O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Brasil, coração do mundo, pátria do Evangelho — Humberto de Campos


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No Limiar da Independência

1 Novamente em Portugal, D. João VI  †  deixa-se levar ao sabor das circunstâncias.

Lisboa vivia então sob grande terror, com os julgamentos sumários que se haviam verificado contra todos os implicados no movimento que visava depor a ditadura de Beresford.  †  Inúmeros fuzilamentos foram levados a efeito, sem que as sentenças de morte fossem bafejadas pela sanção régia, constituindo verdadeiros assassínios, com os mais hediondos requintes de crueldade.

2 O soberano, que trazia constantemente na memória a figura de Luís XVI  †  colada à guilhotina, sujeita-se a todas as imposições dos revolucionários. Jura a Constituição Portuguesa,  †  sem o assentimento da rainha D. Carlota,  †  que é exilada para a Quinta do Ramalhão, onde ficará com o filho D. Miguel,  †  urdindo os novos planos de sua desmesurada ambição.

3 Os portugueses influentes consideram o perigo da independência brasileira. A mais preciosa gema que se havia engastado à coroa da Casa de Bragança  †  estava prestes a desprender-se, para sempre. Todas as providências contrárias à pretensão dos brasileiros são adotadas imediatamente. Um período agitado surge na política da época, entre os pólos antagônicos do absolutismo e da democracia. 4 As cortes portuguesas, com 130 deputados, impunham a sua vontade despótica aos 72 deputados brasileiros, que assistiam, com verdadeiro heroísmo, ao desenvolvimento dos projetos de franca hostilidade à direção do príncipe regente do Brasil, que, aos poucos, se ia inflamando ao calor das ideias liberais. 5 Os deputados do Brasil apresentam o projeto que visava criar um congresso na América, independente das câmaras organizadas na Europa, o que é recebido pelos portugueses como um insulto à dignidade nacional, recomedando um dos parlamentares que D. Pedro deveria abandonar o Paço de São Cristóvão, onde respirava a peçonha da bajulação dos inimigos do regime, e voltar a Lisboa, a fim de aprimorar a sua educação em viagens pela Europa. As agitações se intensificam num crescendo espantoso. Alguns deputados brasileiros, como Araujo Lima  †  e Antônio Carlos,  †  agredidos pela população, são coagidos a emigrar para a Inglaterra.

6 A caravana de Ismael desvela-se pelo cultivo das ideias liberais no coração da pátria e, através de processos indiretos, busca distribuir em todos os setores da terra do Cruzeiro as sementes da fraternidade e do amor.

Por essa época, a personalidade espiritual daquele que fora o Tiradentes  †  procura o mensageiro de Jesus, solicitando-lhe a palavra esclarecida, quanto à solução do problema da independência:

— “Anjo amigo, — exclama ele, — não será agora o instante decisivo para nossa atuação? Por toda parte há uma exaltação patriótica em todos os ânimos. Todas as possibilidades estão dispersas, mas poderíamos reunir todas essas forças, com o fim de derrubar as últimas muralhas que se opõem à liberdade da pátria do Evangelho.”

7 — “Meu irmão, — pondera Ismael sabiamente, — o momento da emancipação brasileira não tardará no horizonte de nossas atividades; todavia, precisamos articular todos os movimentos dentro da ordem construtiva, a fim de que não se percam as finalidades do nosso trabalho. 8 O problema da liberdade é sempre uma questão delicada para todas as criaturas, porque todos os direitos adquiridos se fazem acompanhar de uma série de obrigações que lhes são inerentes. Faz-se mister considerar que toda elevação requer a plena consciência do dever a cumprir, e daí a delicadeza da nossa missão, no sentido de repartir as responsabilidades. Precisamos difundir a educação individual e coletiva, dentro de todas as nossas possibilidades, formando os espíritos antes das obras. 9 No problema em causa, temos de aproveitar a autoridade de um príncipe do mundo, para levar a efeito a separação das duas pátrias com o mínimo de lutas, sem manchar a nossa bandeira de redenção e de paz com o amargo espetáculo das lutas fratricidas… 10 Cerquemos o coração desse príncipe com as claridades fraternas da nossa assistência espiritual… Povoemos as suas noites com os sonhos de amor à liberdade, desenvolvendo-lhe no espírito as noções da solidariedade humana… Individualmente considerado, não representa ele o tipo ideal, necessário à realização dos nossos projetos; voluntarioso e doente, não é o cérebro receptivo para nós outros, de modo a facilitar-se o nosso trabalho; mas a sua pessoa encarna o princípio da autoridade e temos de mobilizar todos os elementos ao nosso alcance, para evitar os desvarios criminosos de uma guerra civil. 11 Trabalhemos mais um pouco, junto ao seu coração irrequieto, procurando, simultaneamente, abrir um caminho novo à educação geral… Em breves dias, poderemos concentrar as forças dispersas para a proclamação da independência, e após semelhante realização enviaremos nosso apelo ao coração misericordioso de Jesus, implorando das suas bênçãos um novo rumo para a nossa tarefa, a fim de que a liberdade bem aproveitada e bem dirigida não constitua elemento de destruição na pátria dos seus sublimes ensinamentos…”

12 As sábias exortações de Ismael foram rigorosamente observadas por seus abnegados companheiros de ação espiritual.

Os Emissários Invisíveis buscam, piedosamente, distribuir os elementos de paz e de concórdia geral, harmonizando todos os pensamentos na edificação dos monumentos da liberdade.

13 As agitações, porém, avolumam-se em movimentos espantosos, empolgando a nação inteira. Debalde Portugal procurava reprimir a ideia da independência, que se havia firmado em todos os corações.

E, enquanto os brasileiros discutiam e conspiravam secretamente, a frota do Vice Almirante Francisco Maximiano de Sousa,  †  sob o comando do Coronel Antônio Joaquim Rosado, com 1.200 homens, partia de Lisboa para o Rio de Janeiro, com ordem terminante de repatriar o príncipe D. Pedro.


Humberto de Campos

(Irmão X)

Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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