O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Enxugando lágrimas — Familiares diversos


11


O filho tombado em prova

1 Querida Augusta, minha querida Augustinha, a bênção de Deus nos reconforte.

2 Cumpro a palavra. Disse a você que me expressaria por nosso amigo, e tento o recado.

3 O tempo que me distancia do corpo que se desfez, não me habilita a escrever como desejaria.

4 O trabalho é uma escola incessante para quem deseja prosseguir em caminho melhor e, felizmente, a sua luta abençoada é igualmente minha.

5 Você sabe que nunca nos separamos. Seus problemas com a família e as suas aflições maternas seguiram meus passos, porque você sempre seguia nos meus. Nossa união não poderia ser diferente.

6 O amor é uma luz que Deus acende no coração. E onde o amor persiste não há sombra.

7 Estimaria escrever ao seu carinho em momentos de primavera, como se estivesse a endereçar-lhe uma carta de noivado, falando de meu agradecimento e de minha ternura. Entretanto, quis a lei que formulasse estas linhas com a marca de nossas lágrimas.

8 Ambos trocamos os corações à frente de Henrique tombado em prova. Pergunta-me você se eu sabia, indaga o seu carinho porque não teria agido no momento certo, barrando o projétil que eliminou a existência jovem do nosso querido rapaz.

9 Mas posso afirmar a você, querida Augusta, que os nossos encargos continuam aqui sem sermos anjos. Tudo fazemos ao alcance de nossas possibilidades estreitas, para socorrer os entes amados, entretanto conseguimos pouco.

10 Penso que tudo isso deve ser assim, porque seria um erro furtar nossos filhos à experiência humana, como se nos pertencessem, quando, na essência, pertencemos todos a Deus.

11 Creia que seu marido fez força. Ainda assim, a lei das provas nos reclamava a tempestade de fevereiro passado. Era preciso enfrentar as dificuldades, sofrer as tribulações e entregar tudo à Providência Divina.

12 Graças a Jesus, você está fortalecida na fé, e os nossos filhos queridos nos compreendem. Seu pai e até mesmo nosso Eurípedes, com outros amigos, nos sustentaram e nos guardam a segurança espiritual. Estou na sua condição; pai humano com alguns passos apenas na estrada adiante.

13 Admito que nossos Benfeitores da Espiritualidade Maior tudo sabiam por antecipação, porque fomos, você e eu, amparados de imediato.

14 Augusta, peço a você coragem. Você que tem ensinado seu Velho a trabalhar, você que suportou quase sozinha, do ponto de vista físico, a luminosa carga de serviço na condução da família que a desencarnação me obrigou a deixar, você que nunca se intimidou com provações e necessidades, continuará sem pausa nas tarefas que são nossas.

15 Nosso querido Henrique chegou aos nossos braços na condição de quem caiu ao lado da Cruz de Cristo. Não veio com sentimentos de pesar contra ninguém e, se acordou inquieto, foi pensando em você, nas dificuldades que ficariam para o seu coração de mãe.

16 Agora, somos nós e falo também por ele: — que pedimos a você e Eduardo, Márcia e Ângela, nossos genros-filhos, e nossos familiares tratem o assunto na base da oração. Um grande silêncio pode alimentar uma prece maior.

17 Augustinha, falei por seus lábios que nosso filho voltava para o Além sem haver ferido a ninguém e isso nos foi uma bênção

18 Que a paz envolva aos que ficaram, que o amor de Jesus cubra a nós todos, que a Luz do Bem não se apague e que a fé em Deus nos faça sentir que todos somos capazes de errar.

19 E se hoje, Augustinha, sofremos por resultados de ações que se foram, é que nós também erramos perante as Leis Divinas.

20 Agradeço o seu depoimento de mãe, inspirado na compreensão que o processo inspira, porquanto os filhos de outros pais e de outras mães são também nossos filhos. Entendimento para nós todos, tranquilidade para nós todos é o que peço a Deus.

21 Seu pai me auxilia a escrever, mesmo porque receava ferir com qualquer palavra menos adequada nossa confiança de espíritas-cristãos na Bondade Divina, em favor de todos. E quem sabe? Nosso Henrique se fará restaurado. Você terá mais um companheiro nas suas atividades com a bênção de Jesus e eu terei aqui um filho a proporcionar-me aquela luz que nosso querido Henrique sabia distribuir.

22 O Bem para os outros é saúde e paz para nós. Não se admita enferma e fatigada ao ponto de permanecer unicamente em casa, pensando em sombras que Deus nos ajudará a transformar em luzes novas.

23 Não queira vir mais depressa ao nosso encontro. Esperemos o tempo, trabalhando. Um dia você e nós estaremos mais juntos e digo mais porque juntos sempre estivemos.

24 Agradeçamos as lágrimas abençoadas que lavam nossos corações por dentro. Elas nos ensinam a visão espiritual a fim de seguirmos adiante em rumo certo.

25 Agradeço as amigas de Goiânia que trouxeram a sua presença em nosso encontro. Amigos daqui também me amparam.

26 Saiba que a sua fortaleza é a base de minha fé, que o seu devotamento é o meu clima de segurança, que as suas esperanças, me fazem os melhores estímulos para a vida espiritual e que os seus exemplos no trabalho são ainda a melhor escola em que vou formando um novo destino para o nosso Amanhã Melhor.

27 Perdoe se escrevo assim, misturando alegria e dor, dificuldade de compreender e aspiração no sentido de melhorar-me.

28 Sou ainda um esposo humano e um pai que, ao seu lado, viveu sempre na certeza de que nossos filhos são tesouros de Deus em nossas mãos.

29 Auxilie-me para que eu possa ser útil nas tarefas em que a vida nos situa.

30 E colocando meu coração como sempre em seu carinho, receba tudo o que posso ser de melhor, e toda a minha esperança de melhorar sempre, com todo o amor e reconhecimento do seu, sempre seu,


Gastão


SERIA UM ERRO FURTAR NOSSOS FILHOS Á EXPERIÊNCIA HUMANA


A mensagem de Gastão Henrique Gregoris, n recebida pelo médium Xavier, no Grupo Espírita da Prece, em Uberaba, Minas Gerais, a 5 de março de 1976, vinte e cinco dias após a desencarnação, em circunstâncias consideradas trágicas do ponto de vista humano, de seu filho Henrique Emanuel Gregoris, suscita-nos algumas considerações, que serão estudadas por itens.


1 — “Pergunta-me você se eu sabia, indaga o seu carinho porque não teria agido no momento certo, barrando o projétil que eliminou a existência jovem do nosso querido rapaz. Mas posso afirmar a você, querida Augusta, que os nossos encargos continuam aqui sem sermos anjos.”

Vejamos a questão 528 ( † ) de O Livro dos Espíritosn

“— Um homem mal intencionado lança sobre alguém um projétil que o roça e não o atinge. Um Espírito benevolente pode tê-lo desviado?

“— Se o indivíduo não deve ser atingido, o Espírito benevolente lhe inspirará o pensamento de se desviar ou poderá ofuscar seu inimigo de maneira a faze-lo apontar mal, porque o projétil, uma vez lançado, segue a linha que ele deve percorrer.


2 — “Penso que tudo isso deve ser assim, porque seria um erro furtar nossos filhos à experiência humana, como se nos pertencessem, quando, na essência, pertencemos todos a Deus.”

Ora, todos os psicólogos são unânimes em afirmar que nós todos, inclusive nossos filhos, necessitamos de experiências frustrantes a fim de crescermos por dentro, tornarmo-nos maduros emocionalmente.

E o que preceitua a Doutrina Espírita? Que nos encontramos reencarnados, por enquanto, num mundo de expiações e provas, onde sofrimento e dificuldades, lutas e tropeços, são capítulos abençoados escritos por todos no grande livro da vida.

No mesmo livro citado, ( † ) de Allan Kardec, a questão 503 nos mostra a diferença entre a aflição experimentada por um Espírito protetor e as angústias da paternidade terrestre, somente porque o chamado anjo guardião “sabe que há remédio para o mal, e que aquilo que não se faz hoje, far-se-á amanhã.”


3 — “Creia que seu marido fez força. Ainda assim, a lei das provas nos reclamava a tempestade de fevereiro passado. Era preciso enfrentar as dificuldades, sofrer as tribulações e entregar tudo à Providência Divina.”

Na verdade, ninguém consegue fugir à Lei de Causa e Efeito, e Henrique deveria partir como partiu, num clima de violência.


4 — “Seu pai e até mesmo nosso Eurípedes, com outros amigos, nos sustentaram e nos guardam a segurança espiritual.”

O Espírito se refere ao pai de D. Augusta Soares Gregoris, Manoel Soares, continuador das obras de Eurípedes Barsanulfo, em Sacramento, Minas Gerais, desencarnado em 1937.


5 — “Nosso querido Henrique chegou aos nossos braços na condição de quem caiu ao lado da Cruz de Cristo. Não veio com sentimentos de pesar contra ninguém e, se acordou inquieto, foi pensando em você, nas dificuldades que ficariam para o seu coração de mãe.”

Mais adiante, depois de rogar aos genros-filhos — Eduardo, Márcia e Ângela — para que tratem o assunto na base do silêncio e da prece, afirma Gastão:

Augustinha, falei por seus lábios que nosso filho voltava para o Além sem haver ferido a ninguém e isso nos foi uma bênção.” Henrique nasceu em 7 de julho de 1952, e desencarnou, nas circunstâncias citadas, a 1o de fevereiro de 1976, em Goiânia. Cursava Administração de Empresas, na Universidade Católica de Goiás.


6 — “Não queira vir mais depressa ao nosso encontro. Esperemos o tempo, trabalhando.”

Sendo a Terra um mundo de expiações e provas, destinado a ser, no grande futuro, um mundo de regeneração, segundo nos ensinam os Espíritos Superiores, tudo nos cabe fazer no sentido de permanecermos aqui o máximo de tempo que nos seja permitido, trabalhando infatigavelmente no bem, construindo a nossa felicidade à base da cooperação no erguimento da felicidade dos outros, desvencilhando-nos com isso do orgulho e egoísmo que, há milênios, nos retardam a evolução.


7 — “Sou ainda um esposo e um pai que, ao seu lado, viveu sempre na certeza de que nossos filhos são tesouros de Deus em nossas mãos.”

Mais uma vez, defrontamo-nos com o problema de ordem semântica, em relação ao cônjuge que fica — esposo-viúvo, mulher-viúva. Confortadora, sem, dúvida, a assertiva de que a vida continua, tudo a indicar-nos a necessidade inadiável e intransferível da reforma íntima, já que as manifestações de fachada são provas inequívocas de imaturidade espiritual, requisitando terapêutica adequada, a qual, em muitas circunstâncias, só poderá ser feita à base de dor e sofrimento ou mesmo de angústia em grau superlativo.

Que todos nós, os viajores da Terra, possamos rogar aos Espíritos Benfeitores forças renovadoras para viver, qual fez o Espírito de Gastão:

Auxilie-me para que eu possa ser útil nas tarefas em que a vida nos situa.”


Dados biográficos:

Nasceu Gastão Henrique Gregoris a 1º de março de 1928, em Ribeirão Preto, Estado de São Paulo, filho de Eduardo Gregoris e de Ana Silva Souza Gregoris.

Nessa cidade, passou toda a sua infância, transferindo-se na adolescência para Goiânia, a convite de um tio, Alfredo Feresin, que lhe conseguiu colocação na Empresa Goiana de Cinemas, onde permaneceu por alguns anos.

Casou-se aos 21 anos de idade com Augusta Soares Gregoris, filha de Manoel Soares e Augusta de Oliveira Soares, natural de Sacramento, Estado de Minas Gerais.

Tiveram quatro filhos: Márcia, Henrique Emanuel, Ângela e Eduardo.

Gastão continuou seus estudos depois de casado, formando-se em Contabilidade, na Escola Técnica de Comércio de Campinas, bairro de Goiânia, em 1960.

Fundou com seu pai e irmão a casa comercial, “Móveis Tupy”, da qual era Diretor-gerente.

No dia 28 de agosto de 1964, a convite de amigos, saiu para uma pescaria no Rio Meia Ponte, em Goiânia, onde desencarnou, vítima de afogamento.

Foi professor na Escola em que se diplomara com louvor, sendo considerado na época, pelo seu Diretor, Professor Rubens Carneiro, o melhor aluno desde a fundação, dez anos antes.

Seus alunos o estimavam e respeitavam, com imenso apreço. Espírita praticante, empenhava-se com sinceridade na prática da Doutrina.

Junto da esposa, durante alguns anos, foi responsável pela “Obra do Berço” (enxovais para recém-nascidos), na Irradiação Espírita Cristã, na capital do Estado de Goiás.

Também ali, participava das reuniões evangélicas e do trabalho de orientação mantido pelo Benfeitor Espiritual Bezerra de Menezes, juntamente com seu grande amigo, Dr. Oswaldo Godoy, que continua na obra de dedicação e bondade, em auxílio ao próximo.

Gastão desencarnou aos 36 anos de idade.

Tinha adoração pelos filhos, e, em suas preces diárias, pedia de início: “— Senhor, abençoa meus filhos.”


Elias Barbosa



Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, 3ª Edição, IDE, 1977, p. 227.


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