O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Horas de luz — Familiares diversos


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Ricardo Jorge Pereira

“Conversando de pensamento a pensamento”

1 Querida mãezinha Gelta, estou em prece, rogando a Deus nos abençoe.

2 O coração materno tem força na Terra e no Plano Espiritual. O seu carinho viajou, atravessando tantos quilômetros, com o fim exclusivo de encontrar-nos e aqui estou à feição de um bloco de metal que fosse ativado pela força de um ímã. Sou trazido especialmente por seu amor a fim de falar de mim e dar notícias de que eu possa ser o portador.

3 Mamãe, tudo decorreu calmamente em nos referindo ao assunto de 25 de maio último. Compreendi o que se passava.

4 A certeza de que a moléstia difícil assenhoreara-se de todas as minhas forças, constrangendo-me a deixar a resistência física que ainda estava comigo.

5 Abraçá-la e abraçar o papai Otávio consciente de que não lhes falaria mais no corpo que me exigia repouso, não foi fácil.

6 No alvorecer de 25 de maio, amanheci com a íntima intuição que o término das forças me alcançavam. Sabia que o regresso do hospital para a casa, sem melhoras apreciáveis, era a circunstância mais clara ao meu problema.

7 Deixar a existência terrestre, quando tudo parecia me acenar a permanência em meus serviços começantes, n me feriam profundamente o coração, embora fizesse muita força para disfarçar as impressões reais de que me sentia possuído.

8 Foi necessário a oração vezes e vezes, apegando-me a ideia de mais delonga junto aos pais queridos. n Mas, uma força inabordável me destruía as células na intimidade da vida orgânica.

9 Quase 22 anos para iniciar o trabalho que pretendia fazer, construíram somente o alicerce que me cabia abandonar… Ainda assim, esforcei-me para entender a Lei de Deus que funcionava com tanta exatidão sobre mim, e rendi-me ao Poder Superior.

10 Foi aí, quando a aceitação se me fez plena, é que comecei a liberação do feixe de dores a que me via preso.

11 Tudo se resumiu a um sono inexplicável, do qual despertei com muitas perguntas dos amigos que me cercavam. Queriam saber o que eu fizera do tempo e o que pretendia prosseguir realizando.

12 Respondi com sinceridade que me propunha a auxiliar o papai na condução dos nossos serviços, pois era a minha aspiração essencial.

13 Entretanto me esclareceram que eu devia conformar-me com a renovação havida, e dispondo-me a servir a outras pessoas no mundo físico, pude conquistar a satisfação de estar perto daquele que com a sua maior ternura cuidou da minha vida.

14 Sei que nossas dificuldades foram extremas. Meu pai adoeceu, gravemente, e, vemo-lo até hoje com as nossas preocupações, para dotá-lo de conformismo e ânimo.

15 E assim, querida mãezinha, conquanto os pensamentos de tristeza negativa que nos conturbam ainda em muitas ocasiões, continuo consequentemente ao lado dele, a fim de transmitir-lhe todas as energias de que eu possa dispor, enquanto o Céu me permitir essa bênção.

16 Peço ao seu carinho não se afligir tanto por seu filho. Aqui prossigo em nossas tarefas de apoio recíproco.

17 Encontrei a bisa Herondina, n de quem ouvira referências em meu tempo curto na Terra e ela me abraçou como filho do coração.

18 Caminho gradativamente para diante, e venho rogar a sua bondade e a bondade querida do papai Otávio, para que me auxiliem com pensamentos positivos de paz e confiança.

19 Mãezinha, sou grato por todas as suas demonstrações de amor para comigo. Tudo está registrado em mim.

20 Aquelas noites longas, em que o relógio nos parecia mais lento, aquele carinho a observar se me achava bem, a sua reserva discreta, desejando ocultar-me a gravidade do meu próprio estado aos meus olhos, aquele carinho de enfermeira infatigável estão comigo, e peço a Deus recompensá-la com energias renovadas, a fim de que possa continuar em suas tarefas de anjo bom, à frente do papai Otávio, que vem recebendo tratamento seguro.

21 Diga-lhe, querida mamãe, que continuamos juntos, conversando de pensamento a pensamento. Deus nos auxiliará para vê-lo melhorando cada vez mais.

22 A vida é sempre um quadro de diversas oportunidades de servir e aprender e espero que o papai me compreenda.

23 O nosso amigo Dr. Leocádio, ' com os seus assessores, muito me ampararam no transe da libertação. Registro esse fato, porque desejo que os pais queridos se reúnam a mim no reconhecimento que lhe devo.

24 A bisa Herondina é uma enfermeira valente, e estou quase feliz, não fossem as saudades que são aqui um sofrimento geral para todas as criaturas que atravessaram as paralelas da espiritualidade.

25 Espero, querida mãezinha, voltar a escrever-lhe com mais segurança, em breve.

26 Peço-lhe abolir as lágrimas de nosso relacionamento através da prece.

27 Seu filho está sempre mais vivo do que nunca, e alimentando os melhores projetos para o futuro. Estejam calmos e felizes, porque Deus, o Pai de nós todos, espera que lhes atendamos as determinações com alegria.

28 Confiemos, hoje, aguardando o melhor para o amanhã. Isso é o que desejo dizer-lhes, pensando em nossa paz e agradecendo os bons amigos de Curitiba, que lhe incentivam o espírito para esta viagem, que vale para mim por santo reencontro.

29 Deixo para o seu carinho e para o querido papai Otávio, todo esse amor que me explode no coração, com isso mamãe, sou o seu fã número um em nossas lembranças da minha Cica de sempre.

30 O seu filho e companheiro de todos os momentos,


Ricardo


Dados esclarecedores sobre a mensagem de Ricardo Jorge Pereira


Antes de relacionar as nossas próprias impressões, colhidas numa entrevista com os senhores pais de Ricardo, em sua residência, na tarde de 23 de janeiro de 1982, em Curitiba, graças à gentileza do amigo Sr. Jales Ribeiro de Melo e de sua digna Esposa, D. Magdalena, transcrevamos, na íntegra, o depoimento, em manuscrito, de D. Gelta, que nos chegou às mãos, no dia 26 de abril de 1983, sobre o seu querido filho desencarnado e a mensagem psicografada pelo médium Xavier.

Ei-lo:


RICARDO JORGE PEREIRA

Nasc.: 25/6/1957.

Fal.: 25/5/1979.


Morreu de câncer. Sempre teve muita saúde.

Trabalhava no SESI (Serviço Social da Indústria).

Estava na Faculdade, cursando Administração de Empresas.

Jogava futebol de campo, futebol de salão, passeava, dançava, namorava, como qualquer jovem de sua idade.

Era filho único, muito bom, amoroso e com um coração enorme.

Tanto os parentes quanto os amigos o adoravam.

Entre a 1ª dor e a sua morte, houve um espaço de exatamente 100 dias.

O câncer, ao manifestar-se, imediatamente generalizou-se, não havendo a mínima esperança de cura.

Sofreu 100 dias, aos gritos, mas sem nunca mostrar, através de palavras, uma revolta sequer.

Ficou consciente até o fim.

Cantava, tocava violão e outros instrumentos, participava de rodas de samba, enfim, gostava da vida e a aproveitava, da melhor maneira possível.


Citações da Psicografia


Por acompanharem meu desespero, diversas pessoas me aconselharam ir até Uberaba, a fim de tentar receber uma psicografia do meu filho, para ver se conseguiria, senão o esquecimento, ao menos a conformação, a aceitação do fato.

Deus foi muito bom conosco, pois, conseguimos esta mensagem que muita força nos deu e continua sendo nosso apoio.

Quando cita bisa Herondina, refere-se à minha avó, já morta há cerca de 30 anos, e que meu filho nem conheceu, e muito pouco se falava dela, devido ao tempo que havia passado, desde sua morte.

Seu nome era Herondina Gonçalves de Farias, casada com Ermelino Gonçalves de Farias, ambos já mortos, e que sempre residiram em Curitiba.

Com relação à doença do pai, onde ele afirma a sua ajuda e força, tanto a ele, quanto a mim, isto aconteceu após 8 meses da morte de nosso filho, chegando meu marido a perder uma perna, provocada por trombose. n

Ao se despedir, quando diz “minha Cica de sempre”, refere-se a mim, pois ele, só ele, me chamava “minha Cica querida”, um apelido carinhoso e ao mesmo tempo para mexer comigo, por ser eu de compleição grande, e tudo fazer para parecer menor, ele resolveu que eu seria sua Cica, para os outros acharem que era meu apelido, mas, para ele, eu era o “elefantinho da Cica”, que ele muito amava.


São seus pais:

Otávio Pereira — nascido a 6/2/1920, em Curitiba.

Atualmente, está aposentado pelo SESI (Serviço Social da Industrial, sito à Rua Cândido de Abreu, 200.

Gelta Gelboke Pereira — professora, ainda atuante, autora de obras didáticas: Enciclopédia Ilustrada para a Educação Básica — Primário, de 1.º a 5.º ano — 15ª edição; Educantógrafo: Recursos Áudio-Visuais — 1.º a 8.º ano — 2ª edição.

Autora do Hino da Cruz Vermelha Infantil, aprovado no mundo, após participar de um Congresso, na Suécia.

Residem ainda no mesmo local, onde o Ricardo nasceu e morreu: Rua Carlos de Campos, n.º 70 — Bairro Boa Vista Curitiba — Paraná — telefone: 252-4643.


Passemos, agora, ao que conseguimos apurar sobre Ricardo e a mensagem que transmitiu, através do médium Xavier, a 5 de abril de 1980, na entrevista com seus pais, a que nos referimos linhas atrás.


1 — No SESI, onde o pai trabalhava, Ricardo exercia o cargo de Monitor.

2 — Era filho adotivo.

Depois de 11 anos de casados, Sr. Otávio e D. Gelta resolveram adotar um garoto.

Ao buscá-lo, no Hospital, onde nasceu, houve um desencontro de D. Gelta com a enfermeira, tendo esta levado o recém-nascido para o carro, onde o Sr. Otávio o aguardava, nos braços da esposa.

“Vendo-o, fiquei louco por ele”, disse-nos o entrevistado.

Sendo adorado por todos, ninguém percebia que ele era filho adotivo, e D. Gelta, antes da desencarnação de Ricardo, guardou absoluto sigilo a esse respeito. Daí a sua preocupação de quando o filho, na Vida Maior, viesse a saber toda a verdade relacionada com a sua origem.

Certa noite, um sobrinho de D. Gelta sonhou com Ricardo, mandando este o seguinte recado para a sua mãezinha: “Se eu amava a senhora antes, agora, amo-a muito mais, por saber que a senhora é minha mãe adotiva!”

3 — Ele sempre reclamava pela presença de uma irmã.

4 — Fez a Primeira Comunhão, mas não frequentava a Igreja Católica. Gostava do Espiritismo.

5 — Sua bisavó, D. Herondina Gonçalves de Farias, era espírita.

6 — Durante os cem dias em que o carcinoma testicular lhe minou o corpo denso, olhava Ricardo, nas horas de sofrimento mais intenso, para uma estampa do Cristo, e pedia alívio.

7 — O médico a que ele se refere, na mensagem, é o Dr. Leocádio José Correia, do Instituto de Medicina e Cirurgia do Paraná.

8 — Quando veio a Uberaba, à procura de Chico Xavier, ao notar que o médium de Emmanuel ia entrando em sua casa, D. Gelta desceu do ônibus e correu-lhe ao encontro, ouvindo dele as seguintes palavras:

— Se a senhora tiver que ser atendida, será!

Logo mais, — era um sábado de muita chuva —, ao conseguir se aproximar, novamente, do Chico, disse-lhe:

— Chico, eu perdi um filho único, e estou desesperada!

Ao que o médium veterano do Espiritismo respondeu:

— Ele está aí perto da senhora. Deus abençoe o seu coração!

Nenhuma palavra mais articulou D. Gelta, até que alta madrugada, do lado externo das dependências do Grupo Espírita da Prece, ouviu, tomada de grande emoção, o seu nome e o de Ricardo Jorge Pereira.

Daí por diante, seria outra a sua vida.

Concluindo, lembremo-nos de que é seríssima a peça mediúnica que nos mereceu a atenção até aqui, de vez que D. Gelta, se limitando a conversar pouquíssimo com o médium Xavier, através de seu lápis abençoado recebeu a prova inequívoca de que seu filho vive e é aquele mesmo Ricardo que dela mereceu as seguintes palavras, numa crônica — “Adeus, meu filho” —, que escreveu para um jornal de grande circulação, em Curitiba:

“Sim, saudade do filho querido que por 21 anos nos deu alegria, satisfação, amor.

“Lembrança do seu riso maravilhoso que inundava nosso lar, como o sol que ilumina o mundo. Lembrança louca dos seus braços longos que nos enlaçavam com firmeza, das mãos bem torneadas, dos seus dedos de artista que se entrelaçavam nos meus como que a transmitir calor, segurança. E seus olhos, como eram belos. Falavam comigo através da expressão. Brilhavam tanto que pareciam estrelas de primeira grandeza. Cantava, ria, dançava. Só tinha 21 anos. Era todo vida, felicidade, alegria.”


Elias Barbosa



Na carta que acompanhou o material de que ora estamos nos servindo, datada de Curitiba, 21/4/1983, o confrade Jales Ribeiro de Melo colocou o seguinte post-scriptum: “Foi amputada a outra perna do pai do Ricardo.”


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