O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano X — Março de 1867.

(Idioma francês)

DISSERTAÇÕES ESPÍRITAS.


Mangin, o charlatão.

1. — Todo o mundo conheceu esse vendedor de lápis que, montado num carro ricamente decorado, com um capacete brilhante e uma roupa extravagante, por muitos anos foi uma das celebridades das ruas de Paris.  †  Não era um charlatão vulgar e os que o conheceram pessoalmente eram concordes em lhe reconhecer uma inteligência pouco comum, uma certa elevação de pensamento e qualidades morais acima de sua profissão nômade. Morreu o ano passado e, desde então, comunicou-se várias vezes, espontaneamente, com um dos nossos médiuns. Conforme o caráter que lhe reconheciam, não será de admirar o verniz filosófico que se encontra em suas comunicações.


(Paris, 20 de dezembro de 1866. – Grupo do Sr. Desliens – Médium: Sr. Bertrand.)

2. O LÁPIS.


O lápis é a palavra do pensamento. Sem o lápis o pensamento fica mudo e incompreensível para os vossos sentidos grosseiros. O lápis é a alma ofensiva e defensiva do pensamento; é a mão que fala e se defende.

O lápis!… e sobretudo o lápis Mangin!… Oh! perdão… eis que me torno egoísta!… Mas por que eu não poderia, como outrora, elogiar os meus lápis? Não são bons?… Tendes de que vos queixar? Ah! se eu ainda estivesse em meu veículo francês, com meu costume romano… acreditar-me-íeis… Eu sabia fazer tão bem minha propaganda e o pobre bobo julgava branco o que era preto, simplesmente porque Mangin, o célebre charlatão, o havia dito!… Eu disse charlatão… Não, é preciso dizer propagandista… Vamos! charlatães, desatai os cordões de vossa bolsa; comprai esses soberbos lápis, mais negros que a tinta e duros como pedra… Acorrei, acorrei: a venda vai terminar!… Ah! o que foi mesmo que eu disse?… Palavra de honra! creio que me engano de papel e que acabei muito mal, depois de ter começado bem…

Todos vós, munidos de lápis, sentados em redor desta mesa, ide dizer e provai aos jornalistas orgulhosos que Mangin não está morto. Ide dizer aos que esqueceram minha mercadoria, porque eu não estava mais lá, para os fazer acreditar em suas admiráveis qualidades; ide dizer a todo o mundo que ainda vivo e que, se morri, foi para viver melhor…

Ah! senhores jornalistas, zombáveis de mim e, contudo, se em vez de me considerar como um charlatão a roubar o dinheiro do povo, me tivésseis estudo mais atentamente e filosoficamente, teríeis reconhecido um ser com reminiscências de seu passado. Teríeis compreendido o porquê de meu gosto por este costume de guerreiro romano, o porquê deste amor às arengas em praça pública. Então, sem dúvida, teríeis dito que eu tinha sido soldado ou general romano e não vos teríeis enganado.

Vamos! vamos! então comprai lápis e usai-os; mas servi-vos deles utilmente, não como eu para perorar sem motivo, mas para propagar esta bela doutrina que muitos dentre vós não seguis senão de muito longe.

Armai-vos, pois, de vossos lápis e abri uma larga estrada neste mundo de incredulidade. Fazei tocar com o dedo a todos estes São-Tomés incrédulos as sublimes verdades do Espiritismo, que um dia farão que todos os homens sejam irmãos.


Mangin.


(Grupo do Sr. Delanne. – 14 de janeiro de 1867. – Médium: Sr. Bertrand.)

3. O PAPEL.


Falei do lápis e do charlatanismo, mas ainda não falei do papel. Sem dúvida é porque me reservava fazê-lo esta noite.

Ah! como eu gostaria de ser papel! não quando ele se avilta a fazer o mal, mas, ao contrário, quando cumpre seu verdadeiro papel, que é fazer o bem! Com efeito, o papel é o instrumento que, juntamente com o lápis, semeia aqui e ali nobres pensamentos do espírito. O papel é o livro aberto onde cada um pode colher com o olhar os conselhos úteis à sua viagem terrestre!…

Ah! como eu gostaria de ser papel, a fim de cumprir com ele o papel de moralizador e de instrutor, dando a cada um o encorajamento necessário para suportar com firmeza os males que, tantas vezes, são causas de vergonhosas fraquezas!…

Ah! se eu fosse papel aboliria todas as leis egoístas e tirânicas, para não deixar irradiar senão as que proclamam a igualdade. Eu só falaria de amor e de caridade. Queria que todos fossem humildes e bons, que o mau se tornasse melhor, que o orgulhoso se tornasse humilde, que o pobre se tornasse rico, enfim, que a igualdade surgisse e, em todas as bocas, fosse como a expressão da verdade e não a esperança de ocultar o egoísmo e a tirania, que dominam o coração.

Se eu fosse papel, queria ser branco para a inocência, e verde para quem não tem esperança de um alívio para seus males. Queria ser ouro nas mãos do pobre, felicidade nas mãos do aflito, bálsamo nas do doente. Queria ser o perdão de todas as ofensas. Não condenaria, não maldiria, não lançaria anátemas; não criticaria com malevolência; nada diria que pudesse prejudicar a alguém. Enfim, faria o que fazeis: apenas ensinar o bem e falar desta bela doutrina que vos reúne a todos e sob todas as formas; professaria sempre esta sublime máxima: Amai-vos uns aos outros.

Aquele que gostaria de voltar à Terra, não charlatão, não para vender apenas lápis, mas para a isto juntar a venda de papel e que diria a todos: o lápis não pode ser útil sem o papel e o papel não pode dispensar o lápis.


Mangin.


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