O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

Índice | Página inicial | Continuar

Antologia dos Imortais — Autores diversos — 1ª Parte


24

Galdino de Castro


NA JAULA DA CARNE

1 Fora em prisca existência o gênio da batalha,
Era o saque, o terror e a morte em casa alheia…
Agora, reencarnado, em vão ruge, guerreia, n
Ataca, deblatera, apedreja, retalha.


2 Obsesso infeliz, estrídulo gargalha; n
De outras vezes, a sós, anárquico, pranteia.
Traz o cérebro em chama — incendida cadeia —,
A ocultar-se na sombra e a surgir sobre a palha.


3 “Louco!” — proclama a Terra. Ele blasfema e chora,
Contempla, estarrecido, as vítimas de outrora,
Réu da própria consciência em hórrida clausura…


4 Guarda a soma integral das culpas de outras vidas,
Mas, no hospício do mundo, em convulsões doridas,
Ele é tido por monstro em longa noite escura. n


OBSESSOR

1 — “Misericórdia, irmãos!…” — Em súplica, na praça,
O condenado à forca estorcega-se e geme. n
A turba aos empuxões — enorme nau sem leme
Abisma-se no mar da violência devassa. 18 n


2 O réu chora, maldiz a sentença e ameaça…
O carrasco desdobra espessa corda creme.
Tomba a cabeça irada, o torso rola, treme,
Bamboleando ao clamor da imensa populaça. 22


3 Mas do corpo suspenso, agora inerte e quedo,
Sai o Espírito em sombra — um salteador sem medo —, n
De olhar a reluzir, em lúgubre transporte…


4 Qual fantasma do crime a destilar vingança,
Segue, em revolta extrema, e intimorato alcança
O implacável juiz que o condenara à morte.


GALDINO Pereira DE CASTRO — Destacado poeta do grupo da Nova Cruzada e jornalista precoce, Galdino de Castro, formado em Medicina, depois de desistir do curso jurídico, foi clínico e político. Colaborou em vários periódicos da Bahia fundando alguns até mesmo nos tempos colegiais. Dedicou-se ao magistério anos antes de transferir-se para S. Paulo, depois de abandonar a literatura. “Dos livros que anunciava — Pavilhões, Auriflamas, Troféus — não publicou nenhum.” (Salvador, Bahia, 18 de Abril de 1882 — S. Paulo, 23 de Agosto de 1939.)



[1] Aliteração em rr.

[2] Suarabácti: “o-b-ses-so”. Cf. nota 1, do cap. 10, da 1ª Parte.

[3] Cf. o soneto “Noturno” (apud Pan. IV, pág. 267) e observe-se que o esquema rimático dos tercetos é idêntico ao de “Na Jaula da Carne”, em que o poeta explica a causa remota da loucura de que, hoje, muitos irmãos nossos são portadores na cela dos manicômios.

[4] estorcega-se: o mesmo que estorcer-se. Note-se o efeito deste verbo.

[5] 18-22. Ler com sinérese: vio-lên-cia e bam-bo-lean-do.

[6] Ler sal-tea-dor em três silabas.


(Psicografia de Francisco C. Xavier)


Abrir