O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Colheita do bem — Mensagens familiares do Prof. Arthur Joviano (Neio Lúcio) e outros


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Sagrada comunhão

27/12/1949


1 Meus caros filhos, Deus abençoe a vocês, concedendo-lhes muita saúde, paz e alegria.

Antes de tudo, sejam nossos pensamentos um cântico de louvor silencioso ao 27 que nos vê passar em sagrada comunhão de interesses imortais. Hoje, na data simbólica em que nos reunimos, cabe-nos exaltar a graça do lar, a graça da união e a graça do tempo.

2 O lar é o barco para a travessia no mar das experiências necessárias. Sem ele, seria difícil emergir nos cimos da onda revolta em que se debate a vida inferior. Dentro dele, selecionamos as nossas melhores tendências para que se elevem e se multipliquem a nosso favor, dentro da luz eterna.

3 A união é o clima de desenvolvimento e prosperidade desses impulsos nobres, compelindo-nos a cultivar o que é bom e sagrado na marcha para a frente. E o tempo é o tesouro de bênçãos do Senhor, tão divino e substancial para a nossa alma quanto é o solo para a semente. Sem a terra amorável, o embrião da vida não passaria de força frustrada e sem a riqueza das horas, imperceptível para todos os habitantes da crosta do mundo, o espírito não avançaria, quedando-se à margem da existência à maneira de seixo ressequido ou morto.

4 Em vocês, nós saudamos o lar e a união, e em nosso Pai celestial louvamos o tempo bendito que nos forma a esperança a cada dia, e nos intensifica o entendimento e a hora. Que Jesus nos conceda a felicidade de honrar essa trilogia luminosa com as nossas melhores energias. Haja o que houver, não percamos o nosso clima de paz e harmonia dentro do barco, porque o mar da luta humana guarda ciladas ameaçadoras na superfície. Neste instante em que oramos, podemos tomar a prece por mensagem dos navegantes expedida na direção do porto de chegada.

5 Traçamos ideogramas contendo as nossas necessidades e aspirações. E hoje, que marcamos com o júbilo festivo de aniversário da união de vocês o fim do ano de culto à fé e ao amor, a nossa palavra é de encorajamento, gratidão e ternura. Não se detenham no roteiro traçado. Atravessemos as correntes traçadas, que nos impelem a embarcação para trás. Raros se dispõem em duelar com esses poderes do imenso campo de que vocês se vão afastando progressivamente. 6 Creiam que à partida, no momento “X” de começo, todos estávamos juntos, ainda que com diferenças de tempo para os reencontros individuais, e embora a heterogeneidade de sentimentos que nos assinalavam a posição espiritual, uns à frente de outros. Semelhante hora situou-se um pouco depois da metade do século que findou e, presentemente, nos encaminhamos para o centenário dos novos compromissos. Forçoso é confessar, porém, que muitos companheiros fascinados pelas ilhas do repouso não se atreveram a continuar na jornada. Embora acolhidos em lares felizes e tranquilos, é preciso situar que essas embarcações dormem encalhadas muitas delas “em águas rasas” para que os tripulantes passeiem através das regiões encantadas e obscuras da fantasia, que servem para atrasar a viagem. 7 Oremos por eles e continuemos. Raro é o viajor que procura pouso em tais refúgios que não acaba defrontado pela tempestade a arrastá-lo para o oceano pleno. Não há mérito, nem vantagem e nem paradas arbitrárias e sinuosas, porque sempre chegará um dia em que o vento forte arrebata a embarcação de improviso. Mais vale seguir, pois, dia a dia, sem aflições e sem desalentos, mas amealhando sempre novos valores para o continente sublime da chegada. Vocês nunca se arrependerão de haver lutado juntos para o bem e de haver perseverado no caminho reto. Momento virá em que todas as preocupações construtivas dos instantes em que passam serão convertidas em júbilos divinos, em plena eternidade.

8 Glória, portanto, aos 26 anos abençoados de aproximação incessante, de comunhão santificadora, de luz pertinente e imperecível amor! Formulamos votos ardentes para que se renovem sempre viçosos de confiança e beleza esses anos divinos que não passam, que ficaram em nossa retentiva semeando felicidade para nós e para quantos nos rodeiam, em todos os círculos de nossas atividades. Ficaram, porque foram prodigiosamente vividos na compreensão recíproca, no trabalho em comum e na extensão do esforço edificante, a benefício de todos e de nós mesmos. De alma ajoelhada na emoção que esta hora me infunde, rogo ao eterno Pai lhes revigore as energias na Esfera física, abençoando-lhes os ideais, e que os “talentos” do Céu colocados nas mãos de vocês floresçam e frutifiquem, sempre mais intensamente, conduzindo-lhes as mais belas aspirações à realidade integral.

9 E enquanto partilhamos o pão luminoso dos entendimentos, que a prece de nosso amor se estenda em auxílio edificante a todos os nossos que repousaram. Antigamente, eu acreditava que “os mortos no corpo” baixavam ao descanso, mas, na atualidade, compreendo o assunto noutro aspecto. A “morte” deve estar na parada que se verifica como plano inclinado à ociosidade. O repouso só é razoável como condição de nova luta para a construção do infinito bem, através de todos os setores. Que Jesus envie o socorro a todos os “ilhados” e que eles acordem a tempo de não ser surpreendidos pela tormenta.

10 Meus caros filhos, procurarei acompanhá-los na viagem de amanhã, fazendo votos para que sejam bem-sucedidos em suas tarefas na missão de ordená-los no campo representativo. Antes, porém, de me retirar dos júbilos domésticos que me ditaram as considerações iniciais desta carta, desejo oferecer-lhes (já que Maria se lembrou de consultar algum versículo), o versículo 12 [do capítulo 1] da primeira epístola de São Paulo aos coríntios e o versículo 27 do capítulo 2 da primeira epístola de São João Evangelista, na tradução do Padre Matos, que, a meu ver, é sempre mais musicalizada. n Não sei se me reportei com propriedade aos versículos citados, mas retificarei se houver enganado. Que Deus os conserve na paz, na comunhão, no amor e na felicidade de sempre.

11 Conosco permanecem alguns amigos, dentre os quais destaco o Padre João de Deus Macário, que encerra em nossa companhia as atividades do ano, neste culto que tem sido para todos nós uma sementeira de bênçãos. Felicitamos, meu filho, os seus estudos dos dias últimos. É necessário que nossa alma se mantenha insaciada de luz e a luz nos visitará sempre por alvorada nova e bendita em que as mais santas realizações nos será lícito aguardar.

12 Aprendamos com a vida para administrar com eficiência nas atividades de cada dia. Quem acende uma luz para o caminho não sofre o conflito com as trevas. Deus nos conceda no tempo oportunidades sempre renovadas de fazer o bem e intensificá-lo. É o que peço, com muita sinceridade e muita confiança.

13 Sei que continuam em auxílio aos meus trabalhos, mais reitero a minha solicitação de preces e pensamentos de ajuda para o setor “Botafogo”.

Encerrando os serviços de 1949, com os nossos agradecimentos a Jesus pelas abençoadas portas que nos abriram as mãos e a mente, em todo o transcurso do ano findante, e com um abraço muito afetuoso em que reúno vocês e netos na mesma vibração de carinho, paz e amor, sou o papai muito amigo que não os esquece,


A. Joviano



[1] Nota da organizadora: 1 Coríntios, 1:12: “Refiro-me ao fato de que entre vós se usa esta linguagem: Eu sou discípulo de Paulo; eu, de Apolo; eu, de Cefas; eu, de Cristo.” 1 João, 2: 27: “Quanto a vós, a unção que dele recebestes permanece em vós. E não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas como a sua unção vos ensina todas as coisas, assim é ela verdadeira e não mentira. Permanecei nele, como ela vos ensinou.” Tradução da Bíblia Sagrada pelo Padre Matos Soares, Porto - Portugal - 1933.


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