O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Enxugando lágrimas — Familiares diversos


1


Mensagem de Amor

1 Querida mamãe, querido papai, meu querido João Batista, n Deus abençoe a nós todos.

2 Estou ainda quase sem forças. Quase como no instante em que me levantei de mim mesma, depois de me haverem erguido, à maneira de uma criança.

3 E venho, querida mãezinha, não apenas atraída por seu carinho, mas trazida na corrente de suas petições e de suas lágrimas. Peço agora com mais insistência, não se entristeça, ajude-me com aquela fortaleza que em seu espírito nunca vi esmorecer.

4 Perdoem-me, o seu coração e o coração de meu pai, se voltei tão às pressas à vida que me convidava às grandes renovações.

5 Tenho o reconforto de afirmar-lhes que não provoquei o choque do Opala. n Pensei que pudesse fazer uma ultrapassagem pacífica, habituada que me achava a visar dimensões e examinar caminhos de relance.

6 Mãezinha, não julgue que sua filha pudesse, por um instante só, enfraquecer-se na fé, a ponto de buscar a desencarnação voluntária. n

7 Dias antes me sentia em nossa casa, como quem trazia a cabeça e as mãos crescidas, n não sabia o que se passava.

8 Inclinei-me a refletir sobre mediunidade, mas, somente aqui vim a saber que estava sendo preparada com carinho para a volta.

9 Tudo, mamãe, foi muito rápido. Um choque difícil de descrever e, depois aquela ideia de que o desmaio era natural e inevitável, 10 um sono agitado por pesadelos, porque a gente não se despede do corpo, sem desatar muitos laços e nem se desliga com muita facilidade do ambiente querido em que se nos desenvolveu a experiência familiar.

11 Quando acordei, porém, escutava seus apelos, suas perguntas, suas aflições e suas lágrimas, em forma de palavras e sons que me ecoavam por dentro do coração.

12 Senti-me perdida, como quem se reconhece num hospital que não pediu e nem esperou.

13 Os conhecimentos que trazia comigo me foram valiosos, n porque era justo que eu a chamasse aos gritos, manifestando minha estranheza em altas vozes, mas quando vi o tio Orlando com aquele rosto sereno a fitar-me, ele que partira, antecedendo-me na vida Espiritual, creio por onze meses, compreendi tudo.

14 Achava-me como ainda me encontro numa instituição de refazimento em que o amigo maior é o Padre Antônio, direi Antônio Preto, de quem ouvira tantas vezes falar. n

15 Acolheu-me com brandura e soube que estávamos todos numa casa de socorro espiritual de urgência, fundada junto a Bebedouro pelo sacerdote Francisco Valente, que nos deu tanto amor, na formação do recanto em que Deus enviou a felicidade para morar conosco.

16 Lutei muito, querida mamãe, porque não é fácil deixar a existência no lar, nem mesmo quando temos aquele ideal de estudar a vida em outros Planos e em outros mundos, que sempre me marcou as ideias de menina voltada para os assuntos do Espírito.

17 Rogo dizer à nossa Do Carmo e às amigas que a morte me apareceu na condição de uma benfeitora, e que não fui eu quem lhe bateu às portas. n

18 Mãezinha, a senhora sabe que suicídio não constava de nossos propósitos, isto é, dos meus.

19 Páginas de amor e ternura, meditações sobre a vida espiritual que eu tenha escrito, sabe nosso querido João Batista que eram pensamentos soltos nos quais, muitas vezes, me sentia sob influências mediúnicas. 20 Rogo ao querido irmão auxiliar-me com seu encorajamento e fé em Deus. Joãozinho, meu irmão, estamos no tempo dos nossos testemunhos de confiança em Deus. Estude e siga em frente.

21 Sua irmã não morreu. O que sucedeu foi mudança de lugar e de clima, sem transformações em nosso amor de irmão que se tanto e que com a bênção de Jesus, prosseguiremos unidos.

22 Mãezinha, agradeço as suas preces e as orações dos familiares, sem me esquecer dos pensamentos de amor da vovó Carolina n e da tia Geni, n em Viradouro.

23 Aqui, tenho encontrado muito amor, através de gestos de proteção que não plantei.

24 Nossos irmãos do Grupo do Calvário ao Céu n estão irmanados aos outros, aqueles que sob a proteção de São João Batista, distribuem socorro e bondade sob os nossos céus.

25 Mamãe, perdoe sua filha, se minhas ideias pareciam por vezes extravagantes. Eu sei que a sua ternura tantas vezes silenciava para que sua Landa n estivesse crendo em sonhos e realizações distantes da verdade que impera na vida. E me lembro dos seus olhos expressivos a me falarem sem palavras de suas preocupações por mim.

26 Creia, mamãe, que não vim para cá trazendo afeições maiores que as nossas, você, papai, João Batista, Maria do Carmo e os nossos, 27 parece que a gente mais jovem quando sai da Terra de repente, na maioria dos casos, parece considerada como sendo pessoas que se afastam do mundo por desilusões e desenganos, mas não é assim.

28 Existem leis a que não conseguimos fugir. Cada qual na Terra dispõe de uma quota de tempo a fim de fazer o que deve.

29 A parcela que a vida me reservava era curta. Mas tenho a ideia de que tive os melhores pais da Terra e os melhores irmãos, porque recebi todos os recursos de casa para realizar em mim as construções espirituais que pude.

30 Dizer obrigada é tão pouco, mas digo assim mesmo: obrigada, mãezinha, por seus braços que me guiaram na vida, por seus sacrifícios por mim, pelas orações que aprendi nos seus lábios e que as teorias do progresso humano não me fizeram esquecer; 31 por suas noites de vigília, por suas inquietações, acompanhando-me com as suas preces, quando me ausentava de casa, obrigada pelas repreensões que eu merecia e que ficaram sempre em seu carinho sem que você me falasse dos receios que eu causava à sua ternura, obrigada por tudo, mas por tudo o que você me deu e obrigada a todos os que me concederam em família para me servirem de protetores e companheiros.

32 Estou ainda muito pobre de forças, mas Deus concederá à sua filha energias novas e serei útil.

33 Mãezinha., meu pai, João Batista, tia Geni e todos os meus entes queridos, termino, dizendo que estou agradecida, amando a todos cada vez mais.

34 E o papai me permitirá terminar esta carta, dizendo a mãezinha, naquele abraço total, quando voltava a casa depois de qualquer ausência.

35 Mãezinha, você é tudo para mim, mamãe, querida mãezinha, abençoe-me e deixe que me ajoelhe diante das suas preces outra vez para repetir que nós duas confiamos em Deus.

36 E receba todo o carinho, com muitos beijos da sua filha, agora mais sua filha no coração,


Yolanda n


LEIS A QUE NÃO CONSEGUIMOS FUGIR


Semanas após a recepção da “Mensagem de Amor”, pelo médium Francisco Cândido Xavier, a 15 de outubro de 1976, ao final da reunião pública no Grupo Espírita da Prece, em Uberaba, Minas, a família da entidade comunicante se encarregou de imprimir um folheto contendo, além da aludida peça mediúnica, os dados biográficos e outros elementos comprobatórios de que nos servimos nestes apontamentos.


1. Yolanda Carolina Giglio Villela: nasceu em Viradouro, Estado de São Paulo, a 23 de maio de 1949, e desencarnou a 4 de julho de 1976, em consequência de desastre automobilístico. Filha do Sr. José Nogueira Villela e de D. Anita Giglio Villela, era formada em Letras e exercia o magistério; cultivava a música, a poesia, e se interessava pelos assuntos de ordem espiritual.


2. João Batista: trata-se de seu irmão mais novo.


3. Detalhe dos mais importantes, para o qual solicitamos a atenção do leitor: “Tenho o reconforto de afirmar-lhes que não provoquei o choque do Opala.” Com efeito, o carro que se chocou com o seu Chevette era um Opala. O médium desconhecia por completo semelhante pormenor, na aparência anódino, mas de profunda significação no contexto geral da mensagem.


4. “Mãezinha, não julgue que sua filha pudesse, por um instante só, enfraquecer-se na fé, a ponto de buscar a desencarnação voluntária.” Surgiram muitas dúvidas — informa a família de Yolanda sobre o acidente; e uma delas era a de ter sido o choque provocado por ela própria.


5. Prova inescusável da Misericórdia Divina a derramar-se sobre todos nós: “Dias antes me sentia em nossa casa como quem trazia a cabeça e as mãos crescidas, (…) mas somente aqui vim a saber que estava sendo preparada com carinho para a volta.” A quem deveria partir com ambas as mãos quebradas e com fratura de crânio, qual aconteceu com a jovem Yolanda, no acidente, este passo da missiva dá muito o que pensar a quantos se interessam pelos estudos referentes ao fenômeno da morte. Dias antes da ocorrência, Yolanda comentara com o irmão que “numa noite sentira as mãos e a cabeça crescidas”.


6. “Os conhecimentos que trazia comigo me foram valiosos”. A prova disso encontramos na lucidez de Yolanda ao defrontar-se com o Tio Orlando, com plena e absoluta noção de espaço e tempo. Orlando Giglio, irmão de D. Anita Giglio Villela, desencarnara a 8 de agosto de 1975, onze meses antes que sua amiga, sobrinha e confidente fosse vítima, também, de um acidente automobilístico. O médium Xavier não poderia ter conhecimento dessas minudências. E minudências de inconcussa consideração.


7. “Padre Antônio, direi Antônio Preto, de quem ouvira tantas vezes falar”. A autora espiritual se refere ao Frei Antônio Preto, desencarnado a 17 de dezembro de 1975, em consequência de capotamento do automóvel em que viajava. Exercia ele o sacerdócio, há muito tempo, na cidade de Bebedouro, Estado de São Paulo, formando laços de amizade com a família Villela.


8. “Rogo dizer à nossa Do Carmo e às amigas, que a morte me apareceu na condição de uma benfeitora, e que não fui eu quem lhe bateu às portas.” Confrontemos, acima, o item 4. Maria do Carmo: a primogênita da família.


9. Vovó Carolina: Desencarnada a 23 de janeiro de 1949, em Viradouro, SP, avó materna do espírito comunicante.


10. Tia Geni: Sra. Geni Garcia Giglio, esposa do Sr. Orlando Giglio, residente em Viradouro, que se achava presente no momento da transmissão da página mediúnica.


11. Landa: era o apelido familiar da comunicante.


12. “Grupo do Calvário ao Céu”: Centro Espírita da cidade de Bebedouro, SP, onde Yolanda e o irmão, por várias vezes, frequentaram.


Da expressiva mensagem de Landa, ser-nos-á lícito extrair, dentre outras, as seguintes conclusões:

a) que os pais devem auxiliar aos filhos desencarnados com a bênção da compreensão, sem constranger-lhes o espírito com pensamentos de inquirição ou de angústia, reconhecendo que todos nós na Terra, pais ou filhos, somos criaturas de Deus;

b) que “não é fácil deixar a existência do lar, nem mesmo quando temos aquele ideal de estudar a vida em outros planos e em outros mundos”; daí, o imperativo de homenagearmos os entes queridos que nos antecederam na grande viagem de retorno à verdadeira vida, com as vibrações da prece e com o apoio do serviço ao próximo;

c) que a morte não passa de mudança, seja de lugar ou de clima, para quem parte, sem transformações no amor em relação aos que ficam;

d) que devemos respeitar todas as correntes religiosas, cientes quais somos de que os Espíritos Iluminados prosseguem supervisionando templos e socorrendo criaturas de todas as latitudes, encarnadas ou desencarnadas. Sumamente séria, nesse sentido, a alusão a São João Batista na mensagem;

e) que precisamos aceitar, com o máximo de resignação, a morte dos entes amados, deixando de lhes atribuir sentimentos imaginários como sendo os fatores desencadeantes do decesso que, mais cedo ou mais tarde, sobrevirá para cada um de nós;

f) que, enfim, precisamos facear com realismo os problemas relacionados com a Morte. Com vistas a nos edificarmos sempre e mais, tomamos a liberdade de transcrever alguns trechos da autora de On Death an Dying, com a devida permissão do Editor. n A Dra. Elisabeth Kubler-Ross, quando lhe perguntaram: “Quais as atitudes, a seu ver, que são errôneas em relação à morte? Haverá algo mais que costumamos fazer e que torne pior a morte para o paciente? não hesitou em responder: “Há dois obstáculos principais. O primeiro são os médicos, que estão treinados para prolongar a vida. (…) [v. Nota n. 1 do cap. 20] O outro problema são os cônjuges. Se um homem, que teve a coragem de aceitar sua morte iminente, tem a seu lado uma mulher choramingando “Não morra, não posso viver sem você”, não conseguirá morrer em paz. De modo geral, meu trabalho é ajudar médicos e esposas a deixarem-nos ir em paz, para que o paciente não se sinta culpado de “morrer apesar dos seus esforços”.

Fato curioso, caro leitor: praticamente em quase todas as mensagens recebidas pelo médium Xavier, desde 1927 até os nossos dias, de pessoas desencarnadas em situação de violência e/ou desastre, trazem a tônica apontada pela Dra. Kubler-Ross — os Espíritos comunicantes como que pedem desculpas por terem se desligado do veículo físico de forma abrupta ou, por outras palavras, por não conseguirem a desencarnação “em paz”, no tocante aos familiares que ficaram.


Para concluir, transcrevamos apenas estes dois ligeiros tópicos das notáveis entrevistas:

“P. Quando é que se deveria iniciar a preparação para se compreender e aceitar a morte?

R. Na infância. A morte de um animal que se tenha em casa é boa oportunidade para começo. Que ele seja enterrado com ritual; não o esconder na lata de lixo e ir logo comprar outro para substituí-lo. É importante deixar que as crianças conheçam a dor e a perda.”


“P. Acha que há vida além da morte?

R. Sempre senti que algo bastante significativo ocorre minutos depois da morte “clínica”. Grande parte dos meus pacientes adquirem expressão fantasticamente tranquila, mesmo aqueles que lutaram desesperadamente contra a morte.” n


Elias Barbosa



“Face a Face com a Morte”, entrevistas com a Dra. Elisabeth Kubler-Ross, em Seleções do Reader’s Digest, de novembro de 1976 (Tomo XI. nº 66), pp. 57-60.

A propósito, veja-se o livro do Dr. Lee Salk — O que toda criança gostaria que seus pais soubessem —, Trad. de Luzia Machado da Costa. Editora Edibolso S.A., São Paulo (1978) p. 188.


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