiro que passava à condição de culpado e tantas fraquezas me mostrou em meu próprio espírito, que me transferi da revolta para a compaixão.

12 Pobre Roberto! Ele carregará por muito tempo a visão de uma janela de vidro quebrada, à força de um projétil fatal e o sangue a me desertar das artérias estraçalhadas.

13 Penso, querida mãe, no amigo que se afastou de seu convívio e do convívio do meu pai Manoel, temendo represálias e suportando a carga do arrependimento tardio. Felizmente, esqueci a parte negativa daquele brinquedo sinistro e não quero mentalizar a arma que me afastou do corpo físico.

14 Procuro refletir no amigo que, afinal, acabou por ferir a si mesmo, porquanto de minha parte não tenho o mínimo sinal da garganta atingida. Peço-lhe dizer isso a meu pai, rogando-lhe em meu nome, compreensão para o infeliz companheiro.

15 Do meu estado atual posso dizer-lhes que vou passando da melhor maneira, refazendo-me de todo para retornar ao trabalho que me espera.

16 Mãe, peço ao seu carinho comunicar-se com a nossa Cláudia sobre o assunto, afirmando-lhe que estou vivo e que, tanto quanto se me faça possível, tentarei colaborar para a felicidade dela. Companheira admirável e menina inteligente e generosa, não lhe será difícil reconstituir o caminho para a felicidade que todos lhe desejamos.

17 Peço-lhe, ainda, informar à nossa Nê n que, em verdade, tenho visitado a ela e ao nosso amigo Pássaro, a fim de abraçar também o nosso anjo que o Céu lhes colocou nos braços. Entretanto, peço à nossa querida Nê não se impressionar com o que digo, porque as minhas visitas são de paz e amor, dessa paz e desse amor que a querida irmã plantou em meu coração.

18 Não há motivos para qualquer preocupação. Afinal os mortos não existem e os irmãos que se querem uns aos outros não conseguem sustentar distância e esquecimento.

19 O mesmo acontece em relação à nossa Lina e ao nosso Emílio, ao Fábio n e ao papai Manoel.

20 Mãezinha, estou bem, tão bem quanto pode estar um rapaz arrancado à força do corpo sadio e forte de que se servia, para viver entre os homens.

21 Minha bisavó Maria Sanchez n tem sido aqui igualmente outra mãe para mim e a vovó Angelina me consola, colocando entendimento e paz em meu espírito.

22 Mãe querida, se o Roberto aparecer em nossa casa, imagine nele a minha presença e que ninguém lhe falte com a gentileza que a ele devemos. O tiro havido, no fim de contas, hoje me parece uma destas brincadeiras de “faz de conta” que, em meninos, tantas vezes nos assinalou os encontros com os garotos do meu tempo de criança.

23 Querida mãezinha, disse o que pude, a fim de assegurar-lhes os pensamentos e termino aqui, rogando ao seu coração querido e a meu pai Manoel receberem o carinho iluminado de gratidão com as muitas saudades do seu filho, sempre seu filho e companheiro do coração,


Otávio José Sanchez

29 de março de 1985. 


Caio Ramacciotti

Paulo de Tarso Ramacciotti



[37] Rapaz que o alvejou.

[38] Manoel Sanchez e Angelina Castiglione, avós, desencarnados, respectivamente em 1956 e 1981.

[39] Cláudia Collaro Fernandes, noiva de Otávio.

[40] — maneira carinhosa com que chamava a irmã Eneida. Pássaro — apelido de Noery, seu cunhado.

[41] Lina e Emílio Calçade — tios e padrinhos do Otávio. Fábio — sobrinho.

[42] Maria Rosa Souto Morales — bisavó. Fato interessante ocorreu com relação a esta senhora. O Sr. Manoel, pai de Otávio, não a conheceu e não tinha conhecimento de sua existência. Após a mensagem é que, procurando nos registros competentes, veio a saber que era sua bisavó paterna, e que desencarnara mesmo antes de seu nascimento.


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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