O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano X — Dezembro de 1867.

(Idioma francês)

Joana d’Arc e seus comentadores.

Joana d’Arc é uma das grandes figuras da França, que se ergue na História como um imenso problema e, ao mesmo tempo, como um protesto vivo contra a incredulidade. É digno de nota que neste tempo de cepticismo, são os mais obstinados adversários do maravilhoso que se esforçam por exaltar a memória desta heroína quase lendária; obrigados a analisar esta vida cheia de mistérios, veem-se constrangidos a reconhecer a existência de fatos que as leis da matéria, por si sós, não poderiam explicar, porque se se tiram esses fatos, Joana d’Arc não passa de uma mulher corajosa, como se veem muitas. Provavelmente não é sem uma razão de oportunidade que a atenção pública é chamada sobre este assunto no momento. É um meio como qualquer outro de rasgar caminho às ideias novas.

Joana d’Arc não é um problema, nem um mistério para os espíritas. É um tipo eminente de quase todas as faculdades mediúnicas, cujos efeitos, como uma porção de outros fenômenos, se explicam pelos princípios da doutrina, sem que haja necessidade de se lhes buscar a causa no sobrenatural. É a brilhante confirmação do Espiritismo, do qual ela foi um dos mais eminentes precursores, não por seus ensinamentos, mas pelos fatos, tanto quanto por suas virtudes, que nela denotam um Espírito superior.

Nós nos propomos fazer um estudo especial a respeito, desde que nossos trabalhos no-lo permitam. Enquanto se espera, não é inútil conhecer a maneira pela qual suas faculdades são encaradas pelos comentadores.

O artigo seguinte é tirado do Propagateur de Lille,  †  de 17 de agosto de 1867.


“Certamente nossos leitores se lembram de que este ano, por ocasião da festa de aniversário do levantamento do cerco de Orléans,  †  o Sr. abade Freppel pediu, com humilde e generosa coragem, a canonização de nossa Joana d’Arc. Hoje lemos na Bibliothèque de l’École de Chartres  †  um excelente artigo do Sr. Natalis de Wailly, membro da Academia das Inscrições,  †  que, a propósito da Jeanne d’Arc - Google books, do Sr. Wallon, dá suas conclusões e as da verdadeira ciência sobre a história sobrenatural daquela que foi, ao mesmo tempo, uma heroína da Igreja e da França. Os argumentos do Sr. de Wailly são bem feitos para encorajar as esperanças do abade Freppel e as nossas. — Léon Gautier (Monde).”

“Não há muitas personagens históricas que tenham sido, mais que Joana d’Arc, alvo da contradição dos contemporâneos e da posteridade. Não os há, entretanto, cuja vida seja mais simples nem mais bem conhecida.

“Saída repentinamente da obscuridade, ela não aparece na cena senão para representar um papel maravilhoso, que logo atrai a atenção de todos. É uma jovem que só sabe fiar e costurar, que se pretende enviada de Deus para vencer os inimigos da França. De início tem apenas um pequeno número de partidários devotados, que acreditam em sua palavra; os espertos desconfiam e lhe criam obstáculos: cedem, enfim, e Joana d’Arc pôde conquistar as vitórias que havia predito. Em breve ela arrasta até Reims  †  um rei incrédulo e ingrato, que a atraiçoa no momento em que se prepara para tomar Paris, que a abandona quando ela cai prisioneira nas mãos dos ingleses, e que nem mesmo tenta protestar e proclamar a sua inocência, quando ela vai expirar por ele. No dia de sua morte, não havia apenas inimigos que a declaravam apóstata, idólatra, impudica, ou amigos fiéis que a veneravam como uma santa; também havia ingratos que a esqueciam, sem falar dos indiferentes, que não se preocupavam com ela, e gente esperta que se gabava de jamais ter acreditado em sua missão, ou de nela ter pouco acreditado.

“Todas essas contradições, em meio das quais Joana d’Arc teve que viver e morrer, lhe sobreviveram e a acompanharam através dos séculos. Entre o vergonhoso poema de Voltaire n e a eloquente história do Sr. Wallon, produziram-se as mais diversas opiniões; e se todos hoje concordam em respeitar esta grande memória, pode dizer-se que sob a admiração comum ainda se ocultam profundos dissentimentos. Com efeito, quem quer que leia ou escreva a história de Joana d’Arc, vê erguer-se em sua frente um problema que a crítica moderna não gosta de encontrar, mas que aí se impõe como uma necessidade. Este problema é o caráter sobrenatural que se manifesta no conjunto dessa vida extraordinária, e mais especialmente em certos fatos particulares.

“Sim, a questão do milagre se apresenta inevitavelmente na vida de Joana d’Arc; ela embaraçou mais de um escritor e muitas vezes provocou estranhas respostas. O Sr. Wallon pensou com razão que o primeiro dever de um historiador de Joana d’Arc era não se esquivar a esta dificuldade: ele a aborda de frente, e a explica pela intervenção miraculosa de Deus. Tentarei mostrar que esta solução é perfeitamente conforme às regras da crítica histórica.

“As provas metafísicas sobre as quais pode apoiar-se a possibilidade do milagre escapam ou desagradam a certos espíritos; mas a História não tem que fazer essas provas. Sua missão não é estabelecer teorias, mas constatar fatos e registrar todos os que aparecem como certos. Que um fato miraculoso ou inexplicável deve ser verificado com mais atenção, ninguém o contestará; por conseguinte esse mesmo fato, verificado mais atentamente que os outros, adquire, de certo modo, um maior grau de certeza. Raciocinar de outro modo é violar todas as regras da crítica e transferir para a História os preconceitos da metafísica. Não há argumentação contra a possibilidade do milagre que dispense o exame das provas históricas de um fato miraculoso, e a sua admissão, quando capazes de produzir convicção num homem de bom-senso e de boa-fé. Mais tarde se terá o direito de procurar para esse fato uma explicação que satisfaça a este ou àquele sistema científico; mas, antes de tudo, e aconteça o que acontecer, a existência do fato deve ser reconhecida, quando repousar em provas que satisfaçam às regras da crítica histórica.

“Há ou não fatos desta natureza na história de Joana d’Arc? Esta questão foi discutida e debatida por um sábio que precedeu o Sr. Wallon, e desta maneira adquiriu uma autoridade incontestável. Se aqui cito o Sr. Quicherat, de preferência ao Sr. Wallon, não é somente porque um, antes do outro, constatou os fatos que quero lembrar; é, também, porque ele se propôs estabelecê-los sem pretender explicá-los, de sorte que sua crítica, independente de todo sistema preconcebido, limitou-se a estabelecer premissas, cujas conclusões nem mesmo quis prever.

“É claro, diz ele, que os curiosos quererão ir mais longe e raciocinar sobre uma causa, cujos efeitos não lhes bastará admirar: Teólogos, psicólogos, fisiologistas, eu não tenho solução a lhes indicar; que encontrem, se puderem, cada um de seu ponto de vista, os elementos de uma apreciação que desafie todos os contraditores. A única coisa que me sinto capaz de fazer na direção em que se exercer semelhante pesquisa é apresentar, sob sua forma mais precisa, as particularidades da vida de Joana d’Arc que parecem sair do círculo das faculdades humanas.

“A mais importante particularidade, a que domina todas as outras, é o fato de vozes que ela escutava várias vezes por dia, que a interpelavam ou lhe respondiam, cujas inflexões ela distinguia, referindo-as sobretudo a São Miguel, a Santa Catarina e a Santa Margarida. Ao mesmo tempo se manifestava uma viva luz, na qual ela percebia a figura de seus interlocutores. “Eu os vejo com os olhos do meu corpo, dizia ela aos seus juízes, tão bem quanto vos vejo.” Sim, ela sustentava com inabalável firmeza que Deus a aconselhava por intermédio dos santos e dos anjos. Um instante ela se desmentiu; fraquejou diante do medo do suplício; mas chorou sua fraqueza e a confessou publicamente; seu último grito nas chamas foi que suas vozes não a tinham enganado e que suas revelações eram de Deus. Deve-se, pois, concluir com o Sr. Quicherat que “sobre este ponto a mais severa crítica não tem suspeitas a levantar contra a sua boa-fé.” Uma vez constatado o fato, como certos sábios o têm explicado? De duas maneiras: ou pela loucura, ou por simples alucinação. Que diz a isto o Sr. Quicherat? Que prevê grandes perigos para os que quiserem classificar os fatos da Pucela  †  entre os casos patológicos.

“Mas, acrescenta ele, quer a Ciência aí encontre ou não a sua explicação, não será menos necessário admitir as visões e, como vou fazer ver, estranhas percepções de espírito, resultantes dessas visões.

“Quais são essas estranhas percepções de espírito? São revelações que permitiram a Joana: ora conhecer os mais secretos pensamentos de certas pessoas, ora perceber objetos fora do alcance dos sentidos, ora discernir e anunciar o futuro.

“O Sr. Quicherat cita para cada uma destas três espécies de revelações “um exemplo assentado sobre bases tão sólidas que não se pode, diz ele, rejeitá-lo sem rejeitar o próprio fundamento da História.”

“Em primeiro lugar, Joana revelou a Carlos VII. um segredo conhecido apenas por Deus e por ele, único meio que ela teve de forçar a crença deste príncipe desconfiado.

“Depois, achando-se em Tours,  †  discerniu que havia, entre Loches  †  e Chinon,  †  na igreja de Santa Catrina de Fierbois,  †  enterrada a uma certa profundidade, perto do altar, uma espada enferrujada e marcada com cinco cruzes. A espada foi encontrada e mais tarde seus acusadores lhe imputaram ter sabido, por ouvir dizer, que essa arma lá estava ou que ela própria a teria colocado ali.

“Sinto, disse a propósito o Sr. Quicherat, quanto semelhante interpretação parecerá forte num tempo como o nosso; ao contrário, quão fracos os fragmentos de interrogatório que ponho em oposição; mas quando se tem sob os olhos o processo inteiro, e quando se vê de que maneira a acusada põe sua consciência a descoberto, então é seu testemunho que é forte, e a interpretação dos argumentadores que é fraca.

“Deixo, enfim, o próprio Sr. Quicherat contar uma das predições de Joana d’Arc:

“Numa de suas primeiras conversas com Carlos VII, ela lhe anunciou que, operando-se a libertação de Orléans,  †  ela seria ferida, mas sem ser posta fora de combate; suas duas santas lho haviam dito e o acontecimento lhe provou que não a tinham enganado. Ela confessa isto em seu quarto interrogatório. Estaríamos reduzidos a esse testemunho, que o cepticismo, sem pôr em dúvida a sua boa-fé, poderia imputar seu dito a uma ilusão de memória; mas o que demonstra que ela efetivamente predisse seu ferimento, é que o recebeu a 7 de maio de 1429, e que a 12 de abril precedente, um embaixador flamengo, que estava na França, escrevia ao governo de Brabant uma carta na qual não só era contada a profecia, mas a maneira por que se realizaria. Joana teve o ombro atravessado por uma flecha de balestra,  †  no assalto do forte de Tourelles,  †  e o enviado flamengo tinha escrito: Ela deve ser ferida por uma flecha num combate diante de Orléans, mas não morrerá. Essa passagem de sua carta foi consignada nos registros da Câmara de contas de Bruxelas.  † 

“Um dos sábios cuja opinião eu lembrava há pouco aquele que faz de Joana d’Arc uma alucinada antes que uma louca não contesta suas predições e as atribui a uma sorte de impressionabilidade sensitiva, a uma irradiação da força nervosa, cujas leis ainda não são conhecidas.

“Estão bem certos de que essas leis existem e que jamais devem ser conhecidas? Enquanto não o forem, não é melhor confessar francamente sua ignorância do que propor tais explicações? Toda hipótese é boa quando se trata de negar a ação da Providência, e a incredulidade dispensa qualquer raciocínio? Não se deveria dizer que, desde a origem dos tempos a imensa maioria dos homens concordou em acreditar na existência de um Deus pessoal que, depois de haver criado o mundo, o dirige e se manifesta quando lhe apraz, por sinais extraordinários? Se fizessem calar um instante o seu orgulho, não ouviriam esse concerto de todas as raças e de todas as gerações? O que é maravilhoso é que se possa ter uma fé tão robusta em si mesmo quando se fala em nome de uma ciência que é a mais incerta e a mais variável de todas, de uma ciência cujos adeptos não cessam de contradizer-se, cujos sistemas morrem e renascem como a moda, sem que jamais a experiência tenha podido arruiná-los ou assentar definitivamente um só deles. Eu diria com muito gosto a esses doutores em patologia: Se encontrardes doenças como a de Joana d’Arc guardai-vos de as curar; trabalhai muito, antes que se tornem contagiosas.

“Mais bem inspirado, o Sr. Wallon não pretendeu conhecer Joana d’Arc melhor do que ela própria. Posto em face da mais sincera das testemunhas, ouviu-a atentamente e votou-lhe inteira confiança. Essa mistura de bom-senso e elevação, de simplicidade e grandeza, essa coragem sobre-humana, realçada ainda por curtos desfalecimentos da natureza, não lhe apareceram como sintomas de loucura ou de alucinação, mas como sinais espetaculares de heroísmo e de santidade. Aí, e não alhures, estava a boa crítica; daí vem que, procurando a verdade, também encontrou a eloquência e ultrapassou a todos que o tinham precedido nessa via. Merece ser posto à frente desses escritores, dos quais disse excelentemente o Sr. Quicherat:

“Eles restituíram Joana tão inteira quanto puderam, e quanto mais se empenhavam em reproduzir a sua originalidade, mais encontravam o segredo de sua grandeza.

“O Sr. Quicherat achará muito natural que eu tome suas palavras para caracterizar um sucesso, para o qual ele contribuiu mais que ninguém; porque, se não lhe conveio escrever, ele próprio, a história de Joana d’Arc, doravante é impossível empreendê-lo sem recorrer aos seus trabalhos. O Sr. Wallon, em particular, deles tirou imenso proveito, sem ter quase nunca nada a modificar, nem nos textos recolhidos pelo editor, nem em suas conclusões. Entretanto, não os aceitou sem controle. É assim que aponta uma omissão involuntária, de que se prevaleceu um escritor, que antes se inclina para a alucinação do que para a inspiração de Joana d’Arc. Lê-se na página 216 do Processo (tomo I), que Joana d’Arc estava em jejum no dia em que, pela primeira vez, ouviu a voz do anjo, mas que não tinha jejuado no dia anterior. Na página 52, ao contrário, o Sr. Quicherat tinha impresso: et ipsa Johanna jejunaverat die proecedenti. Suprimindo na página 216 a negação que falta na página 52, tinham-se dois jejuns consecutivos, que pareciam uma causa suficiente de alucinação. O manuscrito não se presta a esta hipótese; o Sr. Wallon constatou que a exatidão habitual do Sr. Quicherat aqui se acha em falta, e que é preciso ler, na página 52, non jejunaverat.

“A única discordância um tanto grave que percebo entre os dois autores é quando apreciam os vícios de forma assinalados no processo. O Sr. Quicherat sustenta que Pierre Cauchon era muito hábil para cometer ilegalidades, e o Sr. Wallon o julga muito apaixonado para ter podido se defender. Não estou em condições de decidir esta questão; apenas farei notar que, no fundo, ela tem pouca importância, porque, de um e de outro lado, estão de acordo quanto à iniquidade do juiz e a inocência da vítima.

“Encontro o Sr. Wallon, afirmando com o Sr. Quicherat, contrariamente a uma opinião já antiga, e que ainda conserva partidários, que Carlos VII, uma vez sagrado em Reims, Joana d’Arc ainda não tinha realizado toda a sua missão, porquanto ela própria se tinha anunciado como devendo, além disso, expulsar os ingleses. Deixo deliberadamente de lado a libertação do duque de Orléans, porque é um ponto sobre o qual suas declarações não são tão explícitas. Mas no que concerne à expulsão dos ingleses, tem-se a própria carta que ela lhes dirigiu em 22 de março de 1429: “Eu aqui vim por Deus, o rei do céu, corpo por corpo, para vos expulsar de toda a França.” Seus curtos desfalecimentos nada podem contra esse texto autêntico, confirmado por ela em muitas ocasiões, até que o consagrasse sobre a fogueira, por um protesto supremo. Assim, não sei por que persiste a dúvida, sobretudo no espírito dos que creem na inspiração de Joana d’Arc. Como podem conhecer sua missão, senão por ela? e por que recusar-lhe aqui a crença que lhe concedem alhures?

“Dirão que ela fracassou; portanto, não tinha missão de Deus para o empreender. Tal foi, com efeito, o triste pensamento que se apoderou dos espíritos, quando a souberam prisioneira dos ingleses. Mas o piedoso Gérson, alguns meses antes de morrer, e no seguinte à libertação de Orléans, de certo modo tinha previsto os reveses após a vitória, não como uma desaprovação a Joana d’Arc, mas como castigo para os ingratos que ela vinha defender. Escrevia ele em 14 de maio de 1529:

“Ainda mesmo – que Deus não o permita! – que ela se tivesse enganado em sua esperança e na nossa, daí não se devia concluir que o que ela fez vem do espírito maligno e não de Deus; mas antes de atribuir a culpa à nossa ingratidão e ao justo julgamento de Deus, embora secreto… porque Deus, sem mudar de opinião, muda a sentença conforme os méritos.

“Ainda aqui o Sr. Wallon fez boa crítica: não divide os testemunhos de Joana d’Arc; ele os aceita todos e os proclama sinceros, mesmo quando não parecem ser proféticos. Acrescento que os justifica plenamente, mostrando que, se tinha a missão de expulsar os ingleses, não prometeu executar tudo por si mesma, mas que começou a obra e predisse a sua conclusão. O Sr. Wallon o sentiu bem. Não é compreender Joana d’Arc glorificá-la em seus triunfos para a renegar em sua paixão.

“Sobretudo nós, que conhecemos o desenlace desse drama maravilhoso, nós que sabemos que os ingleses com efeito foram expulsos do reino e a coroa de Reims consolidada na cabeça de Charles VII, devemos crer, com o Sr. Wallon, que Deus jamais deixou de inspirar aquela, cuja grandeza lhe aprouve consagrar pela provação, e a santidade pelo martírio.” — N. de Wailly.


O nosso correspondente de Antuérpia,  †  que houve por bem nos enviar o artigo acima, juntou a nota que se segue, oriunda de suas pesquisas pessoais sobre o processo de Joana d’Arc:

“Pierre Cauchon,  †  bispo de Beauvais, e um inquisidor chamado Lemaire, assistidos por sessenta assessores, foram os juízes de Joana. Seu processo foi instruído segundo as formas misteriosas e bárbaras da Inquisição, que havia jurado a sua perda. Ela quis que a decisão do julgamento fosse delegada ao papa e ao Concílio de Basileia,  †  mas o bispo se opôs. Um padre, L’Oyseleur, a enganou, abusando da confissão, e lhe deu funestos conselhos. Por força de intrigas de toda sorte, ela foi condenada em 1431 a ser queimada viva, “como mentirosa, perniciosa, enganadora do povo, adivinha, blasfemadora de Deus, descrente na fé de Jesus-Cristo, vaidosa, idólatra, cruel, dissoluta, invocadora dos diabos, cismática e herética.”

“Em 1546 o papa Calisto III. fez pronunciar, por uma comissão eclesiástica, a reabilitação de Joana e, por uma sentença solene, foi declarado que Joana morreu mártir para a defesa de sua religião, de sua pátria e de seu rei. O papa quis mesmo canonizá-la, mas sua coragem não foi tão longe.

“Pierre Cauchon morreu subitamente, em 1443, fazendo a barba. Foi excomungado; seu corpo foi desenterrado e atirado num monturo.”



[1] [Oeuvres de Voltaire: La Pucelle - Google Books.]


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