O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Almas em desfile — Hilário Silva — F. C. Xavier / Waldo Vieira — 2ª Parte


20

Restabelecido

1 O irmão Fego, abnegado espírita que se tornara um apóstolo da caridade em Sergipe, começou a aplicar passes magnéticos em um cavalheiro obsidiado, cujas melhoras eram visíveis.

2 O generoso visitador dos pobres reparou, entretanto, que a memória do enfermo ainda era confusa.

O doente comia regularmente, dormia calmo e falava com acerto, mas parecia de nada mais recordar-se.

3 Seis meses corriam sobre a situação, quando implorou ao Espírito Bittencourt Sampaio, então incorporado em um médium amigo de Aracaju, socorresse o infeliz, ao que o benfeitor respondeu que o doente já estava plenamente restabelecido e que já não mais necessitava de passe.

— E a memória? — Disse Fego, — o pobre homem não mais se lembra de nada… É falta de caridade deixá-lo assim…

4 Bittencourt não respondeu e Fego acreditou que o generoso amigo espiritual fora substituído por algum mistificador.

5 No dia seguinte, orava junto ao enfermo, agradecendo a presença dos instrutores da Vida Maior nos passes que acabava de ministrar, quando o enfermo foi visitado por um homem de boa aparência, que, depois de saudá-lo, entrou logo no assunto que o trazia.

— Venho vê-lo, — disse, — da parte de um companheiro de Pernambuco.

6 E porque o doente nada respondesse, como se estivesse alheio ao assunto, prosseguiu:

— É o problema da conta… Não se lembra da conta?

— Não, não me lembro… — Replicou o interpelado a esparramar-se na rede.

— Mas, meu amigo, é caso urgente… É a velha conta…

— Não me recordo.

— Meu Deus, é uma questão séria… Trata-se de uma conta grande…

7 Fego, compadecido, interferiu, falando em tom de súplica:

— Peço ao senhor ajudar-nos, solicitando paciência ao credor… Por enquanto, nosso doente está sem memória…

— Mas dá-se o contrário, — exclamou o visitante, — trata-se de oitenta contos de réis que preciso entregar-lhe em nome de um amigo.

8 Os olhos do enfermo iluminaram-se de repente, e ele falou firme:

— Já sei… Lembro-me perfeitamente agora. É um dinheiro que emprestei ao Geminiano, em Recife, há quatro anos… Poderei passar recibo imediatamente…

— Isso mesmo, isso mesmo, — disse o recém-chegado, esfregando as mãos.

9 Estupefato, irmão Fego abanou a cabeça e falou em voz alta, qual se estivesse argumentando consigo mesmo:

— É… é… Bittencourt tinha razão.


Hilário Silva


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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