O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano III — Novembro de 1860.

(Idioma francês)

Boletim

DA SOCIEDADE PARISIENSE DE ESTUDOS ESPÍRITAS.

Sexta-feira, 5 de outubro de 1860. – (Sessão particular.)

Reunião da comissão.

Leitura da ata e dos trabalhos da sessão de 24 de agosto.

Com o parecer da comissão, que tomou conhecimento da carta de pedido, e após a leitura da ata, a Sociedade admite como sócio-livre o Sr. B…, negociante em Paris.  † 


Comunicações diversas: 1º O Sr. Allan Kardec relata o resultado da viagem que acaba de fazer no interesse do Espiritismo e se congratula pela cordialidade da acolhida que recebeu por toda parte, principalmente em Sens,  †  Mâcon,  †  Lyon  †  e Saint-Étienne.  †  Em todos os locais onde se deteve pôde constatar os progressos consideráveis da doutrina; mas o que, sobretudo, é digno de nota, é que em parte alguma viu fazerem dela uma distração. Por toda parte se ocupam do Espiritismo de modo sério e lhes compreendem o alcance e as consequências futuras. É possível que ainda haja muitos oponentes, dos quais os mais obstinados são os interesseiros, mas os trocistas diminuem sensivelmente. Vendo que seus sarcasmos não atraem os brincalhões para o seu lado, e que estas mais favorecem do que entravam o progresso das crenças novas, começam a compreender que nada ganham e desperdiçam o espírito em pura perda, razão por que se calam. Uma expressão muito característica aparece, por toda parte, na ordem do dia: O Espiritismo está no ar, por si só ela descreve bem o estado das coisas. Mas é principalmente em Lyon que os resultados são mais notáveis. Ali os espíritas são numerosos em todas as classes e, na classe operária, eles se contam por centenas. A Doutrina Espírita tem exercido, entre os operários, a mais salutar influência do ponto de vista da ordem, da moral e das ideias religiosas. Em resumo, a propagação do Espiritismo marcha com a mais encorajadora rapidez.

O Sr. Allan Kardec lê o discurso pronunciado pelo Sr. Guillaume, no banquete que os espíritas lioneses lhe ofereceram, assim como a resposta que lhe deu.

Reconhecida pelos testemunhos de simpatia que os confrades de Lyon lhe deram na ocasião, a Sociedade lhes vota uma moção de agradecimento, cujo projeto foi submetido à Comissão e por ela emendado. Esta moção será transmitida por intermédio do presidente.

O Sr. Allan Kardec viu em Saint-Etieene o Sr. R… e dele ouviu a exposição do sistema que lhe foi ditado, por meio do que ele chama escrita inconsciente. Mais tarde esse sistema será objeto de um estudo especial.

Além disso, dá conta de um caso muito curioso de obsessão física de uma pessoa de Lyon; de um caso de mediunidade visual, do qual foi testemunha, e de um fenômeno de transfiguração ocorrido nos arredores de Saint-Étienne, com uma jovem que, em certos momentos, tomava a aparência completa de seu irmão, morto alguns anos antes.

2º Relato de um notável caso de identidade espírita ocorrido num navio da marinha imperial, ancorado nos mares da China. O fato é relatado por um cirurgião da frota, presente à sessão. Todos no navio, desde os marinheiros até o estado-maior, se, ocupavam de evocações; porém, não conhecendo o meio de obter comunicações escritas, se serviam da tiptologia alfabética. Alguém teve a ideia de evocar um tenente, falecido há dois anos; entre outras particularidades, disse ele: “Peço insistentemente que paguem ao capitão a quantia de… (ele designa a soma), que eu lhe devo, e que lamento não ter podido fazê-lo antes de morrer.” Ninguém conhecia tal circunstância; o próprio capitão se havia esquecido, mas, verificando suas contas, encontrou menção da dívida do tenente, cuja cifra, indicada por seu Espírito, era perfeitamente exata.

3º O Sr. de Grand-Boulogne lê uma encantadora poesia, por ele dirigida ao seu Espírito familiar.


Estudos: 1º Perguntas endereçadas a São Luís sobre sua aparição a um médium vidente de Lyon, em presença do Sr. Allan Kardec. Ele responde: “Sim, era eu mesmo; era dever de minha missão não abandonar o diretor da sociedade que patrocino.” – Outras perguntas sobre a impressão física produzida em certos médiuns escreventes pelos bons ou maus Espíritos.

2º Evocação do Sr. Ch. de P…, que encontraram afogado, cuja morte foi atribuída ao suicídio. Ele desmente tal opinião e narra as causas acidentais que lhe ocasionaram a morte.

3º- Ditado espontâneo, assinado por Lamennais, recebido pelo Sr. D…


SEXTA-FEIRA, 12 DE OUTUBRO DE 1860.
(Sessão Geral.)

Reunião da comissão.

Presidência do Sr. Jobard, de Bruxelas,  †  presidente honorário.

Leitura da ata e dos trabalhos da sessão de 5 de outubro.


Comunicações diversas: 1º Leitura de várias comunicações obtidas pela Sra. Schm…: Os órfãos, assinada por Jules Morin. Outras, assinadas por Alfred de Musset, pela rainha de Oude e por Nicolas.

2º Leitura de um ditado espontâneo assinado por São Luís, recebido pelo Sr. Darcol, contendo diversos conselhos aos espíritas.

3º Carta dirigida ao Sr. Allan Kardec pelo Sr. J…, da Terra-Negra,  †  sobre a penosa impressão que lhe produziu a exposição do sistema do Sr. R…


Estudos: 1º Evocação de Saul, rei dos judeus. Declara que não é ele quem se comunica com a Srta. B… O Espírito que se comunica com esse nome tinha ensinado no círculo dessa senhora um sistema particular, cujos principais pontos são estes: 1º Os Espíritos são tanto mais esclarecidos quanto mais antiga tenha sido sua última existência terrena, de onde se conclui, por exemplo, que São Luís deve ser menos adiantado que ele, porque morreu há menos tempo; 2º Os Espíritos só se encarnam na Terra, sendo exatamente três o número dessas encarnações, nem mais, nem menos, o que basta para os levar do grau mais baixo ao mais elevado.

Tendo o Sr. Allan Kardec combatido esta teoria, como irracional e desmentida pelos fatos, o Espírito empenhou-se em fazê-lo mudar de ideia. Evocado, não pôde sustentar o seu sistema, mas não se dá por vencido e pede para ser ouvido numa sessão íntima, por seu médium habitual.


Nota. – Realizada a sessão alguns dias depois, o Espírito persistiu em dizer-se Saul, rei dos judeus. Mas, pressionado pelas perguntas, deu provas da mais absoluta ignorância, dizendo, por exemplo, que a encarnação só ocorre na Terra, porque esta é o único globo sólido; segundo ele, não sendo os outros planetas senão globos fluídicos, não podiam servir de habitação a seres corpóreos. Quando se lhe objetou o fenômeno dos eclipses do Sol, ele asseverou que jamais o Sol foi eclipsado por Mercúrio e Vênus, no que, aliás, nem sempre os astrônomos tinham estado de acordo.

O fato prova, mais uma vez, que os Espíritos estão longe de ter a ciência infusa n e quanto é preciso se pôr em guarda os sistemas que, por amor-próprio, alguns procuram impor, através de algumas belas máximas de moral. Este, apesar da jactância, revelou sua verdadeira intenção com a ridícula teoria dos corpos planetários e provou que, em vida, devia ser menos instruído que o mais atrasado estudante, o que não é uma garantia em favor de seu progresso. Quando esses Espíritos encontram ouvintes que acolhem suas palavras com uma confiança demasiado cega, eles os aproveitam; serão, porém, menos encontrados à medida que nos penetrarmos desta verdade: é preciso submeter todas as comunicações ao controle severo da lógica e da razão. Quando esses Espíritos pseudo-sábios perceberem que ninguém se deixará enganar pelos nomes respeitáveis com que se adornam, e que não podem impor suas utopias, compreenderão que perdem o tempo e se calarão.


2º Evocação do Espírito que se comunica ao Sr. R… e também lhe ditou um sistema completo. Esse estudo será retomado posteriormente.

3º Ditado espontâneo obtido pelo Sr. D… sobre a ciência infusa, assinado por São Luís. Essa comunicação parece ter sido provocada pelos assuntos de que se ocuparam durante a sessão.

4º Desenho obtido pela Srta. J… e assinado por Ary Schoeffer.  † 

5º Evocação de Nicolas pela Srta. J… Como de hábito, manifesta-se pela violência. “Pedir-me calma – diz – é pedir que eu não seja eu. Como vedes, ainda queimo; é que o sopro da batalha subiu até mim.”

Interrogado quanto à razão por que se mostrou tão calmo com a Sra. Sch…, responde: Eu tinha tomado um intérprete para não prejudicar esta frágil criatura; pude ter belos e bons pensamentos, mas não pude escrevê-los eu mesmo.

Um outro Espírito se comunica espontaneamente através da Srta. J…; por sua extrema suavidade, por sua escrita bem-posta, correta e quase moldada, que contrasta de maneira tão notável com a escrita entrecortada, angulosa e impaciente de N…, a médium crê reconhecer João-Batista, que várias vezes assim se manifestou. Ele fala da eficácia da prece e lembra as profecias do Apocalipse, que hoje encontram sua aplicação.


SEXTA-FEIRA, 19 DE OUTUBRO DE 1860.
(Sessão Particular.)

Reunião da comissão.

Leitura da ata e dos trabalhos da última sessão.

Por indicação da comissão, e depois de lida a ata, são admitidos, como sócios-livres, o Sr. G…, negociante em Paris, e o Sr. D…, empregado nos Correios.


Comunicações diversas: 1º Leitura de uma comunicação recebida pela Sra. Sch…, de seu irmão. É extraordinária pela elevação dos pensamentos, provando a afeição que os Espíritos conservam por aqueles que amaram na Terra.

2º A Sra. Desl… lê a evocação de uma antiga empregada de sua família, já falecida. Essa evocação, na qual o Espírito prova a sua afeição e os seus bons sentimentos, oferece uma notável particularidade na forma da linguagem, que é, em todos os pontos, semelhante à da gente simples do campo, havendo o Espírito conservado até mesmo as expressões que lhe eram familiares.

3º Caso de identidade, relativo ao Espírito do Sr. Charles de P…, evocado na sessão de 5 de outubro. A pessoa com quem já se havia comunicado em Bordeaux,  †  e que o tinha evocado novamente nos primeiros dias deste mês, por ele soube que o chamaram na Sociedade, onde tinha confirmado o que dissera a respeito da causa acidental de sua morte. Pouco depois essa pessoa recebeu a carta do Sr. Allan Kardec, transmitindo detalhes da evocação feita na Sociedade.

4º Relato de diversos casos de aparições vaporosas e tangíveis e de transporte de objetos materiais, ocorridos com o Sr. de St.-G…, presente à sessão, bem como a uma de suas parentas. Esses casos serão objeto de exame ulterior.


Estudos: 1º Evocação do Espírito que se manifestou visivelmente ao Sr. de St.-G… Ele dá algumas explicações, mas declara que prefere comunicar-se por seu médium habitual.

2º Evocação de um Espírito que toma o nome de Baltazar e se revelou espontaneamente à Srta. H…, mostrando disposições gastronômicas. Essa evocação oferece um grande interesse do ponto de vista do estudo dos Espíritos não desmaterializados, e que conservam os instintos da vida terrena. [v. Balthazar, o Espírito gastrônomo.]

Três ditados espontâneos são obtidos: o primeiro pelo Sr. Didier Filho, sobre o Cristianismo, assinado por Lamennais; o segundo pela Sra. Costel, sobre os Espíritos materiais, assinado por Delphine de Girardin; o terceiro pela Srta. Huet, a parábola Beijo da paz, assinada por Channing.



[1] N. do T.: Ciência que se supõe vinda de Deus por inspiração.


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