O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Eles voltaram — Familiares diversos


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De volta, dias após o desenlace

Quando D. Auzenita caminhava tranquilamente, em companhia de seu netinho Cleison, de 4 anos de idade, pela cidade de Goianésia, no interior goiano, foram atingidos violentamente por um automóvel, que após chocar-se com outro veículo numa esquina, subiu na calçada, ceifando-lhes a vida material. O desenlace de ambos foi imediato. O calendário assinalava 3 de agosto de 1979.

Como era de se prever, o trauma emocional no seio familiar foi imenso, doloroso, decorrente não só do impacto de um acidente fatal, mas, principalmente, pelo amor que todos lhes devotavam.

Se D. Auzenita partiu de forma inesperada, igualmente inesperada foi a comunicação mediúnica de seu Espírito, pela psicofonia, apenas seis dias após a desencarnação.

O fato deu-se numa reunião do Centro Espírita Eurípedes Barsanulfo, de Goianésia, com a presença de seu filho Eurípedes, pai de Cleison, que, como espírita de berço, sempre frequentou esses trabalhos. Evidentemente, a sua felicidade, ao reencontrar-se com a querida progenitora, foi muito grande. E ela, embora profundamente emocionada, em lágrimas, conseguiu transmitir com poucas palavras o seu pensamento de fé na Providência Divina, conformada com as últimas experiências de sua vida, na certeza de que ainda iria se fortalecer para continuar amparando os seus entes queridos que ficaram na Terra. E provando que sabia de uma polêmica em família, da construção ou não de uma capela sobre o túmulo onde o seu corpo havia sido sepultado juntamente com o netinho, emitiu o seu parecer, preferindo um túmulo simples, pois sempre viveram com simplicidade, argumentando também que o dinheiro poderia ser aplicado em algo mais importante.

Sua família recebeu com júbilo esta abençoada mensagem, e o seu desejo foi realizado.

Novamente, dezoito dias após a sua passagem para o Além, D. Auzenita voltou a comunicar-se espontaneamente com seu filho, no mesmo Centro Espírita, desta vez através de outro médium. Um pouco mais calma, menos lacrimosa, em curta mensagem reafirmou sua fé no Pai Celestial, lamentando apenas que não tinha visto ainda o Cleison, porém foi informada de que o netinho também havia sido assistido por Benfeitores Espirituais e conduzido a um local próprio para crianças.

Esta segunda comunicação trouxe renovadas luzes de paz e consolo para toda a família.


Terceira mensagem em Uberaba


Quatro meses após o doloroso acontecimento, Eurípedes Cardoso dos Santos dirigiu-se a Uberaba, Minas, acompanhado de sua esposa, Diniz Cardoso dos Santos, e do amigo e confrade Orcedino Wenceslau da Silva, presidente do Centro Espírita Eurípedes Barsanulfo, com o intuito de receber novas e mais completas notícias de sua mãe.

Lá chegando, compareceu à reunião pública do Grupo Espírita da Prece, onde falou com Chico Xavier, expondo-lhe o sofrimento familiar com a perda súbita de dois entes queridos. Devido à longa fila de postulantes a um diálogo com o médium, não teve oportunidade de entrar nos pormenores dos acontecimentos, inclusive não se referiu às mensagens mediúnicas lá transmitidas em Goianésia, mas ficou satisfeito em receber palavras de conforto e esperança, e poder colocar sobre a mesa dos trabalhos um pedido de notícias de sua progenitora, escrevendo apenas o nome e a data do falecimento.

Horas depois, no final da reunião pública daquela noite de 8 de dezembro de 1979, Xavier leu, como habitualmente faz, a longa carta psicografada, de autoria do Espírito de D. Auzenita, confirmando logo de início as suas mensagens transmitidas em Goiás, e estendendo-se em muitos outros temas restritos somente ao círculo familiar, dando uma prova notável da vida além-túmulo e da possibilidade do nosso intercâmbio com o Plano Espiritual.


“NADA PROMOVAM CONTRA QUALQUER PESSOA”


1 Eurípedes, meu filho, Deus abençoe a você e Diniz com todos os nossos.

2 Estou aqui juntamente com vocês, como quem procura confirmar notícias que já consegui enviar através do Centro Eurípedes Barsanulfo, em nossa Goianésia. O nosso irmão Orcedino é nossa testemunha. Agradeço a ele por ter vindo. 3 Não precisava, em meu entendimento, reafirmar o que já disse. Muito me doeu aquela desencarnação repentina, quando guardava o nosso Cleison n com tanto amor. 4 Naquela hora em que o movimento súbito de máquinas nos envolveu, se me achasse sozinha, não me afligiria tanto. Afinal, filhos queridos, tinha eu vivido a minha existência. Deus me concedera a felicidade de criá-los com carinho na singeleza de nossa vida e de nossa casa.

5 Não que eu tivesse a ideia de querer a “morte”, entretanto, estava resignada com o que pudesse vir sobre os meus dias na Terra. Mas o netinho era um tesouro em minhas mãos. Era a vida que começava e que eu devia defender. 6 Penso que adormeci agarrando-me a ele, na ânsia de livrá-lo. O resto não posso saber, porque a misericórdia de Deus nos amansa o senso de consciência na hora grave da liberação do corpo físico, assim como acontece conosco se alguém no mundo nos administra um anestésico de alto poder.

7 A não ser aquele pavor no coração da mulher que se vê obrigada a salvar um filho ou um neto, sem poder, à frente do inevitável nada mais sofri. Entrei numa espécie de sono, no qual vivi toda a minha existência, desde a infância, como se estivesse divagando num sonho… n

8 Quando acordei, ao me reconhecer sem o Cleison, gritei por socorro e chorei, como podem vocês imaginar…

9 Da atmosfera que me cercava não guardei traços na lembrança porque os meus braços vazios me compeliam no mergulho em mim própria, a fim de rezar em desespero. 10 Nossa abnegada Josefa, n a quem chamo por mamãe Josefa, qual se me visse de novo criança, me amparou, abrindo-me os braços.

11 A perda do netinho me fazia sofrer muito mais que o desenlace havido entre mim e o corpo estragado que ficara. 12 Fui informada de que o neto fora conduzido a um lar de crianças, n enquanto me entregava ao sofrimento, ao recolher informações quanto a ele.

13 O que chorei, meus filhos, não me seria possível dizer com palavras. Sei, porém, que nossa querida Diniz e você me compreenderam e que tudo vai se reorganizando para a vida. 14 Não direi que essa organização se verifica sem mim, porque as mães nunca morrem. Adivinho que Deus me concederá um meio de estar perto de casa para ver a todos e acompanhá-los com o meu coração. O Wolmer e a Marilú n ainda precisam de muita assistência e rogo a vocês auxiliarem meus filhos, com as palavras de paz e de esperança de que tanto necessitam.

15 Já posso ver o nosso Cleison, onde se encontra sob o carinhoso cuidado de muita gente boa, e prometo dividir-me entre vocês, em Goianésia, e ele, que se transformou em meu companheiro de viagem, dessa viagem em que somos transportados nos braços daqueles que nos fazem a caridade de amar nas horas difíceis, quando já nada se tem para dar ou retribuir.

16 Tenho recebido os bons pensamentos de seu pai, que muito me auxiliam, e agradeço à Maria Aparecida, à Marilú, ao Wolmer e a vocês, as orações com que me confortaram neste ponto de minha dolorosa experiência, em que atualmente me vejo lutando ainda bastante para recuperar-me na paz de que preciso, a fim de retornar às minhas possibilidades de ser útil.

17 De qualquer modo, peço a vocês, da família, que nada promovam contra qualquer pessoa. n Aprendi com a vida que devemos colocar a nós mesmos no lugar daqueles que arcam com o fardo da culpa e não desejo nem para vocês, e nem para mim, os sentimentos daqueles irmãos que merecem as nossas preces de paz, e não qualquer palavra de censura.

18 Aqui, na Vida Espiritual, a verdade se nos revela com tamanha luz, que qualquer ideia de punição sobre os outros não é mais possível; somos todos irmãos, o erro de uns pode ser a falta dos outros. 19 Sou ainda mãe de meus filhos e compreendo que os nossos semelhantes não nasceram no mundo sem a presença de mães que os amam e, sempre pensando em Deus, desejo a paz. Desejamos todos nós essa paz, a fim de que não estejamos a criar maiores lutas em torno de nossos passos.

20 Filhos meus, imaginando aqui a presença de todos, peço a Deus que os abençoe. E esperando que a fé em Deus cubra as nossas provas, das quais naturalmente temos necessidade, reúno vocês todos em meu abraço de muito carinho, embora orvalhado das lágrimas de saudade, a mamãe que os seguirá sempre, rogando a Deus que a todos nos ampare e nos abençoe,


Auzenita da Silva Nunes n


NOTAS E IDENTIFICAÇÕES


1 — Cleison — Cleison Cardoso dos Santos, seu netinho, filho do casal Eurípedes e Diniz Cardoso dos Santos, nascido em 25/11/1974.


2 — Entrei numa espécie de sono, no qual vivi toda a minha existência, desde a infância, como se estivesse divagando num sonho… — É uma fase habitual do processo desencarnatório. (Ver Notas 11 do Cap. 8 e 7 do cap. 9)


3 — Josefa — D. Josefa Faustino de Assunção, bisavó materna de Cleison, já desencarnada.


4 — Fui informada de que o neto fora conduzido a um lar de crianças — Quando desligados do corpo físico, as crianças são conduzidas a lares, hospitais ou instituições outras, especializadas, dependendo da condição espiritual ou/e perispiritual das mesmas. (Ver os livros: Entre a Terra e o Céu, Espírito de André Luiz, Cap. 9 a 11, Ed. FEB; e Crianças no Além, Espírito de Marcos, Caio Ramacciotti, Ed. GEEM, ambos psicografados pelo médium Francisco C. Xavier.)


5 — Wolmer, Marilú e Maria Aparecida — Filhos de D. Auzenita.


6 — Peço a vocês, da família, que nada promovam contra qualquer pessoa. (…) Aqui, na vida espiritual, a verdade se nos revela com tamanha luz, que qualquer ideia de punição sobre os outros não é mais possível; somos todos irmãos, o erro de uns pode ser a falta dos outros. — Disse-nos Eurípedes, filho de D. Auzenita, em entrevista pessoal a nós concedida em Uberaba, que sua família, de fato, já havia constituído advogado para cuidar do caso, objetivando uma punição dos possíveis culpados. Todavia, diante deste pedido da sua progenitora, a família desistiu da questão.


7 — Auzenita da Silva Nunes — Filha do casal João Mera Nunes e Ana Lina Teixeira, nasceu em Angical, Bahia, a 18/11/1930. D. Loura — assim mais conhecida entre os íntimos — era muito dinâmica, comunicativa e caridosa. Além de seus quatro filhos, já citados, criou mais quatro crianças órfãs. Professava o Espiritismo.


Hércio Arantes


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