O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Gratidão e paz — Familiares diversos


Capítulo 11


Luiz Paulo Alves Reis


“ESTÁVAMOS TODOS EM OUTRA VIDA”

O garotinho Luiz Paulo, de 11 anos, encontrava-se hospitalizado em Ribeirão Preto, SP, gravemente enfermo, sob tratamento de leucemia, quando seus avós Armando e Elisa, juntamente com a tia Ana, se acidentaram fatalmente, a 19 de agosto de 1983, na viagem de Colina, SP, àquela cidade. O carro chocou-se com um caminhão, sendo que somente a avó não faleceu no local, vindo também a desencarnar, dois dias após, na Santa Casa de Bebedouro, SP.

Tão doloroso acontecimento foi ocultado de Luiz Paulo até quatro dias antes de seu passamento, ocorrido a 1º de outubro de 1983, no dia em que foi desenganado pelos médicos. Ao receber a notícia, ele chorou muito, mas não fez nenhum comentário.

Porém, sete meses após, em amorosa carta mediúnica, o ativo garotinho voltou, curado da enfermidade, traçando longo comentário sobre suas novas experiências no Mundo Maior, destacando a primeira visita recebida, na condição de Espírito liberto, exatamente dos familiares queridos que não conseguiram chegar a Ribeirão Preto… E nesse reencontro de paz e carinho, Luiz Paulo foi informado pelo avô de que agora estavam todos em outra vida…




1 Querido papai Alexandre e querida mãezinha Kayoko, peço-lhes me abençoem.

2 Estou muito surpreso, mas venho até aqui, trazido por meu avô Armando, que me recomenda escrever-lhes alguma notícia.

3 Ele e outros amigos me auxiliam; no entanto, sinto-me ainda fraco e a novidade me abate um tanto. Sei que estamos numa reunião de gente amiga, mas, apesar de tudo, noto as mãos trêmulas porque a minha emoção é muito grande.

4 Pai, muito grato por desejar saber informações nossas. O senhor e a mãe Kayoko podem ficar tranquilos. Não fossem as dificuldades que vi em nosso ambiente familiar, com o falecimento de meus avós e da querida tia justamente quando se decidiram a visitar-me em Ribeirão, eu teria chegado aqui, na Vida Espiritual, em melhores condições, mas além daquela fraqueza progressiva que me prostrava, a notícia do acidente que nos privava da presença do vovô Armando, da vovó Elisa e da titia Ana, o choque de que me vi acometido era forte demais para mim.

5 Lembro-me da consternação de todos e da tristeza da Elisa, da Débora, Elo e do Alexandre, tristeza que não conseguiam me esconder. 6 Minhas energias pareciam marteladas por uma picareta invisível, porque eu estava entre a doença irreversível e a morte dos nossos queridos, aos quais eu amava tanto. Não me sentia mais um menino aos onze de idade, pois a dor me amadureceu o raciocínio de repente.

7 Lutei ainda para reaver as minhas forças. Não era possível entregar-me ao pessimismo, quando meus pais e meus irmãos necessitavam de mim; entretanto, a certeza de que eu não mais veria meus avós em nosso lar de Colina, me pareceu um peso esquisito, de cuja influência não consegui me levantar…

8 A doença havia apagado a minha capacidade de resistência e como que me resignei, embora sem me conformar à exigência externa que eu não compreendia… Exigência de me afastar do corpo fatigado e enfraquecido, como se fosse uma pessoa expulsa da própria casa.

9 Não pude mais. Chegou um momento, em que me vi cercado por irmãos franciscanos, pois eram eles, aos meus olhos, enfermeiros novos, que me assistiam. 10 Um deles colocou uma das mãos sobre a minha cabeça e adormeci. Passei por um tempo de esquecimento que não entendi até hoje. Parece que andei anestesiado por vários dias. 11 Quando acordei estava num aposento amplo com o meu avô Armando, a minha avó e a minha tia, estendendo-me os braços a falarem frases de bênção e boas vindas. Fiquei assombrado porque ignorava onde estava, se em Colina ou se em alguma instituição de saúde.

12 Tudo ali era paz e o corpo estava sem dores. Perguntei ansiosamente, sobre o que me sucedia, quando vovô Armando me explicou que estávamos todos em outra vida, e usando corpos sadios e mais seguros do que os nossos, aqueles que usávamos na Terra. 13 Chorei muito entre a alegria e o sofrimento, pensando em minha mãe e em meu pai, e lembrando-me de meus irmãos.

14 Quase descrendo de quanto via e ouvia, fui tratado por medicina que me reavivou o ânimo para retomar a vida; 15 entretanto, passei por uma espécie de diálise, em que todo o meu sangue foi reconstituído.

16 Depois de algum tempo, tive reconforto de ser visitado pelo amigo Antônio Bento, notícia que muito desejei transmitir à nossa Débora; e vou reencontrando amizades que me reconfortam.

17 Querido pai e querida mãezinha, aqui me prometem estudos e novas tarefas, nas quais me farei útil à nossa querida família. O vovô Armando me encoraja refletir no futuro com mais serenidade, e os estímulos das palavras dele me refazem para voltar a ser eu mesmo.

18 Rogo à mamãe Kayoko não chorar por mim. O meu tempo no corpo da existência física se cumpriu, e devo estar novamente forte para ser o filho corajoso e dedicado ao dever, que ela e o senhor sempre esperaram de mim.

19 Encontrei aqui igualmente um amigo dedicado, que me revelou ser o meu bisavô Yamaki, e de surpresa em surpresa espero conquistar as condições precisas, para ser o homem de bem que devo ser, tanto perante os meus familiares no Plano Físico, e também diante dos nossos familiares na Vida Espiritual.

20 Querido pai Alexandre e querida mamãe, envio lembranças para Elisa, Débora, Elo, Alexandre e todos os nossos.

21 Meu avô Armando me recomenda preparar-nos para a volta à nossa moradia, e me despeço com muitas saudades, pedindo aos pais queridos receberem as muitas aspirações e as muitas saudades, nos beijos do filho agradecido que sempre lhes pertencerá,


Luiz Paulo

Luiz Paulo Alves Reis.


Notas e Identificações

1 - Avô Armando, vovó Elisa e titia Ana — Avós paternos Armando Francisco Alves dos Reis (espírita convicto, frequentava o Centro Espírita em Colina, onde residia) e Elisa Chiaroti Alves dos Reis. Tia Ana dos Reis Sensato. Todos desencarnados em consequência do acidente, de automóvel, entre Terra Roxa e Bebedouro.

2 - Elisa, Débora, Elo e Alexandre — Elisa Aparecida Alves Reis Icuma, Débora Alves Reis, Eloísa H. Alves Reis Silva e Alexandre Alves Reis Filho, todos irmãos.

3 - Me vi cercado por irmãos franciscanos — “Um ou dois dias antes do falecimento de Luiz Paulo, estando comigo no Hospital S. Francisco, de Ribeirão Preto, todos os meus irmãos e irmãs, o mano Antônio Abrão dos Reis, médium vidente, tranquilizou-me dizendo que muitos padres, com capuz na cabeça e calçados com sandálias, características dos franciscanos, estavam no quarto, amparando meu filho. Portanto, a mensagem confirma a visão de meu irmão.” (Esclarecimento do sr. Alexandre) Observa-se que há uma resposta do Alto aos apelos da Terra… Os fundadores do Hospital invocaram a proteção de S. Francisco de Assis, e lá estão, a postos, os abnegados franciscanos… (Fato semelhante ocorreu, quando Dª Genny Villas Boas Mercatelli, diretora do Sanatório Antônio Luiz Sayão, de Araras, SP, recebeu, de forma inesperada, mensagem mediúnica desse patrono espiritual do hospital. Ver Reencontros, Espíritos Diversos, F. C. Xavier, IDE, cap. 9 e 10.)

4 - Fui tratado por medicina (…) passei por uma espécie de diálise, em que todo o meu sangue foi reconstituído. — O perispírito (ou corpo espiritual), que acompanha o Espírito após a desencarnação, apresenta os mesmos órgãos e sistemas do corpo físico, inclusive o sanguíneo, que é o setor lesado quando há leucemia. Já estando enfermo antes da reencarnação, ele refletirá no corpo material, na região correspondente e num determinado momento, tal enfermidade. Entendemos, dessa forma, que Luiz Paulo nasceu com a predisposição mórbida (O meu tempo no corpo da existência física se cumpriu), porém com o período de doença na Terra e o tratamento a que ele se refere, realizado no Mundo Espiritual, obteve a cura definitiva. (Ver caso semelhante na obra Estamos no Além, Espíritos Diversos, F. C. Xavier, IDE, cap. 2.)

5 - Amigo Antônio Bento — Desencarnado 15 dias após o passamento de Luiz Paulo, por afogamento, num sítio próximo de Barretos. Era natural de Jaborandi e namorado de Débora. Já enviou mensagem à família, pelo médium Chico Xavier.

6 - Meu bisavô Yamaki — Bisavô materno, desencarnado em 11/8/1954, aos 70 anos.

7 - Luiz Paulo Alves Reis — Nasceu em Barretos, a 20/11/1971. Estudioso, cursava a 6ª série do 1º Grau. Esportista, gostava de nadar e andar de patins. Era muito alegre e comunicativo, sempre cercado por muitos colegas.

8 — Os pais de Luiz Paulo, Alexandre Alves Reis e Kayoko Yamaki Alves Reis, residem na cidade paulista de Colina. Tiveram o primeiro contato com o médium Chico Xavier, na reunião pública do GEP, em Uberaba a 27/4/1984 quando receberam a carta acima. Assim, o progenitor narrou-nos esse interessante encontro, em carta de 05/7/1988: “Consegui a ficha de número 42, que me permitiria falar com o Chico, naquela tarde. Sentei-me num canto do salão, aguardando a minha vez. Mas, para minha grande surpresa, fui o primeiro a ser atendido. Chico chamou-me, e após ouvir a minha triste história, notificou a presença de vários familiares meus, em Espírito: “duas Anas, um padre e minha mãe Elisa.” Quis saber o sobrenome das Anas, e eu lhe respondi que deveriam ser a minha avó paterna Ana Rosa de Jesus, e Ana dos Reis Sensato, minha irmã. Ele as confirmou e, a seguir, perguntou-me se o padre, presente, era amigo da família. Lembrando-me, então, que no mês anterior, havíamos recebido mensagem psicográfica de minha irmã Ana, no Centro Espírita Maria Amélia, em S. Bernardo do Campo, SP, na qual ela dizia amparada por um padre de nome João, disse ao Chico que deveria ser o Padre João. O médium confirmou, acrescentando que ele era de Barretos. O surpreendente diálogo foi encerrado, e à noite recebemos a tão esperada e confortadora carta de meu filho.


Hércio Marcos C. Arantes


Texto extraído da 2ª edição desse livro.

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