O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano VI — Fevereiro de 1863.

(Idioma francês)

A loucura espírita.

Resposta ao Sr. Burlet, de Lyon.  † 
(Sumário)

1. — O folhetim da Presse de 8 de janeiro de 1863 estampa o artigo seguinte, extraído do Salut public de Lyon, e que a Gironde de Bordeaux  †  apressou-se em reproduzir, acreditando tirar sorte grande contra o Espiritismo:


CIÊNCIAS.

“O Sr. Philibert Burlet, interno dos hospitais de Lyon, leu recentemente na Sociedade de Ciências Médicas desta cidade um interessante trabalho sobre o Espiritismo, considerado como causa de alienação mental. Em face da epidemia que se abate no momento sobre a sociedade francesa, certamente não será desprovido de utilidade assinalar os fatos contidos na memória do Sr. Burlet.

“O autor descreve com cuidado seis casos de loucura, dita aguda, observados por ele mesmo no hospital de Antiquaille,  †  nos quais se segue, sem qualquer dificuldade, a relação direta entre a alienação mental e as práticas espíritas. Diz ele que há pouco tempo o Dr. Carrier teve, por sua vez, ocasião de tratar e ver curadas, em seu serviço, três mulheres que o Espiritismo havia tornado loucas. Aliás, não há um só médico, cuidando especialmente de alienação mental, que não tenha observado, em maior ou menor número de casos análogos, sem falar, é claro, das perturbações intelectuais ou afetivas que, sem chegar até o ponto a que se convencionou chamar de loucura, não deixam de alterar a razão e tornar desagradável e bizarro o comportamento daqueles que as apresentam. Esta influência da pretensa doutrina espírita está hoje bem demonstrada pela Ciência. As observações que o estabelecem se contariam aos milhares. Diz o Sr. Burlet: “Se nas outras partes da França os casos de loucura causados pela doutrina dos médiuns forem tão frequentes quanto no Departamento que habitamos — e não há razão para que assim não seja — parece-nos fora de dúvida que o Espiritismo pode tomar lugar na fileira das causas mais fecundas de alienação mental.” Terminando, o autor exorta os pais e mães de família, os chefes de oficinas, etc. a velarem para que seus filhos e empregados jamais compareçam “a essas reuniões espíritas chamadas grupos, nas quais o perigo para a razão certamente não é o único a temer.”

“É, pois, de incontestável utilidade dar publicidade aos fatos deste gênero, colhidos conscienciosamente, como os do interno dos hospitais de Lyon. Não que haja a menor chance para agir sobre os indivíduos já afetados pela epidemia; o caráter de sua loucura é precisamente a forte convicção de serem os únicos a deterem a posse da verdade. Em sua humildade, julgam-se com o dom de comunicar-se com os Espíritos e tratam de orgulhosa a ciência que ousa duvidar de seu poder. Vítimas da alucinação que os domina, admitida a premissa, raciocinam a seguir com uma lógica irrepreensível, que não faz senão fortalecê-los em sua aberração. Mas podemos guardar a esperança de agir sobre as inteligências ainda sãs, que fossem tentadas a se exporem às seduções do Espiritismo, assinalando-lhes o perigo e assim as garantir contra esse perigo. É bom saber que as práticas espíritas e a convivência com os médiuns, que são verdadeiros alucinados, é necessariamente prejudicial para a razão; só os caracteres fortemente temperados podem resistir. Os outros aí sempre deixam uma parte, maior ou menor, do seu bom-senso.”


A. Sanson. n


2. — Este artigo pode fazer concorrência com os sermões relatados no artigo precedente. Nele se pode ver, se não uma concordância de origem, ao menos idêntica intenção: a de levantar a opinião contra o Espiritismo, por meios onde se manifesta a mesma boa-fé ou a mesma ignorância das coisas. Notai a gradação seguida pelos ataques, desde o famoso e desastrado artigo da Gazette de Lyon (Vide Revista Espírita do mês de outubro de 1860). Então não passava de um gracejo vulgar, onde os operários daquela cidade eram humilhados, ridicularizados, e sua profissão menosprezada. Não era, com efeito, notável falta de habilidade lançar o desprezo sobre trabalhadores e os instrumentos que fazem a prosperidade de uma cidade como Lyon? A partir de então a agressão tomou outro caráter: vendo a impotência do ridículo e não podendo deixar de constatar o terreno ganho diariamente pelas ideias espíritas, ela o toma num tom mais lamentável. É em nome da Humanidade, em face da epidemia que se abate no momento sobre a sociedade francesa, que vem assinalar os perigos dessa pretensa doutrina que torna desagradável e bizarro o comportamento daqueles que a professam. Cumprimento pouco lisonjeiro para as senhoras de todas as classes, mesmo para as princesas, que creem nos Espíritos. No entanto, parece-nos que as pessoas violentas e irascíveis, tornadas mansas e boas pelo Espiritismo, não dão prova de um caráter muito mau e são menos desagradáveis do que antes, e que entre os não espíritas só se encontra gente amável e benevolente. Embora se vejam numerosas famílias onde o Espiritismo restabeleceu a paz e a união, é em nome de seu interesse que se intimam os operários a não comparecerem a “essas reuniões chamadas grupos, onde podem perder a razão e muitas outras coisas”, sem dúvida achando que a conservariam melhor indo ao cabaré do que ficando em casa.

Não surtindo efeito a zombaria, eis que agora os adversários chamam a Ciência em seu auxílio. Não mais a ciência trocista, representada pelo músculo estalante do Sr. Jobert, de Lamballe  †  (Vide Revista Espírita de junho de 1859), mas a ciência séria, condenando o Espiritismo tão gravemente quanto outrora condenou a aplicação do vapor à marinha, e tantas outras utopias que, mais tarde, tiveram a fraqueza de tomar como verdades. E qual é o seu representante nesta grave questão? O Instituto de França? Não; é o Sr. Philibert Burlet, interno dos hospitais de Lyon, isto é, estudante de Medicina, que faz suas primeiras armas lançando uma memória contra o Espiritismo. Ele falou e, por causa dele e do Sr. Sanson (da Presse), a Ciência deu a sua sentença, sentença que provavelmente não será inapelável, como a dos doutores que condenaram a teoria de Harvey  †  sobre a circulação do sangue, lançando sobre seu autor “libelos e diatribes mais ou menos virulentos e grosseiros.” (Dicionário das Origens.) Dictionnaire des origines - Google Books. Seja dito, entre parênteses: um trabalho curioso a fazer seria uma monografia dos erros dos cientistas.

Diz o Sr. Burlet ter observado seis casos de loucura aguda produzida pelo Espiritismo. Mas como é pouco para uma população de 300.000 almas, das quais pelo menos a décima parte é espírita, tem ele o cuidado de acrescentar “que se contariam por milhares se, nas outras partes da França, os casos de loucura causados pela doutrina dos médiuns fossem tão frequentes quanto no Departamento que habitamos, e não há razão para que assim não seja.”

Como se vê, vai-se muito longe com o sistema de suposições. Pois bem! vamos mais longe que ele, e diremos, não por hipótese, mas por afirmação, que, num tempo dado, só se encontrarão loucos entre os espíritas. Efetivamente, a loucura é uma das enfermidades da espécie humana. Mil causas acidentais podem produzi-la e a prova é que havia loucos antes que se cogitasse de Espiritismo, e nem todos os loucos são espíritas. O Sr. Burlet há de convir conosco sobre este ponto. Em todos os tempos houve loucos e os haverá sempre. Assim, se todos os habitantes de Lyon fossem espíritas, só se encontrariam loucos entre os espíritas, absolutamente como numa região inteiramente católica só haverá loucos entre os católicos. Observando a marcha da doutrina de alguns anos para cá, poderíamos, até certo ponto, prever o tempo necessário para isto. Mas não falemos senão do presente.

Os loucos falam do que os preocupa. É bem certo que aquele que jamais tivesse ouvido falar de Espiritismo, dele não falaria, ao passo que, em caso contrário, dele falará como falaria de religião, de amor, etc. Seja qual for a causa da loucura, o número de loucos falando de Espíritos aumentará naturalmente com o número de adeptos. A questão é saber se o Espiritismo é uma causa eficiente de loucura. O Sr. Burlet o afirma do alto de sua autoridade de interno, dizendo que “esta influência é hoje bem demonstrada pela Ciência.” Daí, exaltado, faz apelo aos rigores da autoridade, como se uma autoridade qualquer pudesse impedir o curso de uma ideia, e sem pensar que as ideias somente são propagadas sob o império da perseguição. Toma sua opinião e a de alguns homens que pensam como ele por decretos da Ciência? Parece ignorar que o Espiritismo conta em suas fileiras grande número de médicos distintos, que muitos grupos e sociedades são presididos por médicos que, também eles, são homens de ciência, e que chegam a conclusões inteiramente contrárias às suas. Quem, pois, tem razão? ele ou os outros? Neste conflito entre a afirmação e a negação, quem dará a última palavra? O tempo, a opinião, a consciência da maioria e a própria Ciência que se renderá à evidência, como já o fez em outras circunstâncias.

Diremos ao Sr. Burlet: É contra os mais elementares preceitos da lógica deduzir uma consequência geral de alguns fatos isolados, a que outros fatos podem dar um desmentido. Para apoiar vossa tese, seria preciso um outro trabalho, diferente do que fizestes. Dissestes haver observado seis casos; creio em vossa palavra. Mas, que é que isto prova? Tivésseis observado o dobro ou o triplo e não provaríeis mais, considerando-se que o total de loucos não ultrapassou a média. Suponhamos a média de 1000, para nos servirmos de um número redondo. Sendo sempre as mesmas as causas habituais da loucura, se o Espiritismo a pode provocar, é uma causa a mais a juntar às outras e que deve aumentar a cifra da média. Se, desde a introdução das ideias espíritas, de 1000 essa média tivesse alcançado 1200, por exemplo, e a diferença fosse precisamente a dos casos de loucura espírita, a questão mudaria de figura. Mas enquanto não for provado que, sob a influência do Espiritismo, a média dos alienados aumentou, a amostragem de alguns casos isolados nada prova, a não ser a intenção de lançar descrédito sobre as ideias espíritas e de intimidar a opinião.

No estado atual das coisas, resta mesmo conhecer o valor dos casos isolados que se põem à frente, e saber se todo alienado que fala dos Espíritos deve sua loucura ao Espiritismo; mas, para isso, seria necessário um juiz imparcial e desinteressado. Suponhamos que o Sr. Burlet fique louco, o que lhe pode acontecer, como a qualquer outro; quem sabe? antes mesmo que a um outro, talvez. Haveria algo de admirável que, preocupado com a ideia que combateu, dela falasse em sua demência? Deveria daí concluir-se que foi a crença nos Espíritos que o enlouqueceu? Poderíamos citar vários casos, dos quais faz-se muito ruído e nos quais ficou provado que os indivíduos se tinham ocupado pouco ou nada com o Espiritismo, ou tinham tido ataques de loucura bem característicos muito anteriores. A isto devem juntar-se os casos de obsessão e subjugação, que se confundem com a loucura e são tratados como tal, com grande prejuízo da saúde das pessoas afetadas, como explicamos em nossos artigos sobre Morzine. À primeira vista, são os únicos que poderiam ser atribuídos ao Espiritismo, não obstante esteja provado que se encontram em grande número de indivíduos que a ele são os mais estranhos e que, pela ignorância da causa, são tratados erroneamente.


3. — É realmente curioso ver certos adversários que não creem nos Espíritos nem em suas manifestações, pretendendo seja o Espiritismo uma causa de loucura. Se os Espíritos não existissem ou se não podem comunicar-se com os homens, todas essas crenças são quimeras, que nada têm de real. Perguntamos, então, como pode o nada produzir alguma coisa? É a ideia, dirão eles; esta ideia é falsa. Ora, todo homem que professa uma ideia falsa desarrazoa. Que ideia é esta tão funesta à razão? Ei-la: Temos uma alma que vive depois da morte do corpo. Esta alma conserva suas afeições da vida terrestre e pode comunicar-se com os vivos. Segundo eles, é mais salutar acreditar no nada depois da morte; ou, então – o que dá no mesmo – que a alma, perdendo sua individualidade, se confunde no todo universal, como as gotas de água no oceano. De fato, com esta última ideia não há mais necessidade de nos inquietarmos com a sorte do próximo e que só temos que pensar em nós, bem beber, bem comer nesta vida, tudo em proveito do egoísmo. Se a crença contrária é uma causa de loucura, por que há tantos loucos entre gente que em nada crê? Direis que esta causa não é a única. De acordo. Mas, então, por que queríeis que essas causas não pudessem ferir um espírita como a qualquer outro? E por que pretendíeis responsabilizar o Espiritismo por uma febre alta ou uma insolação? Instigais a autoridade para combater as ideias espíritas porque, em vossa opinião, elas perturbam o cérebro. Mas por que também não exigis a vigilância da autoridade contra as outras causas? Na vossa solicitude pela razão humana, da qual vos imaginais o modelo, fizestes a relação dos inumeráveis casos de loucura produzidos pelo desespero do amor? Por que não incitais a autoridade para proscrever o sentimento amoroso? Está comprovado que todas as revoluções são marcadas por uma notável recrudescência nas afecções mentais. Eis aí uma causa eficiente bem manifesta, pois aumenta a cifra da média. Por que não aconselhais o governo a interditar as revoluções como coisa prejudicial? Já que o Sr. Burlet fez o relato enorme de seis casos de loucura dita espírita, numa população de 300.000 almas, aconselhamos os médicos espíritas a fazerem uso de todos os casos de loucura, de epilepsia e outras afecções causadas pelo temor do diabo, o terrível quadro das torturas eternas do inferno e o ascetismo das reclusões monásticas.

Longe de admitir o Espiritismo como causa do aumento da loucura, dizemos que é causa atenuante, que deve diminuir o número dos casos produzidos pelas causas ordinárias. Com efeito, entre estas causas, é preciso colocar em primeira linha os pesares de toda natureza, as decepções, as afeições contrariadas, os revezes da fortuna, as ambições não concretizadas. O efeito destas causas está na razão da impressionabilidade do indivíduo. Se tivéssemos um meio de atenuar essa impressionabilidade, este seria, incontestavelmente, o melhor preservativo. Pois bem! este meio está no Espiritismo, que amortece o contragolpe moral, que faz suportar com resignação as vicissitudes da vida. Um que se teria suicidado por um revés, haure na crença espírita uma força moral que o leva a suportar o mal com paciência; não só não se matará, mas, em presença da .maior adversidade, conservará fria a razão, porque tem uma fé inalterável no futuro. Dar-lhes-eis essa calma com a perspectiva do nada? Não, pois ele não entrevê nenhuma compensação e, se não tiver o que comer, poderá comer-vos. A fome é terrível conselheira para quem acredita que tudo se acaba com a vida. Pois bem! o Espiritismo faz suportar até a fome, porque faz ver, compreender e esperar a vida que se segue à morte do corpo. Eis a sua loucura.

A maneira pela qual o verdadeiro espírita encara as coisas deste mundo e do outro, leva-o a dominar em si as mais violentas paixões, mesmo a cólera e a vingança. Depois do artigo injurioso da Gazette de Lyon, que relembramos mais acima, um grupo de cerca de uma dúzia de operários nos disse: “Se não fôssemos espíritas iríamos dar uma surra no autor, para lhe ensinar a viver e, se estivéssemos em revolução, incendiaríamos as dependências de seu jornal. Mas somos espíritas; nós o lastimamos e pedimos a Deus que o perdoe.” Que dizeis desta loucura, Sr. Burlet? Em caso semelhante, o que teríeis preferido: tratar com loucos dessa espécie ou com homens que nada temem? Imagináveis que hoje há mais de vinte mil deles em Lyon? Pretendeis servir aos interesses da Humanidade e não compreendeis os vossos! Pedi a Deus para que um dia não tenhais de lamentar não sejam todos os homens espíritas. É para isto que vós e os vossos trabalhais com todas as forças. Semeando a incredulidade, minais os fundamentos da ordem social; estimulais a anarquia, as reações sangrentas. Nós trabalhamos para dar a fé aos que em nada creem; para espalhar uma crença que os torna melhores uns para os outros, que lhes ensina a perdoar aos inimigos, a se olharem como irmãos, sem distinção de raça, casta, seita, cor, opinião política ou religiosa; numa palavra, uma crença que faz nascer o verdadeiro sentimento de caridade, de fraternidade e deveres sociais. Perguntai a todos os chefes militares que têm subordinados espíritas sob suas ordens, quais os que são conduzidos com mais facilidade, que melhor observam a disciplina sem emprego do rigor. Perguntai aos magistrados, aos agentes da autoridade que têm subalternos espíritas nas camadas inferiores da sociedade, quais aqueles onde há mais ordem e tranquilidade; sobre os quais a lei tem menos a castigar; onde há menos tumulto a apaziguar e desordens a reprimir?

Numa cidade do sul, dizia-nos um comissário de polícia: “Desde que o Espiritismo se espalhou em minha circunscrição, tenho dez vezes menos ocorrências do que antes.” Perguntai, enfim, aos médicos espíritas quais os doentes em que encontram menos afecções causadas pelos excessos de todo gênero? Penso ser esta uma estatística um pouco mais concludente que os vossos seis casos de alienação mental. Se tais resultados são uma loucura, tenho a glória de propagá-la. Onde foram colhidos tais resultados? Nos livros que alguns queriam lançar ao fogo; nos grupos que recomendais aos operários que fujam. O que é que se vê nesses grupos, que representais como o túmulo da razão? Homens, mulheres, crianças que ouvem com recolhimento uma doce e consoladora moral, em vez de ir ao cabaré perder dinheiro e saúde ou fazer algazarra na praça pública; que de lá saem com amor aos semelhantes no coração, em vez do ódio e da vingança.


4. — Eis uma singular confissão feita pelo autor do artigo precitado: “Vítimas da alucinação que os domina, admitida a premissa, raciocinam a seguir com uma lógica irrepreensível, que não faz senão fortalecê-los em sua aberração.” Singular loucura, na verdade, essa que raciocina com uma lógica irrepreensível! Ora, qual é essa premissa? Nós o dissemos há pouco: A alma sobrevive ao corpo, conserva sua individualidade e suas afeições e pode comunicar-se com os vivos. Quem pode provar a verdade de uma premissa, senão a lógica irrepreensível das deduções? Quem diz irrepreensível, diz inatacável, irrefutável. Assim, se as deduções de uma premissa não inatacáveis, é que satisfazem a tudo, que nada se lhe pode opor. Se, pois, essas deduções são verdadeiras, é que a premissa é verdadeira, pois a verdade não pode ter por princípio o erro. De um princípio falso, sem dúvida, podemos deduzir consequências aparentemente lógicas, mas será uma lógica aparente, isto é, sofismas, e não uma lógica irrepreensível, pois deixará sempre uma porta aberta à refutação. A verdadeira lógica é a que satisfaz plenamente à razão; não pode ser contestada. A falsa lógica não passa de falso raciocínio, sempre contestável. O que caracteriza as deduções de nossa premissa é, em primeiro lugar, o serem baseadas na observação dos fatos; em segundo lugar, por explicarem de maneira racional o que, sem isto, seria inexplicável. Substituí a nossa premissa pela negação e vos chocareis a cada passo contra dificuldades insolúveis. A teoria espírita, dizemos nós, é baseada em fatos, mas sobre milhares de fatos que se repetem todos os dias e que são observados por milhões de pessoas; a vossa, sobre meia dúzia, observados por vós. Eis uma premissa da qual cada um pode tirar a conclusão.



[1] [Não confundir esse Sr. Sanson (da Presse) com J. Sanson, que foi membro honorário da Sociedade Espírita de Paris.]


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