O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Coração e vida — Maria Dolores


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O culpado vê culpas

  1 Ele, bonacheirão, era amigo de farras,

  Tinha esposa, dois filhos, compromissos,

  Entretanto, apesar dessas amarras,

  Prazeres para ele eram doces feitiços.

  Homem robusto e rico sustentava,

  Companheiras diversas de alegria,

  Qual senhor que somente as percebia

  De escrava para escrava.


  2 Em certa ocasião,

  O nosso cavalheiro,

  Dava-se por inteiro

  A certo festival de comemorações,

  Em cerimônias desdobradas…

  Brotavam nas estradas

  Palavras e atitudes estragadas,

  Era quase a loucura em muita gente…

  Dois dias com três noites

  De fogos de artifício em céu luzente,

  E o nosso amigo usava, instante a instante,

  O tempo disponível,

  Sem se importar, sequer, com mudanças de nível,

  E aparecia sempre acompanhado

  Por uma das parceiras

  Que trazia de lado…


  3 Por fim, depois de longas bebedeiras,

  E de extravio deprimente,

  Ei-lo, de volta ao lar, dentro da noite alta…


  4 Era a terceira noite em que estivera ausente

  Entretanto,

  Não se sentia em falta…

  A esposa era a esposa, a mulher diferente,

  Que devia viver, atirada num canto,

  Sem direito nenhum de reclamar,

  Porque sempre dispunha

  Do que fosse preciso para o lar.


  5 Ele destranca a porta, de mansinho,

  Pé ante pé, segue devagarinho

  Para o aposento conjugal…

  Mas, avançando, vê que a esposa se debruça

  Nos ombros de outro homem,

  — Um homem que lhe afaga a cabeleira espessa…


  6 Ele sente-se mal

  Nas ideias sombrias que o consomem

  O incêndio do ciúme invade-lhe a cabeça,

  Saca de bolso oculto um revólver pequeno

  E atira sobre os dois, qual se estivesse louco,

  Sob a ação de algum veneno…


  7 O homem tomba morto, após giro instantâneo

  A bala lhe arrasara os recessos do crânio…

  A senhora, porém, está ferida…

  O marido aproxima-se, interroga,

  Ela, contudo, vê que se lhe esvai a vida,

  Perdendo o próprio sangue a lhe vazar do peito;

  Tenta, em vão, expressar-se e não encontra o jeito…

  Mas colocando as mãos, debalde, sobre o corte

  Ela fita no esposo o triste olhar da morte

  E responde somente,

  Como quem se revela muito dificilmente,

  Ao morrer, em seguida a prolongado “ai!”

  — O homem que você achou comigo

  É mais que amigo,

  Era o seu próprio pai.


Maria Dolores


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