O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Instruções práticas.

(Idioma francês)

Capítulo VII.


INFLUÊNCIA DO MEIO SOBRE AS MANIFESTAÇÕES.

Seria grave erro acreditar que é preciso ser médium para atrair os seres do mundo invisível. O espaço está povoado deles; temo-los incessantemente à nossa volta. Eles nos veem, nos observam, misturam-se às nossas reuniões, seguem-nos ou fogem de nós conforme os atraímos ou os repelimos. A faculdade mediúnica nenhum papel desempenha nisto: não passa de um meio de comunicação. Segundo o que vimos quanto às causas de simpatia ou de antipatia dos Espíritos, facilmente se compreenderá que devemos estar cercados daqueles que têm afinidade para com o nosso próprio Espírito, conforme seja ele elevado ou degradado.

Considerando agora o estado moral do nosso globo, compreenderemos qual o gênero de Espíritos que deve dominar entre os Espíritos errantes. Se tomarmos cada povo em particular, poderemos julgar, pelo caráter dominante dos habitantes, por suas preocupações, seus sentimentos mais ou menos morais e humanitários, as ordens de Espíritos que, de preferência, ali iremos encontrar. Os Espíritos outra coisa não são senão nossas almas desprendidas de nossos corpos, e que levam consigo os reflexos das nossas qualidades e das nossas imperfeições. Eles são bons ou maus, conforme o que nós fomos, exceto os que, tendo deixado suas impurezas no fundo do alambique terrestre, se elevaram acima da turba dos Espíritos imperfeitos. O mundo espírita não é, pois, em realidade, senão um extrato quintessenciado do mundo corporal, dele conservando os bons e os maus odores.

Partindo deste princípio, suponhamos uma reunião de homens levianos, inconsequentes, ocupados com seus prazeres: quais serão os Espíritos que nela se encontrarão de preferência? Certamente não serão Espíritos Superiores, do mesmo modo que os nossos cientistas e os nossos filósofos não iriam ali passar o tempo. Assim, todas as vezes que os homens se reúnem, eles têm consigo uma assembleia oculta que simpatiza com suas qualidades ou com seus defeitos, e isto fazendo abstração de todo pensamento de evocação. Admitamos agora que eles tenham a possibilidade de se entreter com os seres do mundo invisível por meio de um intérprete, isto é, de um médium. Quais os Espíritos que lhes responderão ao apelo? Evidentemente os que estão ali prontos, e que só esperam ocasião para se comunicarem. Se, numa assembleia fútil, evocarmos um Espírito Superior, ele poderá comparecer, e mesmo tornar audíveis algumas palavras ponderadas, como um bom pastor vem ao meio de suas ovelhas desgarradas. Mas, desde que não se veja nem compreendido, nem ouvido, ir-se-á embora, como vós mesmos o faríeis em lugar dele, deixando aos outros maior liberdade de ação.

Nem sempre é suficiente que uma reunião seja séria para que se obtenham comunicações de ordem elevada. Há pessoas que jamais sorriem e cujo coração nem por isso é mais puro. Ora, é sobretudo o coração que atrai os bons Espíritos. Seja qual for a condição moral, nenhuma exclui as comunicações espíritas; todavia, se alguém se encontra em más condições, conversa com seus semelhantes, que não se pejam em nos enganar, e, muitas vezes, excitam os nossos preconceitos.

Pelo fato de não pertencer a uma ordem superior, nem sempre um Espírito é necessariamente mau; muitas vezes é apenas leviano. Se vos divertis com suas facécias, ele se entregará a elas com todo o prazer e vos excederá em ditos mordazes que raramente serão despropositados; e, sob aparência jovial, muitas vezes dão lições picantes. São os palhaços do mundo espírita, como os Espíritos Superiores são os sábios e os filósofos desse mundo.

Por aí se vê a enorme influência do meio sobre a natureza das manifestações inteligentes. Mas essa influência não se exerce como pretendem algumas pessoas, quando não se conhecia ainda o mundo dos Espíritos como se conhece hoje, e antes que experiências mais conclusivas viessem esclarecer as dúvidas. Quando as comunicações concordam com a opinião dos assistentes, não é porque essa opinião se reflita no Espírito do médium como num espelho, e, sim, porque tendes convosco Espíritos que vos são simpáticos tanto para o bem quanto para o mal, e que exercem grande influência sobre vossa opinião. A prova disto é que, se tiverdes força para atrair outros Espíritos, diferentes dos que vos cercam, esse mesmo médium usará para convosco de uma linguagem completamente diferente e vos falará de coisas tão distantes do vosso pensamento quanto de vossas convicções.

Em resumo, as condições do meio serão tanto melhores quanto mais homogeneidade houver para o bem, quanto mais puros e elevados forem os sentimentos e quanto mais sincero for o desejo de se instruir, sem pensamento preconcebido.

Nesse meio, três elementos podem influenciar alternativamente ou simultaneamente: o conjunto dos assistentes, pelos Espíritos que eles atraem, o médium, pela natureza de seu próprio Espírito, que serve de intérprete, e a pessoa que interroga. Esta pode, sozinha, dominar todas as outras influências e, não obstante as condições desfavoráveis do ambiente, ela pode, algumas vezes, obter grandes coisas graças ao seu ascendente, se for útil o objetivo a que se propõe. Os Espíritos Superiores acorrem ao seu apelo e em seu favor; os outros se calam como alunos diante dos mestres.

A influência do meio faz compreender que quanto menos numerosos somos nas reuniões, tanto melhor estas funcionam, pois é mais fácil obter homogeneidade. As pequenas reuniões íntimas são sempre mais favoráveis às belas comunicações. Entretanto, concebe-se que, se cem pessoas reunidas estiverem suficientemente recolhidas e atentas, obterão mais resultado do que dez criaturas distraídas e barulhentas. O que é preciso haver entre os assistentes é, sobretudo, uma comunhão de pensamentos. Se esta comunhão visar ao bem, os bons Espíritos a ela virão facilmente e de bom grado. Toda circunspeção é pouca na escolha dos elementos novos introduzidos nas reuniões; há pessoas que levam a perturbação onde quer que se encontrem. Nesse caso, aqueles a quem mais devemos lamentar não são os ignorantes na matéria, nem mesmo os que não creem: a convicção só se adquire pela experiência, e há pessoas de boa-fé que desejam esclarecer-se. Aqueles, sobretudo, contra quem devemos nos precaver, são as pessoas de ideias preconcebidas, os incrédulos sistemáticos, que duvidam de tudo, mesmo da evidência; os orgulhos, que, somente eles, pretendem ter a luz infusa e querem impor sua opinião em toda parte, olhando com desdém quem quer que não pense como eles. Não vos deixeis levar pelo seu pretenso desejo de se esclarecerem. Alguns deles ficariam bem contrariados se fossem obrigados a admitir que se enganaram. Mantende-vos em guarda sobretudo contra esses discutidores insípidos, que querem sempre dizer a última palavra: os Espíritos não gostam de discussões inúteis.


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