O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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O que é o Espiritismo.

(Primeira versão.)
(Idioma francês)

Capítulo II.


NOÇÕES ELEMENTARES DE ESPIRITISMO

(Sumário)


QUALIDADES DOS MÉDIUNS.


79. — A faculdade mediúnica é uma propriedade do organismo e não depende das qualidades morais do médium; ela se desenvolve tanto nos mais dignos como nos mais indignos. O mesmo, porém, não ocorre com a preferência que os Espíritos bons dão ao médium.


80. — Os Espíritos bons se comunicam mais ou menos de boa vontade por esse ou aquele médium, segundo a simpatia que lhe votam. O que constitui a qualidade de um médium não é a facilidade com a qual ele obtém comunicações, mas a sua aptidão em só receber as boas e em não ser ludibriado pelos Espíritos levianos e enganadores.


81. — Os médiuns que mais deixam a desejar do ponto de vista moral recebem também, algumas vezes, excelentes comunicações, que não podem vir senão de Espíritos bons, o que não deve ser motivo de espanto: é muitas vezes no interesse do médium e com o fim de dar-lhe sábios conselhos. Se eles os desprezam, maior será a sua culpa, porque são eles que lavram a própria condenação. Deus, cuja bondade é infinita, não pode recusar assistência àqueles que mais necessitam dela. O virtuoso missionário que vai moralizar os criminosos não faz mais que os Espíritos bons com os médiuns imperfeitos.

Por outro lado, os Espíritos bons, querendo dar um ensino útil a todos, servem-se do instrumento que têm à mão, mas o deixam tão logo encontrem outro que lhes seja mais afim e que melhor aproveite as suas lições. Retirando-se os Espíritos bons, os inferiores, que pouco se importam com as más qualidades morais do médium, acham então o campo livre. Resulta daí que os médiuns imperfeitos, moralmente falando, os que não procuram emendar-se, cedo ou tarde são vítimas dos Espíritos maus, que, muitas vezes, os levam à ruína e às maiores desgraças, mesmo na vida terrena. Quanto à sua faculdade, tão bela no começo e que assim devia conservar-se, perverte-se pelo abandono dos Espíritos bons, acabando por desaparecer.


82. — Os médiuns de mais mérito não estão ao abrigo das mistificações dos Espíritos embusteiros; primeiro, porque não há ainda, entre nós, pessoa assaz perfeita, para não ter algum lado fraco, pelo qual dê acesso aos maus Espíritos; segundo, porque os bons Espíritos permitem mesmo, às vezes, que os maus venham, a fim de exercitarmos a nossa razão, aprendermos a distinguir a verdade do erro e ficarmos de prevenção, não aceitando cegamente e sem exame tudo quanto nos venha dos Espíritos; nunca, porém, um Espírito bom nos virá enganar; o erro, qualquer que seja o nome que o apadrinhe, vem de uma fonte má.

Essas mistificações ainda podem ser uma prova para a paciência e perseverança do espírita, médium ou não; e aqueles que desanimam, com algumas decepções, dão prova aos bons Espíritos de que não são instrumentos com que eles possam contar.


83. — Não nos deve causar admiração ver Espíritos maus obsidiarem pessoas de mérito, quando vemos na Terra homens de bem perseguidos por criaturas indignas.

É digno de nota que, depois da publicação de O Livro dos Médiuns, o número de médiuns obsidiados diminuiu muito, porque, estando prevenidos, os médiuns se tornam vigilantes e espreitam os menores indícios que podem denunciar a presença de Espíritos enganadores. A maioria dos que se mostram ainda obsidiados não fizeram o estudo prévio recomendado, ou não deram importância aos conselhos que receberam.


84. — O que constitui o médium propriamente dito é a faculdade; sob este aspecto, pode ser mais ou menos formado, mais ou menos desenvolvido. O médium seguro, aquele que pode realmente ser qualificado de bom médium, é o que aplica a sua faculdade, buscando tornar-se apto a servir de intérprete aos Espíritos bons. Pondo de lado a faculdade, o poder que tem o médium para atrair os Espíritos bons e repelir os maus está na razão de sua superioridade moral; essa superioridade é proporcional à soma das qualidades que faz o homem de bem, sendo por esses dotes que se concilia a simpatia dos bons e se adquire ascendência sobre os Espíritos maus.


85. — Pelo mesmo motivo, as imperfeições morais do médium, aproximando-o da natureza dos Espíritos maus, lhe tiram a influência necessária para os afastar de si; em vez de se impor, sofre a imposição deles. Isto se aplica não só aos médiuns, como a todas as pessoas indistintamente, visto que não há ninguém que não esteja sujeito à influência dos Espíritos. (Veja-se mais atrás os números 74 e 75.)


86. — Para impor-se ao médium, os Espíritos maus sabem explorar habilmente todas as suas fraquezas morais. Entre os nossos defeitos, o de que eles mais se aproveitam é o orgulho, sentimento que se encontra com mais predomínio na maioria dos médiuns obsidiados e, principalmente, nos fascinados. É o orgulho que os leva a se julgarem infalíveis e a repelirem todos os conselhos. Esse sentimento é, infelizmente, excitado pelos elogios de que são objeto; basta que um médium apresente faculdade um pouco transcendente, para que o busquem, o adulem, acabando eles por se acreditarem importantes e a se julgarem indispensáveis, o que constitui a sua perda.


87. — Enquanto o médium imperfeito se orgulha pelos nomes ilustres, quase sempre apócrifos, que trazem as comunicações que ele recebe e que o levam a considerar-se como intérprete privilegiado das potências celestes, o bom médium nunca se crê bastante digno de tal favor; ele tem sempre uma salutar desconfiança do merecimento do que recebe e não se fia no seu próprio juízo; não passando de simples instrumento passivo, compreende que o bom resultado que obtém não lhe confere mérito pessoal, como não lhe cabe qualquer responsabilidade pelo que recebe de mau, e que seria ridículo crer na identidade absoluta dos Espíritos que por ele se manifestam. Deixa que terceiros, desinteressados, julguem a questão, sem que o seu amor-próprio se ofenda por qualquer decisão desfavorável, do mesmo modo que um ator não se pode dar por ofendido com as censuras feitas à peça de que é intérprete. O caráter distintivo do bom médium é a simplicidade e a modéstia; julga-se feliz com a faculdade que possui, não por vaidade, mas por lhe ser um meio de tornar-se útil, o que faz de boa vontade quando se lhe oferece ocasião; ele jamais se ofende, mesmo quando preterido por outros medianeiros.

Como os médiuns não passam de intermediários, de intérpretes dos Espíritos, cabe ao evocador, e mesmo ao simples observador, apreciar o mérito do instrumento.


88. — A faculdade mediúnica é um dom de Deus, como todas as outras faculdades, que se pode empregar tanto para o bem quanto para o mal, e da qual se pode abusar. Tem por objetivo pôr-nos em relação direta com as almas daqueles que viveram, a fim de recebermos ensinamentos e sermos iniciados na vida futura. Assim como a vista nos põe em relação com o mundo visível, a mediunidade nos põe em relação com o mundo invisível. Aquele que dela se utiliza para o seu adiantamento e o de seus semelhantes, desempenha uma verdadeira missão e será recompensado. O que abusa da sua faculdade e a emprega em coisas fúteis ou para satisfazer interesses materiais, desvia-a do seu fim providencial e, mais cedo ou mais tarde, será punido, como todo homem que faça mau uso de uma faculdade qualquer.


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