O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Eles voltaram — Familiares diversos


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Jovem provou a seus pais que houve separação imaginária

Felipinho era um jovem alegre, expansivo e muito amoroso. Tinha o dom de unir as criaturas que o cercavam. Sempre prestativo e afável, unia os amigos e aproximava fraternalmente os familiares.

Esportista dedicado, principalmente em natação, ganhou neste esporte 13 medalhas e alguns diplomas de 1º e 2º lugar. Estudante responsável, completou a 6ª série do 1º Grau com bom aproveitamento.

Um garotão com esta bela personalidade, ao regressar à Pátria Verdadeira, teria de deixar — como realmente aconteceu — uma saudade imensa nos corações de seus entes queridos.

Com apenas 14 anos de idade, vitimado por moléstia ganglionar incurável, Felipe Meneghetti — Felipinho na intimidade — após sete meses de padecimentos, com várias tentativas terapêuticas, deixou o Mundo Material aos 24 de julho de 1978, na cidade de Campinas, Estado de São Paulo.

Nascido a 25 de junho de 1964, em Ribeirão Preto/SP, era filho do Tenente Helder Meneghetti e de D. Wilma Crispim Meneghetti.


“Quando eu morrer…”


Quando a família adquiriu um lote no Vale Verde, próximo de Campinas, SP, para passar fins-de-semana, o entusiasmo de todos foi grande, especialmente de Felipinho, que adorava o verde: o verde das plantas, o verde da água do rio, o verde do Guarani Futebol Clube, seu time predileto…

Num domingo de muito trabalho e alegria no Vale Verde, Felipinho e sua mãe, em momento de repouso e descontração, permutaram estes pensamentos:

— Se a sua mãe morrer, você toca esse lote para a frente — afirmou D. Wilma.

— E se eu morrer, a senhora também toca — responde o filho.

Fazendo um retrospecto das ideias de Felipinho, expostas nos últimos tempos de sua vida terrestre, mesmo antes de dezembro de 1977, quando a moléstia se instalou insidiosamente, sua mãe observa que ele falava sempre em morte.

Frequentemente, brincava com seus colegas dizendo: “Quando eu morrer, puxarei as pernas de vocês à noite.”

Ou, quando seus pais negavam-lhe alguma coisa, mesmo coisas corriqueiras, ele gostava de dizer: “É, depois vão levar flores no túmulo para mim.”

Parece que ele vinha sendo preparado espiritualmente para a grande viagem, o que explica essas ideias inabituais, premonitórias, para um jovem tão saudável e amante da vida. Sabemos que todos nós, por exemplo, durante o sono físico, podemos receber ensinamentos e avisos preciosos (que se registram no subconsciente), preparando o nosso coração para os imprevistos que nos aguardam.


Diálogos inesperados


Profundamente abalados com a perda do querido filho, seus pais, embora católicos, orientados por amigos, procuraram consolo e esclarecimento na Doutrina Espírita.

Leram inicialmente os livros Perda de Entes Queridos (de D. Zilda G. Rosin) e Jovens no Além (Espíritos Diversos, médium Francisco C. Xavier, Caio Ramacciotti, Ed. GEEM.), que lhes proporcionaram muito conforto e paz.

Sete meses após a desencarnação do filho, D. Wilma começou a frequentar mensalmente as reuniões públicas do Grupo Espírita da Prece, em Uberaba, onde trabalha Chico Xavier. Quando ia, enfrentando longas filas, conseguia estabelecer contatos rápidos com o médium e, posteriormente, na segunda parte da reunião, recebia sempre por via psicográfica notícias breves, confortadoras, de que Felipinho estar bem amparado.

Em princípios de maio de 1979, numa reunião de sexta-feira, Chico surpreendeu D. Wilma, ao atendê-la na fila, com a pergunta:

— Quem é Ana?

Ela recordou-se, de pronto, de sua avó, falecida há mais de 10 anos. D. Ana Franco, com certeza, estava presente à reunião! Neste encontro o médium nada mais esclareceu.

Na seguinte visita mensal de D. Wilma aos trabalhos de Uberaba, no dia 15 de junho de 1979, em novo encontro com Chico, estabeleceram o interessante diálogo:

— Quem é Mariquinha? — perguntou o médium.

— Não sei.

— Procure verificar. Ela diz que é tia. E quem é Ursulina?

— É a mãe do meu marido, já falecida.

— Estas duas senhoras estão aqui dizendo que o Felipe está bem.

O diálogo encerrou-se aqui. O médium continuou a atender a pessoa seguinte que o aguardava na fila, e D. Wilma, meditativa, daí a pouco recordou-se de sua amiga Mariquinha, desencarnada no início do ano de 1978. Ela não pertencia à família, mas Felipinho a chamava carinhosamente de tia. Só mesmo, sob forte emoção, para esquecer a grande amiga…

Na segunda parte dos trabalhos, em noite alta, D. Wilma teve a grande felicidade de receber uma carta do inesquecível filho, confirmando um sonho nítido que tivera dias antes, quando viu o médium psicografando notícias de Felipinho para ela.

A carta, pelo correio mediúnico, trouxe à família um novo alento, novas esperanças e a certeza na imortalidade da alma e na comunicabilidade dos Espíritos. Com provas indiscutíveis, com revelações totalmente desconhecidas do médium, o filho inesquecível mostrou aos seus carinhosos pais que continua vivo, participando sempre da vida familiar, provando que houve, com a sua morte física, apenas uma separação imaginária.

Hoje os pais de Felipinho são espíritas convictos, dedicados ao estudo doutrinário e operosos no campo assistencial.


“O MELHOR LUGAR PARA O NOSSO REENCONTRO: O BEM AO PRÓXIMO”


1 Querida mãezinha Wilma, abençoe-me.

2 Quase um ano. n Separação imaginária. Digo isso porque se o corpo acabou se desmoronando, à maneira de uma gaiola destrambelhada, isso não me alterou de forma alguma. n

3 O papai Helder, por intuição, sabe que vou sempre à nossa casa, compartilhando de suas meditações e das melodias que escuto nascendo da inspiração dele, n como a beleza das águas claras quando borbulham na fonte.

4 Mãezinha, estou grato por haverem procurado o melhor lugar para o nosso reencontro: o bem ao próximo. Ensinem ao nosso querido Fernando n esse mesmo caminho que nos reúne para a viagem na direção de Jesus.

5 Não preciso contar-lhes que sofri muita falta de casa. Apesar daquelas minhas ideias de que o corpo estava pifando, n no íntimo nutria o desejo de regressar ao nosso convívio. A doença; pouco a pouco, me estragou as peças da embalagem que me retinha na Terra física, mas, por dentro de mim mesmo, estava o anseio de retorno aos braços dos meus.

6 Quando o grande sono apareceu para mim, tive a ideia de que sonhava com a morte, e foi a morte mesmo que me pilotava. 7 Acordei não sei como, depois de haver repousado, ignorando por quanto tempo, e as lágrimas vieram marcar a minha nova situação. Entretanto, em meio de tanta gente estranha, descobri duas mães que me acolheram carinhosamente. 8 A vovó Ana n e a vovó Ursulina n me podaram o medo e o Jair Presente, n a quem a senhora e o papai recorreram, de princípio, em meu favor, tem sido para mim um outro irmão mais experiente, que não me deixou continuar bancando o bebê chorão.

9 Graças a Deus, tudo vai assumindo uma feição diferente na vida de seu filho por aqui e espero para breve tempo retornar aos estudos e solidificar-me nas ideias mais claras em que presentemente devo viver.

10 Estou grato pela força que fazem no sentido de compreendermos juntos a nova condição em que nos vemos. As atitudes em casa são de grande auxílio para nós quando os nossos se empenham na conformação com os desígnios da vida, que são os desígnios de Deus.

11 Mãezinha, agradeço os seus pensamentos enviados ao meu coração de suas atividades no Grameiro. n Ali, vendo tantas crianças amparadas pelo amor dos pais que as amam sem que lhes sejam filhos, estou aprendendo a ser mais irmão de todos aqueles que necessitam de apoio e bênção, com o ideal da família que ainda não conseguiram de todo realizar.

12 Diga ao papai e ao querido Fernando de minhas saudades e alegrias e todos estejam informados de que vou fazendo o melhor que posso, principalmente no esforço de recuperar as minhas próprias energias.

13 O irmão Ítalo está conosco e abraça a nossa irmã Ronnie. n

14 Mãezinha Wilma, não posso escrever mais. O gongo do horário já bateu para mim e por isso paro neste ponto do papel com um beijo de respeitoso amor em seu coração querido.

15 Muito carinho e gratidão de seu filho sempre seu, cada vez mais reconhecido,


Felipe Meneghetti


NOTAS E IDENTIFICAÇÕES


1 — Quase um ano. — Felipinho desencarnou em 24/7/1978 e esta carta data de 15/6/1979.


2 — Se o corpo acabou se desmoronando, à maneira de uma gaiola destrambelhada, isso não me alterou de forma alguma. — A comparação é perfeita: o pássaro 1o seu Espírito) se libertou da gaiola, que por sua vez, arruinada, já havia cumprido a sua função. O seu amiguinho Mauro, quando leu a carta, contou à D. Wilma que Felipinho lhe havia dito, em um de seus últimos encontros: “eu não falo aos meus pais, mas sinto que o meu corpo está desmoronando”.


3 — O papai Helder, por intuição, sabe que vou sempre à nossa casa, compartilhando de suas meditações e das melodias que escuto nascendo da inspiração dele. O Tenente Helder, regente de Banda Sinfônica, não se considera compositor, mas confirma que muitas vezes, meditativo, cria melodias no pensamento, sem registrá-las em pautas.


4 — Nosso querido Fernando — Fernando Meneghetti, seu único irmão.


5 — Minhas ideias de que o corpo estava pifando — Ele sempre usava a expressão: “estou pifando”, inclusive na véspera de seu desenlace.


6 — Vovó Ana — Ana Franco, bisavó materna, falecida há aproximadamente 16 anos.


7 — Vovó Ursulina — Ursulina Maria Silva, avó paterna, falecida em 22/8/1976.


8 — Jair Presente — Jovem desencarnado em 3/2/1974, filho de José Presente e de Josefina Basso Presente, casal residente em Campinas, SP, amigos dos pais de Felipe. Jair é co-autor dos livros Jovens no Além e Somos Seis.


9 — Mãezinha, agradeço os seus pensamentos enviados ao meu coração de suas atividades no Grameiro. — Trata-se da instituição espírita “Casa da Sopa”, localizada no Jardim Campineiro, em Campinas/SP, que oferece, em média, 800 pratos de sopa ao dia, de 2ª a sábado. Inicialmente funcionou no Bairro do Grameiro, onde o Movimento Assistencial Espírita “Maria Rosa” tem hoje a sua sede.


10 — O irmão Ítalo está conosco e abraça a nossa irmã Ronnie. — Na véspera do recebimento da carta do filho, D. Wilma ficou conhecendo na fila de atendimento do Grupo Espírita da Prece, em Uberaba, D. Ronnie Venturini Assis, residente em Campinas/SP, que a procurou em nome de D. Wandir Dias, diretora do M.A.E. “Maria Rosa”. O irmão Ítalo, pai de D. Ronnie, desencarnou em 6/7/1978.


Hércio Arantes


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